Mais uma vez, a congruência pontua a vida do cantor Ney Matogrosso, contada no livro Ney Matogrosso – Vira-lata de raça – memórias. A publicação surgiu em um momento em que o cantor pensava em reunir todas as matérias publicadas sobre ele, para ver se era harmónico em seu pensamento. “Foi mal começou a história do livro”, contou em entrevista à Filial Brasil.
Embora seja um livro de memórias de passagens marcantes da sua trajetória pessoal e profissional, Ney revelou que, durante o trabalho com o organizador do livro, o jornalista Ramon Nunes Mello, não teve a questão de reviver o pretérito, porque tudo já está muito distante no tempo.
“Portanto, não tem, assim, movimento emocional. Não existe isso. É uma coisa que sai conversando, e eu dou totalidade liberdade de perguntar o que quiser. Não tem problema”, afirmou, explicando que foi fácil trabalhar com Ramon, de quem é camarada desde 2011. “Ele me conhecia”.
Clube de Leitura
Todas essas histórias serão divididas com o público que estará presente no segundo Clube de Leitura do Meio Cultural Banco do Brasil em 2025, no dia 9. Os encontros organizados pelo CCBB, sempre na segunda quarta-feira de cada mês, são realizados no Salão de Leitura da Livraria Banco do Brasil, no quinto marchar do CCBB-Rio. Com ingressão gratuita, a retirada dos ingressos é na bilheteria do CCBB ou pelo site.
“Vamos lá sentar e conversar. Não sei nem qual é o formato da coisa. Sei que a gente vai sentar em uma mesa e iniciar a conversar sobre o livro. Quer manifestar, o ponto é o livro, mas é de uma maneira mais universal, não é restrito a ele”, explicou Ney, disposto a conversar sobre qualquer ponto da sua trajetória.
Para o artista, a elaboração do Ney Matogrosso – Vira-lata de raça – memórias, foi muito dissemelhante da que viveu com o primeiro livro publicado sobre ele. O Um rosto meio estranho, escrito pela jornalista Denise Pires Vaz, causou um perceptível impacto nele.
“Nunca tinha falado sobre a minha vida tão claramente para um livro. Um rosto meio estranho, da escritora chamada Denise, uma jornalista na verdade, me deixou meio inseguro de estar expondo tanta coisa da minha vida, mas eu também não achava outra forma de falar que não fosse a verdade. Eu fiquei meio inseguro. Já com o Ramon, não. Não tive instabilidade em nenhum momento. No primeiro, eu não sabia qual seria a reação àquilo. Nesse, eu já estava mais firme, mais maduro da cabeça”, comparou.
Segmento dessa sensação de mais conforto vem da amizade que ele e Ramon têm há 14 anos. “O indumentária de ser uma pessoa com que eu tinha proximidade mudou tudo. A primeira, não. Eu não conhecia a moça. Ela, um dia, chegou para mim e disse que queria fazer um livro. Eu fiz uma entrevista para uma revista com ela e, logo em seguida, pretérito um tempo, ela veio com essa história de livro. Eu falei: ‘Não quero livro. Não quero falar da minha vida’, mas ela foi persistente. Nós tivemos várias brigas durante o trajectória todo do livro”, comentou, concordando que a insistência de Denise foi meio Ney, em ser firme no que quer fazer. “Sim, e aí fui concedendo para ela, mas irritado. Ela queria ir muito”, disse sorrindo.
Ramon destacou que ele não se coloca uma vez que responsável e, sim, organizador do livro, com um trabalho de escuta de quem é o personagem da publicação. “A minha assinatura não está na toga, está na secção interna do livro. É uma vez que se o Ney tivesse contando aquela história, em um livro de memórias. Não me proponho a fazer uma biografia. Não é uma biografia. É um livro de memórias, com fragmentos de vida importantes para o Ney”, explicou.
Saída de lar
Entre as memórias que estão no livro, estão as divergências que tinha com o pai, que tentou impor sua mando e moldar o seu comportamento. Foi, por não concordar com isso, que saiu de lar.
“Sabe o que eu acho disso? Dessa história minha de ter saído de lar aos 17 anos? Foi a melhor coisa que eu fiz na vida. Eu ousaria manifestar que todos os adolescentes deveriam fazer isso. Sai de lar, vai viver sua vida. Você estuda o suficiente, sai de lar e vai viver sua vida. É uma experiência muito boa. No final da sua juventude, você vai crescendo mais seguro de si, possessor da sua história, possessor da sua vida. Tudo que meu pai me proibiu, depois que eu saí de lar, eu me aproximei de tudo, teatro, música, pintura. De tudo, tudo, eu me aproximei”, relatou, dizendo que, assim, teve oportunidade de expandir o seu horizonte. “Sim, porque só me interessava a arte mesmo. Era só isso”.
Ney contou que nascente momento só reforçou a sua urgência de viver em liberdade. “Acho que a única forma boa de viver é com liberdade totalidade, absoluta. Simples que, na vida, a gente vai mudando. Há momentos em que você quer mais liberdade, e, outros, em que você necessita de menos, mas é isso. A liberdade sempre em primeiro lugar para mim, sempre, desde moçoilo, dentro e fora de lar”, pontuou.
Mediadores
A mediação deste Clube de Leitura será da curadora Suzana Vargas e do Ramon Nunes Mello, com o microfone desobstruído para o público presente nos 30 minutos finais do encontro. Já no quarto ano de existência, o clube começou no termo da pandemia e tem mantido um público leal. Segundo Suzana Vargas, um dos objetivos do clube é tratar a leitura de uma forma mais plural.
“O Ney é uma grande personalidade da cultura brasileira e é um grande leitor. Esse é um traço que as pessoas desconhecem, veem o Ney no palco e não levam em conta o varão de cultura que ele é. A gente vai conversar também sobre os livros na vida dele. O público vai ter oportunidade de se informar sobre o Ney”, afirmou à Filial Brasil.
“O Ney é um bicho livre, só faz o que deseja, não tem nenhum tipo de exprobação ou autocensura para absolutamente zero. Cá no livro, ele se desnuda, o envolvimento dele com drogas, ele nomeia e dá nome aos bois e também a tudo que contribuiu para ele ser a pessoa que é hoje. Um dos artistas que mais admiro no sentido da postura existencial dele”, completou, adiantando que, durante a conversa, Ney vai ler um trecho do livro, que estará à venda na ingressão da Livraria.
“Pra mim o Ney é o símbolo da liberdade. Se você pensa na liberdade no Brasil, você pensa no Ney, esse ser que defende a livre revelação artística, a revelação do ser e vem com essa bandeira desde que estreou. Portanto, ele tem uma congruência muito grande no pensamento dele, no que acredita, no que defende, e isso no auge dos 83 anos”, afirmou Ramon, acrescentando que Ney é um multiartista, cantor, compositor, dançarino, ator de cinema, iluminador e diretor de teatro e shows, além de ativista do meio envolvente e da resguardo de animais.
Filme
O Clube de Leitura com o livro do Ney Matogrosso – Vira-lata de raça – memórias ocorre pouco antes da estreia, no dia 1º de maio, de outra obra: o filme Varão com H, que conta momentos da vida do artista que quebrou preconceitos e sempre se destacou pela verdade com que conduz o seu caminho. O longa é dirigido pelo diretor Esmir Rebento.
A coincidência entre os dois lançamentos é que o livro foi uma das fontes para o filme. “Eles juntaram [esse livro] com o livro do Júlio Maria [Ney Matogrosso: A biografia]. Juntaram as informações desses dois livros e fizeram o filme”, contou o cantor.
Ney já assistiu ao filme mais de uma vez e gostou de ter participado diretamente durante a produção. “Eu tinha uma única coisa que pedia ao diretor: ‘não pode ter moca’. O filme tem que prezar somente a verdade, e trabalhamos assim, com muita liberdade. Eu li 12 roteiros do filme”.
O personagem principal gostou do que viu. “Eu vi o filme e confesso que na primeira vez, fiquei bastante emocionado, porque era muita coisa crua jogada na minha rosto, mas eu paladar do filme, paladar muito do resultado. Os atores estão maravilhosos, todos. O diretor é muito bom”, elogiou, brincando com a diferença de linguagens entre as duas obras. “É, em um livro você imagina, no cinema você vê”, concluiu.