Lydia Okumura Cria Ilusão De ótica Em Mostras Em São

Lydia Okumura cria ilusão de ótica em mostras em São Paulo – 06/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Tudo é inexistente e efêmero. O que à primeira vista parece ser um cubo não resiste a um examinação mais sisudo e se mostra uma superfície plana. O mesmo acontece com as pirâmides e os paralelepípedos de Lydia Okumura, artista que fez da abstração geométrica uma forma de ultrapassar os limites da material e questionar o que os olhos conseguem ver.

A maior secção de seus trabalhos ocupa um não lugar. Eles estão entre o tridimensional e o bidimensional. Exemplo disso é a série “The Appearance”, na qual ela usou barbantes para fabricar figuras que parecem prestes a romper o projecto e se libertar da parede em que foram pintadas.

Um tanto parecido acontece com as pirâmides e os triângulos do quadro “No Meio”. Quem observa a obra tem a sensação de que as figuras estão saindo da tela. “Ou de que a gente está entrando dentro dela”, diz Alexandre Roesler, sócio da galeria Nara Roesler.

Neste sábado (8), o espaço dará início à exposição “A Imaterialidade em Tudo”, realizada de forma simultânea com a galeria Martins & Montero.

Com 31 obras elaboradas entre os anos 1970 e 1990, a mostra celebra as cinco décadas de curso de Okumura, artista de 76 anos que mora em Novidade York, nos Estados Unidos, mas nasceu no Brasil em uma família japonesa.

Essa trindade cultural, aliás, explica por que os triângulos aparecem com frequência em seus trabalhos. Explica também o motivo pelo qual seu nome se mantém atual no mercado das artes. Estamos falando, por fim, de um setor que tem oferecido espaço a artistas diaspóricos, ou seja, pessoas que estão longe do seu lugar de origem.

Não à toa, a 60ª edição Bienal de Veneza deu destaque a migrantes, expatriados e refugiados sob o título “Foreigners Everywhere”, ou estrangeiros em todos os lugares.

Em razão disso, Roesler diz que deve levar os trabalhos de Okumura para uma exposição em Novidade York.

“É uma forma de ampliar ainda mais e dar visibilidade ao seu trabalho”, diz ele, para quem a artista foi uma pioneira. “Ela cria pinturas que saem das paredes e viram praticamente objetos. Foi uma propriedade definidora de uma novidade forma de fazer e de abordar a abstração geométrica.”

Visão parecida tem Jaqueline Martins, marchande adiante da galeria Martins & Montero. “Foi uma pioneira irrefragrável nessa formalização da abstração geométrica.”

Esse pioneirismo fez com ela se tornasse a primeira artista brasileira a integrar a coleção do Metropolitan Museum of Art, em Novidade York, com a “Beyond and Behind”, de 1978. Outrossim, tem obras em instituições porquê a Pinacoteca, o MoMA e o MAC-USP.

Martins explica que Okumura desafia a percepção visual das pessoas. Isso porque os objetos vão se transformando a depender do ponto de vista do observador. “É um trabalho vivo. Ele não está estagnado, e sim em movimento a partir da percepção de cada um.”

São trabalhos que remetem à transitoriedade, concepção basilar no projeto estético de Okumura. Muitas de suas pinturas, inclusive, foram apagadas das paredes quando as exposições chegaram ao término.

“O que ela está pensando e propondo é que a gente olhe para o trabalho para além da material. Para ela, os seres humanos e as obras são mais do que material. Por isso, é um trabalho sobre luz, percepção de ângulos e pontos de vista”, diz a marchande.

Mais do que um projeto estético, a imaterialidade e a transitoriedade são uma espécie de filosofia para Okumura. “É um trabalho muito meditativo, quase um transe mesmo. Ele procura transcender a material, um pouco que é muito da cultura japonesa.”

É uma prática distante dos museus tradicionais —espaços que trabalham com a permanência e a materialidade —e próxima da arte conceitual, frase que valoriza a teoria em detrimento da material.

Fred Sandback é um dos precursores desse movimento. O americano se notabilizou por construções minimalistas com fios de velo acrílica e pelo diálogo com o espaço expositivo.

Sol LeWitt foi outro expoente da arte conceitual. Para o artista, trabalhos podiam ser destruídos, repintados ou feitos em outro lugar, o que dava ênfase a efemeridade porquê elemento medial da arte conceitual.

Okumura foi assistente de LeWitt durante os anos 1970, quando ela se mudou para Novidade York e estudou no Pratt Graphics Center. No primícias da curso, a artista se dedicou a instalações e, posteriormente, aos quadros num caminho inverso ao trilhado por artistas porquê Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Apesar de ter transitado entre as duas linguagens, expôs poucas vezes as pinturas. Para Martins, isso aconteceu porque havia grande demanda dos museus pelas instalações.

“Quando ia para a pintura em telas ou no papel, ela falava que o libido era captar as instalações em uma espécie de invólucro”, diz a marchande. “Olhava essas obras pensando sempre que elas têm uma profundidade que vai além do que está na tela plana.”

Folha

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