Limpeza De Porto Alegre E Apoio A Desabrigados São Prioridades

Limpeza de Porto Alegre e apoio a desabrigados são prioridades

Brasil

A capital do Rio Grande do Sul, Porto Feliz, tem, nesta quarta-feira (22), 18.062 pessoas acolhidas em um dos 129 abrigos provisórios cadastrados, conforme levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul (Sedes/RS). Desse totalidade, 4,2 milénio são crianças e adolescentes, e há mais 2,88 milénio idosos.

Há uma semana, a inundação pelas águas do Guaíba tem minguado lentamente na capital gaúcha. Nesta quarta-feira, as medições indicavam o nível em 3,92 metros na dimensão próxima à Usina do Gasômetro. No entanto, a marca está tapume de 1 metro supra da quota de inundação no Meio Histórico da cidade, de 3m.

Nesta quarta-feira, nos trechos secos da cidade, uma força-tarefa do Departamento Municipal de Limpeza Urbana trabalha com maquinário, porquê retroescavadeiras, em 17 locais na limpeza. Desde 10 de maio até à noite desta terça-feira (20), foram retiradas 4,14 milénio toneladas de resíduos das ruas, porquê sobras de móveis, raspagem de lodo aglomerado e varrição. Em áreas inundadas, a prefeitura ainda precisa esperar que a chuva recue para dar início ao serviço de limpeza.

Porto Alegre (RS), 21/05/2024 – CHUVAS/ RS - ENCHENTE - Bairro Farrapos, em Porto Alegre, continua alagado. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 21/05/2024 – CHUVAS/ RS - ENCHENTE - Bairro Farrapos, em Porto Alegre, continua alagado. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Bairro Farrapos, em Porto Feliz, inundado – Foto: Rafa Neddermeyer/Dependência Brasil

Em entrevista exclusiva à Dependência Brasil, o secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos de Porto Feliz, Cezar Schirmer, desfila os desafios enfrentados e as prioridades da prefeitura para atender a população, reativar a economia e restituir a normalidade à cidade.

Dependência Brasil (ABr): A enchente em Porto Feliz leste ano superou a marca histórica de 1941. Havia porquê prevê-la?

Cezar Schirmer: Ninguém imaginou a intensidade dessa enxurrada, e a expectativa de que voltasse a suceder não passava pela cabeça de ninguém. A dimensão do problema é muito maior do que qualquer um poderia imaginar. Digo que é a maior catástrofe climática da história do Brasil, não só do Rio Grande do Sul. E agora, cada dia com sua agonia.

Porto Alegre (RS), 21/05/2024 – CHUVAS/ RS - ENCHENTE - Bairro Farrapos, em Porto Alegre, continua alagado. - Morador do Bairro de Farrapos, Gilson Nunes Rosa está vivendo em uma barraca. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 21/05/2024 – CHUVAS/ RS - ENCHENTE - Bairro Farrapos, em Porto Alegre, continua alagado. - Morador do Bairro de Farrapos, Gilson Nunes Rosa está vivendo em uma barraca. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Morador do Bairro de Farrapos, Gilson Nunes Rosa está vivendo em uma barraca – Foto: Rafa Neddermeyer/Dependência Brasil

ABr: Neste momento, os trabalhos da prefeitura têm quais frentes prioritárias?

Cezar Schirmer: A limpeza da cidade e o recolhimento de resíduos são uma prioridade muito importante. Também, o arrimo às pessoas, porque os abrigos, naturalmente, vão sendo desativados em estádios, em salões, etc. E, à medida que a chuva vai baixando, as pessoas vão ter que voltar para suas casas. Muito, e aqueles que não têm moradia? Esse é um momento de dificuldades e a atenção é, fundamentalmente, voltada às pessoas que não têm zero. A prefeitura também está tratando do aporte de recursos para que as pessoas que puderem e que tiverem parentes ou amigos que deem a chamada estadia solidária, mesmo que no interno do estado. O auxílio em numerário é a maneira de se amparar essas pessoas. E sabemos que o volume [de dinheiro] será muito grande.

ABr: Qual é o projecto da prefeitura para aligeirar o escoamento da enchente de Porto Feliz causada pelas fortes chuvas na região desde o término de abril?

Cezar Schirmer: No curtíssimo e no limitado prazos estamos reativando algumas bombas que foram danificadas para tirar a chuva das ruas da cidade, à medida que o rio baixa. Quando o Guaíba permanecer mais plebeu que a região alagada, jogaremos essa chuva da região alagada de volta ao Guaíba. Para isso, a gente precisa de bombas [de água].

Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – CHUVAS RS- LIMPEZA - Comerciantes retiram entulho e limpam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – CHUVAS RS- LIMPEZA - Comerciantes retiram entulho e limpam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Tratante retira entulho e limpa loja para retomar os negócios no Meio Histórico de Porto Feliz – Foto: Rafa Neddermeyer/Dependência Brasil

ABr: Uma vez que está a liberação do Meio Histórico de Porto Feliz? Nesta quarta-feira, equipes da prefeitura iniciaram o processo de lavagem, com shampoo industrial nas ruas do sítio. 

Cezar Schirmer: O Meio Histórico tem equipamentos culturais, edifícios. A dimensão tem especificidades. No sítio, em universal, no sumo, o primeiro marchar desses edifícios sofreu com a inundação. Nós estamos trabalhando no térreo desses edifícios e, eventualmente, em uma ou outra moradia. No Meio Histórico, mora muita gente e é um bairro que tem bastante significação econômica em Porto Feliz. Nossa expectativa é que até o término da semana nós possamos liberar o núcleo histórico, à medida que as águas vão baixando.

ABr: E as demais áreas alagadas de Porto Feliz?

Cezar Schirmer: Estamos trabalhando com a visão de que as águas vão diminuir na dimensão urbana, não de forma igual. Alguns lugares vão minguar mais tarde. Nós estamos trabalhando nessa limpeza, [nos bairros] Menino Deus, na Cidade Baixa, Sarandi, e próximo ao Meio Histórico, em uma pequena dimensão dele. Uma vez que a chuva já começou a descer, estamos atuando naquelas ruas que já estão livres para fazer esse trabalho de limpeza. Infelizmente, esse lodo e essa chuva têm resíduos de animais mortos, porquê ratos, e também há o mau cheiro. Queremos fazer essa limpeza rapidamente.

Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – CHUVAS RS- LIMPEZA - Comerciantes retiram entulho e limpam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – CHUVAS RS- LIMPEZA - Comerciantes retiram entulho e limpam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Comerciantes limpam lojas para retomar os negócios no Meio Histórico de Porto Feliz – Foto: Rafa Neddermeyer/Dependência Brasil

ABr: Que medidas podem ser adotadas para uma solução mais efetiva para evitar falhas do sistema antienchente em Porto Feliz?

Cezar Schirmer: As coisas não acontecem por eventualidade. Nas últimas décadas, esses rios sofreram um processo de assoreamento. Os rios que tinham uma profundidade de 7 metros, hoje estão com 4 ou 5 metros. Portanto, essa política de longo prazo começa pelo rudimentar, que é estabelecer a fundura tradicional dos rios, com o desassoreamento de rios e afluentes para proteção dessas cidades. Porto Feliz é a última cidade nessa calabouço de dificuldade, que vem desde as cidades nos vales, aquelas nas margens dos rios, depois, cidades maiores, cá na região metropolitana, e por último, Porto Feliz. E mais ao sul, na lagoa [dos Patos], há Pelotas e Rio Grande, que também estão sofrendo as consequências das enchentes. Não é uma coisa fácil. São necessárias políticas de curtíssimo, limitado, médio e longo prazos.

Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – CHUVAS RS- LIMPEZA - Comerciantes retiram entulho e limpam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – CHUVAS RS- LIMPEZA - Comerciantes retiram entulho e limpam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Meio Histórico de Porto Feliz inundado – Foto: Rafa Neddermeyer/Dependência Brasil

ABr: E o dispêndio para as adequações e reconstrução da cidade?

Cezar Schirmer: Não será qualquer milhão de reais para resolver. São alguns bilhões de reais que nenhum dos municípios, nem o estado do Rio Grande do Sul, têm condições de enfrentar esse repto sozinho. Se alguém estiver falando em valores agora, está cometendo uma temeridade, porque nós não sabemos tudo o que tem embaixo das águas. Por exemplo, Porto Feliz teve 12 escolas inteiras debaixo d’chuva, 14 postos de saúde, vários equipamentos de assistência social, porquê Cras [centros de Referência da Assistência Social] e Creas [centros de Referência Especializado de Assistência Social]. Isso, em Porto Feliz, e ainda há mais de 400 municípios que sofrem as consequências. Quem em sã consciência sabe quantos equipamentos que estavam submersos terão que ser reconstruídos, quantas casas alagadas foram destruídas? Eu duvido que alguém possa, minimamente, estabelecer um número. O que eu posso declarar é que são vários bilhões de reais.

ABr:  Uma vez que o senhor vê a atuação da Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Espeque à Reconstrução do Rio Grande do Sul, do governo federalista, sob o comando do ministro gaúcho Paulo Pimenta?

Cezar Schirmer: Uma vez que cada governo vai se solidarizar, não faço referência a isso. Quero exclusivamente realçar que situações excepcionais exigem medidas excepcionais. Não adianta nos ajudar com um tanto por 3 meses, 6 meses, que não resolve. O nosso problema é ontem, é hoje, é amanhã. Para realmente enfrentar esse problema, [os repasses] devem ser feitos pelo número de habitantes de cada município. Portanto, mandem os recursos para cada município, pois cada um sabe onde lhe aperta o sapato. As respostas têm que ser urgentes, não burocráticas, excepcionais e, simples, transparentes. O padrão tradicional não funciona e não vai funcionar. É fundamental e urgente a compreensão do momento de excepcionalidade que estamos vivendo.

ABr: E a retomada das atividades econômicas?

Cezar Schirmer: Também estamos examinando uma política de microcrédito muito mais intensa, com uma carência alongada e com um subvenção de 20%. A pessoa vai remunerar 80% do totalidade, depois de 1 ano de carência. Porque a pequena frutaria, pequena oficina, pequena loja, uma microempresa, se fecharem, possivelmente em 30 dias voltam à atividade. Por isso, nosso espírito é estimular que as pessoas voltem a ter essa atividade econômica, que lhes permita uma renda. Mas, as outras pessoas, realmente, que estão desabrigadas, flageladas, e que precisam de arrimo, de socorro do poder público e também da comunidade?

Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – CHUVAS RS- LIMPEZA - Comerciantes retiram entulho e limpam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Porto Alegre (RS), 20/05/2024 – CHUVAS RS- LIMPEZA - Comerciantes retiram entulho e limpam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Meio Histórico de Porto Feliz inundado – Foto: Rafa Neddermeyer/Dependência Brasil

ABr:  Que tipo de assistência social está sendo prestada à população afetada, sobretudo a de baixa renda?

Cezar Schirmer: O quadro é gravíssimo. São em torno 150 milénio pessoas flageladas. Alguns perderam tudo, não têm moradia e não têm nenhuma manancial de renda mais. Nós estamos trabalhando na honra das pessoas, com encaminhamento adequado às pessoas que estão flageladas e desabrigadas. Algumas áreas periféricas, porquê as ilhas de Porto Feliz, que, em universal, têm uma população de baixíssima renda, com espaços onde as pessoas vivem, e provavelmente boa secção disso foi perdido, sobretudo na zona setentrião de Porto Feliz, agora nós estamos trabalhando em uma política social relevante. Para aquelas pessoas que não puderem voltar para suas casas, porque não terão mais moradia, nós estamos estabelecendo medidas. A primeira que nós já estamos trabalhando são as casas provisórias. Outra possibilidade é um auxílio em numerário para cada família. Estamos vendo um valor entre R$ 700 e R$ 1,2 milénio para que aquelas pessoas que tenham parentes em outras cidades no interno ou que tenham amigos que possam abrigá-los, recebam esse numerário por mês, durante 6 meses, até que nós possamos ter soluções mais definitivas.  

ABr: Quais serão os próximos passos do poder público?

Cezar Schirmer: Infelizmente, acredito que o pior virá pela frente. Porque essa reconstrução, não só da vida das pessoas e de suas famílias, das moradias, passa pela economia do Rio Grande. Nós estamos estimando que a arrecadação da prefeitura será reduzida em 30%, 40%. Nos próximos meses, o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] tende a reduzir 20% ou um percentual um pouco maior. E obviamente houve um acréscimo de despesas inesperadas. Por exemplo, somente para limpar a cidade, são mais de R$ 100 milhões de uma despesa imprevista. O Orçamento [municipal] a enxurrada levou. Agora, estamos redimensionando tudo e colocando os poucos recursos que teremos primeiro naquilo que é necessário. O núcleo da prioridade são os cidadãos de Porto Feliz, aqueles que mais sofreram, os que precisam de uma ação imediata do poder público e da solidariedade dos seus semelhantes.

CHUVAS NO RS - ABRIGOS - Porto Alegre, 08/05/2024. Equipes de professores e profissionais de saúde da PUCRS e da UFRGS, com apoio de seu respectivos acadêmicos, atuam nos abrigos das suas instituições. Na foto o atendimento no Parque Esportivo da PUCRS, na avenida Ipiranga ,6690.  Foto: Cristine Rochol/PMPA
CHUVAS NO RS - ABRIGOS - Porto Alegre, 08/05/2024. Equipes de professores e profissionais de saúde da PUCRS e da UFRGS, com apoio de seu respectivos acadêmicos, atuam nos abrigos das suas instituições. Na foto o atendimento no Parque Esportivo da PUCRS, na avenida Ipiranga ,6690.  Foto: Cristine Rochol/PMPA

Equipes de professores e profissionais de saúde da PUCRS e da UFRGS, com espeque de acadêmicos, atuam nos abrigos das suas instituições – Foto: Cristine Rochol/PMPA

ABr: Neste momento, quais são as doações mais necessárias aos desabrigados?

Cezar Schirmer: Toda imposto é muito bem-vinda. Mas, fundamentalmente, são roupas e mantimentos. Agora que começamos a entrar no inverno, a temperatura está baixando no Rio Grande do Sul e as carências de roupas e cobertores aumentam. E também de mantimentos. Na região de grande produção agrícola, houve perdas de secção do arroz, em temporada de colheita, e também de soja. E a secção mais afetada no estado é produtora de hortaliças, legumes e frutas. Portanto, já há um visível desabastecimento e a consequência é a elevação dos preços dos produtos. Essas são nossas preocupações.

ABr: Muitos cidadãos perderam documentos de identificação que podem ser necessários para, por exemplo, o Saque Calamidade do FGTS. O que está sendo feito para atender a essa demanda?

Cezar Schirmer: Montamos uma equipe para responder a essa questão e outras tantas que chegam a todo momento para tratamento e uma solução. É simples que a resposta, que em primeiro momento pode ter sido um pouco atabalhoada, rapidamente foi organizada. A prefeitura e o voluntariado, o governo do estado, todas as prefeituras, os poderes públicos e os cidadãos, os empresários, se mobilizaram no sentido de resolver mais rapidamente qualquer problema que se apresente à nossa frente.

ABr: Surpreendeu a vaga de solidariedade ao povo gaúcho?

Cezar Schirmer: As primeiras palavras que me vêm à mente são reconhecimento e gratidão pela solidariedade. O brasílio é maravilhoso. Temos a consciência do volume de mantimentos, de ações de governos de outros estados, de outros municípios, sobretudo de Santa Catarina, que adotaram os municípios vizinhos do Rio Grande do Sul que perderam tudo. Essa solidariedade é fantástica. Somos muito gratos aos brasileiros. É emocionante a solidariedade espontânea de milhões de brasileiros preocupados com o Rio Grande do Sul. E a mensagem que eu quero passar ao Brasil inteiro é não esqueçam de nós, continuem nos ajudando, porque nós, gaúchos, teremos longos e difíceis dias, meses e até anos para superar esse momento tão doloroso que todos estamos vivendo.

Fonte EBC

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