Nos dias que correm, a democracia não é uma reinação. A subida da extrema direita pode até ser o fenômeno mais vistoso, mas faz tempo que a democracia não sofre um conjunto de ameaças tão consistentes e em tão grande graduação. Novos movimentos sociais e partidos políticos intolerantes e radicais desafiam, tanto nas eleições quanto na percepção pública, praticamente todos os fundamentos da democracia moderna. E mostram que vieram para permanecer, quer aceitemos essa veras ou nos refugiemos na ilusão de que é tudo mal-parecido demais para ser verdade.
Em vários aspectos, as décadas de 2020 e 1920 têm mais em geral do que se imagina. São tempos confusos e inquietantes para a política e a democracia, marcados pelo progresso jacente de posições radicais e populistas, que viam a democracia liberal uma vez que um estorvo. Na dezena de 1920, ainda não se sabia, mas o radicalismo antidemocrático não estava a passeio. Já na dezena de 2020, estamos usando justamente o que sabemos do século pretérito para tentar imprecação a sua repetição, embora as reiteradas vitórias de extremistas e radicais possam indicar que esta é a novidade normalidade da política.
E, assim uma vez que nos anos 1920 soou o alerta de que a informação de volume era chave para pretensões extremistas, na dezena de 2020 não estamos menos inquietos quanto ao papel da informação política do dedo nesta novidade era de intolerância. No século pretérito, o uso subsequente da informação na consolidação dos movimentos nazifascistas nos anos 1920 e 1930, além de sua emprego em larga graduação durante a Segunda Guerra, confirmaram os piores temores sobre o impacto da informação na mobilização de pessoas, manipulação de consciências, formação de representações da veras e dos valores pelos quais orientar a vida intelectual e moral.
Desde metade da dezena de 2010, depois uma longa primavera democrática, entramos diretamente em um inverno onde se disputa, palmo a palmo, nos ambientes digitais e nas novas ecologias midiáticas, os afetos e as convicções dos nossos contemporâneos sobre se valores uma vez que pluralismo, tolerância, diálogo, negociação de interesses e interdição do ódio ainda devem sustentar o nosso contrato social. Não sabemos ao patente o que os próximos anos nos reservam nem se as sociedades continuarão a nutrir o lobo autocrático ou darão voz aos seus instintos democráticos, mas é patente que a informação continuará no núcleo dessa disputa.
Por isso, não podemos vacilar quando o ponto é democracia. Eleitores têm desimpedido mão de aspectos fundamentais desse regime ou de candidatos com perfil democrático em nome de causas desproporcionais, uma vez que se livrar da invasão de estrangeiros, findar com a devassidão política ou mandar o PT para o quinto dos infernos.
Lula recebeu uma novidade chance de governar o país porque muitos viram nele o único meio de salvar a democracia do bolsonarismo. E ninguém vai perdoá-lo se ele colocar essa imagem a perder para salvar um governo, que não lhe diz reverência e com reputação mundial de autocrata, exclusivamente por um delírio de afinidade ideológica.
Quando um emendo suspeitíssimo de forças políticas tomou o procuração da presidente petista recém-eleita, usando os subterfúgios que estavam à mão, o PT correu a pedir escora àqueles que não tinham privado apreço por Dilma Rousseff, mas consideravam que a soberania popular manifestada nas urnas deveria ser respeitada. Ou por outra, o PT nunca foi tão democrata quanto quando bradava que “impeachment sem delito de responsabilidade é golpe” e que as urnas eram sacrossantas. E passou os quatro desesperados anos do bolsonarismo rugindo em resguardo da democracia, e ainda mais durante a intentona de 8 de janeiro.
Naqueles momentos, ninguém dizia que o socialismo era mais importante que a “desprezível democracia burguesa” ou que democracia com desigualdade social não era democracia. Porquê é que, quando se trata da Venezuela, eleições livres, justas limpas podem ser ignoradas?
Lula e o PT precisam se determinar de uma vez por todas: ou a democracia importa —em qualquer lugar do mundo— ou o que realmente lhes interessa é que o poder político esteja nas mãos certas. Essa decisão pode simbolizar a desmoralização definitiva de todas as suas pretensões de fiadores da democracia a qualquer preço.
Pois quem apoia os absurdos arranjos da Venezuela não há de ter qualquer moral para gritar “golpe” quando seu candidato é impedido de concorrer, quando tomam o procuração de sua presidente ou quando um caudilho incita a volume para impedir que o presidente eleito seja diplomado.
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