Longa Sobre Ruth De Souza Vê Intimidade Da Atriz Pioneira

Longa sobre Ruth de Souza vê intimidade da atriz pioneira – 09/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

No termo do galeria do caminhar térreo de um prédio no Rio de Janeiro, a cineasta Juliana Vicente viu Ruth de Souza abrindo a porta. Era 2009, e a grande senhora do teatro, do cinema e da TV brasileira andava com certa dificuldade sobre um tapete vermelho. “Foi um impacto muito grande”, diz Vicente, que à era preparava seu primeiro curta, “Cores e Botas”, com a atriz Dani Ornellas, que fez a ponte com a artista.

“De certa maneira, tinha uma coisa meio íntima, quase uma vez que se eu tivesse encontrando a minha avó. Meu pai falava muito: ‘mãe parece Ruth, Ruth parece mãe'”, diz a diretora, hoje célebre pelo documentário “Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo”, de 2022, e pela série “Canseira!”, de 2017.

Ali, nascia a faísca que hoje se concretiza em “Diálogos com Ruth de Souza”, que estreia nesta quinta nos cinemas. O filme segmento de conversas realizadas com a atriz, morta em 2019, nos seus últimos dez anos de vida, para apresentar as histórias, fatos e desafios de uma curso crucial para se pensar a presença e sucursal de artistas negros.

Nascida em 1921, a carioca Ruth de Souza chegou aos palcos do teatro brasílio com a estreia do Teatro Experimental do Preto (TEN) em 8 de maio de 1945, no Theatro Municipal do Rio. O grupo, idealizado por Abdias do Promanação, era uma proposta coletiva que ainda contou com a imposto de Léa Garcia, Wilson Tibério e Teodorico Santos, entre outros.

Daquela vez, Souza não foi a protagonista de “O Imperador Jones”, peça de Eugene O’Neill que o TEN interpretava na ocasião, protagonizada por Arinda Serafim. Mas a atriz integrava o recital de poesias afrodiaspóricas que abria a peça e, por esse trabalho, acabou assumindo o protagonismo quando a peça foi para o Teatro Ginástico, naquele mesmo ano.

“Ruth de Souza foi uma atriz versátil, que conseguiu transitar por papéis, atmosferas dramáticas e composições de personagens, em termos psicológicos e físicos, muito distintas”, afirma o pesquisador e crítico de teatro Guilherme Diniz. “Ela conjugou um poderoso pensamento crítico e social, e amadureceu uma visão de mundo capaz de denunciar e perceber as contradições sociais brasileiras.”

Esse luz se repetiu no cinema, quando, a invitação de Jorge Estremecido, estreou na adaptação do romance “Terras do Sem-Termo”. A obra chegou aos cinemas em 1948 sob o título “Terreno Violenta”, com direção do americano Edmond Bernoudy.

A partir daí, Souza atuou em filmes das pioneiras Atlântida e Maristela Filmes, até ser contratada uma vez que segmento do elenco fixo da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, onde protagonizou, por exemplo, “Sinhá Moça”, de 1953.

A grande senhora também acumulou sucessos na TV. Com “A Colmado do Pai Tomás” (1969-1970), da Orbe, foi a primeira atriz negra a protagonizar uma romance. Ela permaneceu no meio por 50 anos, fazendo segmento do elenco de mais de 30 novelas.

Mas, apesar do aparente luxo de um tapete vermelho em sua vivenda, não foi essa glória que Juliana Vicente encontrou quando iniciou as gravações para o longa. Pelo contrário, a atriz estava triste, desapontada por não receber mais convites, mas que se firmava nos amigos que a reverenciavam, uma vez que os atores Lázaro Ramos e Taís Araújo, para lembrar do que havia conquistado. Os dez anos de filmagem representam esse trajectória para desmontar um exposição pronto, e encontrar a pessoa por trás da artista.

“Eu já conhecia a estrutura do que a Ruth ia me falar, logo eu já tentava entender o que existia por trás dele”, diz Vicente. “Eu ganhei a Ruth mais sarcástica, tirando um pouco de sarro, falando: ‘eu brinco um pouco com a faceta dos brancos também’.” A viradela foi quando a artista lhe confidenciou que aquelas conversas eram uma vez que uma terapia.

Mais do que somente um filme biográfico, “Diálogos” também aposta em performances para depreender temáticas que as conversas não deram conta, equilibrando o exposição da atriz com a narrativa de ancestralidade e trato que o filme valoriza.

Para isso, as atrizes Dani Ornellas, Jhenyfer Lauren, Iya Wanda de Omolu, Luíza Dionísio, Lívia Laso, Mirrice de Castro e a artista Rosana Paulino compõem um lado onírico do longa e dão vida e corpo às orixás que povoam o documentário.

Enfim, uma vez que afirma Diniz, o crítico, Ruth de Souza abriu espaços para que atrizes negras pudessem simbolizar todo e qualquer papel. “Ela tem uma prestígio primeira de ressaltar, relembrar e frisar na memória esse importante gesto artístico, criativo, político e social”, diz ele, relembrando a estreia do TEN. “A trajetória do grupo e de dona Ruth nos mostram uma vez que eles desafiaram uma série de expectativas, limitações e pré-concepções sobre o que um artista cênico preto poderia ou não fazer.”

Folha

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