Pouco depois de fechar o verão, na última quarta-feira, as águas de março abriram o Lollapalooza nesta sexta. O festival chegou à sua 11ª edição sob garoa jacente e, em alguns momentos, chuva possante.
A chuva lavou o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, enquanto a plateia esperada de tapume de 80 milénio pessoas rememorava a mocidade e a juventude com roqueiros norte-americanos que tiveram o seu auge nos anos 1990 e 2000.
A principal apresentação do dia foi a do Blink-182, que cantou no Brasil pela primeira vez depois de ter ensaiado uma vinda ao país no ano pretérito, também para o Lollapalooza, mas acabou frustrando os fãs com um cancelamento.
Houve ainda shows do Offspring e do Arcade Fire, em um dia que, embora tenha sido devotado ao rock, também teve apresentações de brasileiros de diversos gêneros, uma vez que a do grupo BaianaSystem e a da cantora Luísa Sonza.
Blink-182
A apresentação do Blink-182 teve início com “Anthem Part Two”, do disco “Take Off Your Pants and Jackets”, de 2001. Em seguida o grupo tocou “The Rock Show”, do mesmo álbum, e terminou o conjunto de rombo com “Family Reunion”, fazendo a plateia pular e gritar todos os palavrões que se repetem ao longo da fita.
Faz mais ou menos 25 anos que o Blink-182 virou fissura entre adolescentes, que viam suas frustrações e anseios juvenis representadas nas letras e no jeito rebelde e desbocado dos três integrantes do grupo. Isso não mudou. “Essas músicas são sobre sexo”, disse Tom DeLonge, o vocalista e guitarrista, antes de apresentar “Feeling This”, de 2003, que narra uma transa e fez a plateia trovar muito sobranceiro.
As piadas de texto sexual não pararam. Eles falaram ainda sobre transar com a mãe um do outro, que o palco estava molhado uma vez que são as vaginas —com recta a loa às brasileiras— e que um já tinha visto o pênis do outro mais do que os seus próprios.
Nem Paul McCartney escapou da joça, com seu nome no meio de uma folgança sobre onanismo. “O Blink é melhor que os Beatles. Quem são eles?”, disse Mark Hoppus, o baixista, antes de tirar sarro do Metallica e do My Chemical Romance.
Brincadeirinhas à segmento, o trio mostrou no Lollapalooza que domina o pop punk até hoje. A filarmónica faz uma ode à música emo e ao rock melódico, com uma boa união dos seus maiores sucessos, transportando o público ao pretérito. As faixas mais novas, aliás, não empolgaram tanto os fãs.
Arcade Fire
Quem também levou o publico para o túnel do tempo foi o Arcade Fire, que emocionou com os sucessos “Rebellion (Lies)”, “Reflektor”,”Afterlife” e “Everything Now”, escoltado de coros e palminhas o tempo todo.
Perto do termo da apresentação, Win Butler e Régine Chassagne se juntaram para trovar uma versão de “Águas de Março”, de Tom Jobim, com a instrumentista arriscando segmento da letra em português, em uma escolha apropriada o dia pluvioso.
The Offspring
Antes o Arcade Fire, foi a vez do Offspring, que já se apresentou no Brasil mais de 30 vezes, mas certamente fez na noite passada um de seus melhores shows no país. A chuva atrapalhou, mas Dexter, o vocalista, disse que não ligava. A plateia tampouco, pulando e cantando o arsenal de sucessos da filarmónica californiana que é dona de um punk mais pop do que o de seus contemporâneos.
Eles começaram com “Come Out and Play”, de “Smash”, álbum que alavancou o Offspring para o sucesso no rádio e na MTV, de 1994. Passaram por sucessos dos álbuns seguintes e um cover de “Blitzkrieg Bop”, dos Ramones, antes de desabar numa sequência de hits incontornáveis no rock.
Luísa Sonza
Mais cedo, quem brilhou foram os brasileiros, a encetar pelo show de Luiza Sonza, que cantou Chico Buarque e levou um cenário rústico ao palco. O momento de maior coro da plateia se deu em “Chico”, melodia que ela gravou para o logo namorado, o influenciador Chico Moedas, e alterou a letra ao se separar.
Apoiada em vocais de base pré-gravados, em seu repertório pop Sonza cantou pouco e dosou momentos ao microfone com danças coreografadas, deixando para soltar a voz nas faixas menos aceleradas.
Sonza emendou uma sequência de sobranceiro texto sexual, incluindo o “Modo Turbo”, “Campo de Morango” e “Toma”. Ela alternou as canções pop, eletrônicas e dançantes com “Luísa Manequim”, em que sampleia Abílio Manoel e na qual tocou guitarra, e suas love songs, uma vez que “Hotel Dispendioso”, antes de trespassar do palco cantando “Lança Rapariga”, que cita “Lança Perfume”, de Rita Lee.
BaianaSystem
Outro destaque foi o show do BaianaSystem. No caldeirão sonoro do grupo, que vai da guitarra baiana ao dub jamaicano, houve uma boa ração de graves e riffs pesados —a primeira música da set-list, “Saci”, por exemplo, começou com um solo de guitarra.
Do punk, o grupo também emprestou o exposição combativo e a atitude de seu líder, Russo Passapusso, que puxou em várias músicas as rodas de bate-cabeça que são regra nas apresentações e foram inauguradas já no início do show por um dançarino vestido de Saci, que desceu até a plateia.
Ao longo do show, o vocalista pediu várias vezes pela valorização da cultura vernáculo. “Cá no Lollapalooza é importante expor: nossa cultura em primeiro lugar”, ele disse ao trovar “Mosca”, que sampleia o refrão da famosa música de Raul Seixas, antes de passar por um trecho de “Pagode Russo”, de Luiz Gonzaga.
Apareceram ainda sucessos uma vez que “Sulamericano”, “Capim Guiné”, “Panela”, “Lucro” e “Duas Cidades”, todos celebrados pelo público, que fez a proteção colocada sobre o gramado tremer com pulos e danças.
Porquê testemunhar aos shows de morada
As principais apresentações podem ser vistas de morada pelo público. O meio Multishow transmite os shows dos palcos Budweiser e Samsung Galaxy, a partir das 14h30. O meio Bis, por sua vez, exibe as apresentações dos palcos Perry’s by Johnnie Walker e Recíproco. Quem não tiver aproximação a uma televisão poderá testemunhar às transmissões via Globoplay.