Lily Gladstone Usa A Fama Para Conectar Origens Indígenas

Lily Gladstone usa a fama para conectar origens indígenas – 27/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Um ano depois de marcar a história do cinema ao se tornar a primeira atriz indígena a vencer o Orbe de Ouro e a ser indicada ao Oscar de melhor atriz por seu papel em “Sicário da Lua das Flores”, de Martin Scorsese, Lily Gladstone está de volta às telas, estrelando “O Rito da Dança”, da Apple TV+.

Dirigido por Erica Tremblay, o filme acompanha Jax, interpretada por Gladstone, que vive na suplente indígena seneca cayuga, no estado americano de Oklahoma, e passa a cuidar da sobrinha quando sua mana desaparece. A narrativa é sensível para a atriz, que não só tem usado sua voz para discutir os conflitos envolvendo os indígena nos Estados Unidos, uma vez que nasceu e cresceu em uma suplente, a de blackfeet, no estado de Montana.

Jax não tem um histórico criminal limpo, por culpa de pequenos furtos que comete em lojas de conveniência. Por isso, corre o risco de perder a guarda da moçoila. Ao mesmo tempo, ela sai no peugada de pistas do sumiço da mana, que parece estar relacionado à criminalidade que existe dentro da comunidade, vulnerável e isolada.

Usando uma saia preta de rendas coloridas, Gladstone, que participou do júri do Festival de Cannes, diz que se inspirou no primo para a personagem. “Ele fez escolhas questionáveis, mas necessárias, dadas a circunstâncias em que estava quando jovem”, afirma, sobre a vida que o rapaz teve antes de trabalhar no programa de revitalização de búfalos da suplente. “Existe um ponto na vida em que você vira tio ou tia, percebe que tem crianças te observando e logo pensa que precisa ter um pouco para ensinar.”

Essa é a filosofia que move a atriz, de 37 anos. Ao ser questionada sobre uma vez que foi sua mergulho entre os seneca cayugas para fazer o filme, ela se anima, imaginando crianças da comunidade assistindo ao longa e corrigindo possíveis erros seus de sotaque. “Eles estarão falando sua língua fluentemente e por escolha própria”, afirma. Hoje, a língua seneca cayuga corre o risco de sumir por ter não mais do que 20 falantes.

Gladstone diz estar muito familiarizada com as tradições que Jax ensina à sobrinha no filme. “Identificar vegetais e colher, isso tudo fez secção da minha puerícia. Costumávamos reunir ingredientes para alguns de nossos idosos”, lembra.

Foi naquela idade que ela começou a atuar no Missoula Children’s Theatre, programa itinerante de teatro infantil, e percebeu que as morais das fábulas ocidentais eram diferentes daquelas de seu povo. Depois, a dinâmica competitiva e caótica das seleções de artistas em Novidade York a desanimaram.

“Muitos papéis que fiz antes de ter uma curso no cinema eram baseados no [método do] Teatro do Oprimido, de Augusto Boal. Esse tipo de trabalho é para que as comunidades oprimidas criem histórias baseadas em suas experiências difíceis e criem um mundo imaginário, pelo qual possam lutar”, diz.

Antes da pandemia, Gladstone solidificou seu nome no cinema independente em produções uma vez que “Certas Mulheres”, em que contracena com Kristen Stewart. No entanto, com a Covid-19 e a paralisação do rodeio, ela considerou desistir da curso de atriz e se inscrever em uma vaga numa empresa que trabalha com proteção de abelhas.

Tremblay, a diretora, que tem prosápia seneca cayuga, lembra uma vez que ficou impactada quando assistiu a “Certas Mulheres” e viu Gladstone pela primeira vez. “Vi seu rosto e pensei ‘meu Deus, ela é indígena?’”, conta. “Com um olhar ou mexida de supercílio, Lily consegue relatar a história de milhares de emoções.”

Foram os olhos carregados e a sentença ambígua de meios sorrisos que renderam a Lily Gladstone a indicação ao Oscar pela dilacerante tradução de Mollie em “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese.

Sua personagem é enganada pelo marido, vivido por Leonardo DiCaprio, que está envolvido na vaga de assassinatos que assombrou a comunidade osage no século pretérito, mas não encarna o estereótipo da indígena heroica. Ela sofre e adoece, mas também é astuta e irônica —isto é, o oposto de indígenas que são incluídos nos filmes só para suportar violências.

Mesmo perdendo o Oscar para a performance de Emma Stone em “Pobres Criaturas”, 2 milénio indígenas de diferentes lugares dos Estados Unidos se reuniram para comemorar a indicação de Gladstone e a de Scott George, que fez a trilha do filme de Scorsese.

A reação é sintomática de um oeste americano que não foi justo com as populações indígenas nem na verdade, nem na ficção, onde foram limitadas a papéis em faroestes na era de ouro de Hollywood. Em 1973, Sacheen Littlefeather chegou a ser vaiada quando subiu ao palco da cerimônia para criticar a representação dos apaches feita pela indústria americana.

Se “Assassinos da Lua das Flores” exorcizou a culpa histórica dos americanos pelo genocídio dos povos originários com um heróico, “O Rito da Dança” promove um olhar quebrável sobre a complexa vida dessas populações nos dias de hoje. Jax e Rocky encontram guarida uma com a outra, um pouco generalidade de intercorrer entre mulheres indígenas, segundo a atriz. “É uma história de paixão matrilinear”, diz Gladstone. Assim uma vez que na cultura blackfoot, ela afirma, a linguagem não separa a família em categorias.

“Tias e tios são uma extensão dos pais. É um jeito de manter todos próximos e a nossa visão de mundo”, diz a atriz. Ela lembrou que a maioria das línguas indígenas não têm gênero quando se reconheceu uma vez que uma pessoa não binária, mas que também usa pronomes femininos, no início deste ano. Em sua família, todos se reuniam com exalo na moradia da bisavó —de quem ela herdou o nome— para ouvir as histórias de vida da idosa.

Gladstone precisou aprender algumas palavras em seneca cayuga para o filme, o que ela considera um esforço de atuação a ser reconhecido assim uma vez que acontece quando um artista europeu ou americano faz um filme em outro linguagem, uma vez que quando a alemã Sandra Huller foi celebrada no ano pretérito por sua atuação em gálico e inglês em “Anatomia de Uma Queda”.

Com todo o repelo entorno de seu sucesso, Gladstone não cansa de proferir em entrevistas e podcasts que o reconhecimento de indígenas pela indústria audiovisual chegou procrastinado. Para ela, é estranho e sintomático que os povos nativos, contadores de histórias originários, tenham ficado tanto tempo sem representação nas telas.

Quando ganhou o Orbe de Ouro, a atriz começou seu oração em blackfoot, língua que sua mãe insistiu para que fosse ensinada na escola da suplente. “Nessa indústria, atores indígenas costumam recitar suas falas em inglês”, disse Gladstone, diante da plateia eufórica. “Digo isso para cada gaiato indígena que tem um sonho e se vê representado nas historias contadas por nós e nas nossas próprias historias.”

Folha

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