Quatro anos depois de despontar no TikTok, Olivia Rodrigo subiu no palco uma vez que atração principal do Lollapalooza no Brasil. A cantora de 22 anos, que surgiu atuando na edição mais recente da série “High School Músico”, encontrou uma plebe recheada de crianças e adolescentes acompanhados dos pais.
Para quem frequenta o Lollapalooza há anos, era nítida a sensação de que a média de idade do público era baixa uma vez que nunca antes vista —nem mesmo na apresentação de Billie Eilish, há dois anos, no mesmo espaço. O show do Empire of the Sun, um indie viajado que fez sucesso há mais de dez anos, soou estranho para os adolescentes que encheram o palco Budweiser no horário anterior ao de Rodrigo.
Ela é a trilha para uma comédia romântica jovem em que a protagonista tenta se encontrar entre seus próprios impulsos e as expectativas do mundo em torno dela. A plateia do Lollapalooza pôde ouvir a cantora descobrindo que o paixão não dura para sempre em “Drivers License”, hit da pandemia que a alçou à renome, e digerindo o primeiro chifre em “Traitor” —da letra “você é um traidor ainda que não tenha me traído”.
Ela trata essas situações com humor, mas as letras são repletas de instabilidade juvenil, sofreguidão social e baixa autoestima. É uma vez que se pegasse o sentimentalismo lírico de Taylor Swift —sua influência desde o primeiro álbum— e o derramasse sobre guitarras distorcidas e alguma pujança pop punk no estilo Avril Lavigne.
De certa forma, em sua obra, ela mimetiza sons e temas do rock mútuo dos anos 1990 que se popularizaram na MTV. Em “Ballad of a Homeschooled Girl”, lembrou o Pixies. Em “Brutal”, cantou uma vez que uma discípula de Kurt Cobain que só tem dois amigos, não gosta das músicas que compõe, e não é lítico nem esperta.
Musicalmente, mas, Rodrigo foi uma versão menos despojada dessas referências —tudo isso sob um filtro pop polido, raiva e angústia envoltos em plástico bolha. Trata-se de uma rebeldia Disney, mais uma vez que a Miley Cyrus do hit juvenil “7 Things”, de 2008, do que depois de “Wrecking Ball”, de 2013, e sua viradela para a persona que não liga para o que pensam dela.
Tanto que, no palco, ela não lembra uma desajustada. Pelo contrário, suas performances são de uma diva pop que rebola, faz poses tocando guitarra, passa batom e tem a companhia de bailarinos —nos momentos mais roqueiros, inclusive, os dançarinos parecem completamente fora de lugar.
Na verdade, no palco, Rodrigo cresceu justamente quando tratou a instabilidade juvenil, motor de sua trova, com deboche.
Rodrigo eletrizou o autódromo de Interlagos com “Obsessed”, espalhando pelos alto-falantes uma vez que é fascinada pela ex de seu atual, no início do show. Em “Jealousy Jealousy”, já na metade final, cantou sobre desejar os dentes brancos, o corpo perfeito e os amigos legais de uma pequena mais popular que ela.
Nesses momentos, ela posou no Lollapalooza uma vez que a representante da sofreguidão de uma geração que convive com a inveja na ponta dos dedos, na superfície da tela de um smartphone. Mais do que se sentir um estranho, ela reflete a inadequação de sentir inveja até do que ela nem sabe se deseja mesmo.
Essa abordagem ficou mais evidente na segmento do show dedicada às baladas melódicas, praticamente metade do repertório —onde Rodrigo se encaixa mais diretamente na linhagem confessional de Swift. Foram os momentos de maior emoção da plateia, enxurro de adolescentes berrando os refrões melancólicos.
O público fez coro em “Enough for You”, tocada somente por ela na guitarra, e em “Happier”, quando ela confessa na letra querer que o ex seja feliz com a novidade namorada —só não mais do que ele era antes com ela. É um sentimento que muitos jovens ali já tiveram, mas provavelmente não conseguiram proferir em voz subida.
No cenário mais novo da música pop, Rodrigo não possui a autenticidade de uma Billie Eilish, mas desponta uma vez que um dos nomes mais interessantes desse pop popularizado no TikTok —que, aliás, domina a grade do Lollapalooza neste ano.
Em universal, a sonoridade dessa turma é demasiadamente derivativa, mais preocupada em dialogar com o pretérito do que imaginar qualquer tipo de horizonte. É uma música familiar o suficiente para ser rapidamente reconhecível, e dissemelhante o suficiente para se primar no mar de lixo do dedo das redes sociais.
Olivia Rodrigo também é isso, mas com doses mais intensas de verdade, uma coleção de boas sacadas e a capacidade de dialogar intimamente com o sentimento de milhões de jovens que também estão aprendendo uma vez que viver. Mais do que o reconhecimento pelo Grammy ou os carinhos da sátira internacional, é nos olhos mareados e na euforia dos fãs —uma vez que dos brasileiros neste Lollapalooza— que se entende seu poder.