Má Influência Critica O Charlatanismo Dos Influenciadores 21/04/2024

Má Influência critica o charlatanismo dos influenciadores – 21/04/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O podcast Má Influência surge com tarefas difíceis para enfrentar. A proposta do programa original (o norte-americano Scamfluencers) é relatar histórias de figuras de influência e suas tramoias para conseguir renome, riqueza e poder.

Não estamos falando cá só de influenciadores no sentido mais recente que colou no termo, uma designação para quem ganha projeção e atua nas redes sociais ou em plataformas de vídeo. Essas figuras estarão presentes, mas há também histórias de golpistas de outras eras.

Falar de figuras porquê essas é reptante tanto por suas histórias erráticas, cheias de reviravoltas, porquê por expor gente com grande projeção e popularidade —o que pode atrair uma horda de seguidores pouco dispostos a aceitarem a desmoralização de um ídolo.

Mas Babu Curso e Maria Bopp não estão preocupadas. Se ataques vierem, é bloquear os comentários. “As pessoas não são à prova de balas”, diz Babu.

A comediante carioca e a atriz paulistana são as vozes do programa que a Wondery, estúdio de podcasts da Amazon, agora traz para o Brasil. Com episódios semanais em publicação contínua —ou seja, sem temporadas com número pré-determinado de episódios— a série irá transcrever e localizar histórias do resultado original e também terá episódios sobre figuras nacionais.

A produção estreia com três episódios. Os dois primeiros são sobre Lou Pearlman, produtor de boy-bands dos anos 90 porquê Backstreet Boys e N’Sync e que manteve os rapazes no bolso por anos, pagando-lhes migalhas enquanto enriquecia às suas custas.

O terceiro investe na história de Pablo Marçal palestrante motivacional, influenciador do dedo e verosímil candidato à prefeitura de São Paulo neste ano. Também sabido pela cognome de coach messiânico, um dos marcos de sua curso é a expedição que empreendeu sem qualquer preparo profissional ao Pico dos Marins com 60 pessoas —32 delas foram longe o bastante até precisarem ser resgatadas pelo corpo de bombeiros.

O ritmo dos episódios é intenso. O tom relaxado não dispensa o caráter informativo de um resultado de formato longo, que reconstrói com minudência as histórias dos personagens que aborda.

Somos levados à puerícia religiosa de Pablo Marçal e as peripécias de Lou Pearlman com seu negócio de dirigíveis muito antes de dar o tom do pop dos anos 90. São mergulhos que não investem só no bizarro ou cômico, mas que buscam relatar a formação dos sujeitos retratados até que virem os personagens que os tornaram notáveis.

Essa desconstrução de ídolos não tem por objetivo vilanizá-los, diz Bopp. “Eu acho até que a gente humaniza eles. Você coloca uma outra dimensão por trás dessa pessoa que parece chapada nas redes sociais.”

Mas as apresentadoras também consideram que o resultado presta um papel pedagógico ao promover um tino crítico sobre figuras de influência que muitas vezes são irresponsáveis com o tamanho do poder que têm, diz Bopp. E Babu arremata: “Eu acho importante a gente lembrar com leveza que o influenciador ganha a vida vendendo coisas. Logo você precisa prestar um pouquinho mais de atenção em quem é essa pessoa e o que é que está sendo pedido para você consumir.

Dar a um resultado estrangeiro e roteirizado uma face e voz locais é outro duelo. No formato original, também com duas apresentadoras, a cada incidente uma delas assume a posição de narradora, enquanto a outra se torna uma interlocutora. Nessa interação, ambas compartilham impressões e piadas, o que serve também porquê um respiro para o ouvinte que estiver um pouco perdido se situar no desenrolar frenético dos fatos.

Esse é um recurso presente no resultado original e bastante usado em podcasts narrativos. Interagir de modo instintivo, atendo-se ao roteiro, mas sabendo juntar um tempero próprio, o que é uma arte difícil de menear. Finalmente, isso depende muito da química entre os apresentadores.

Nesse quesito, Bopp e Babu começam muito, nem parece que é o primeiro trabalho que fazem juntas. Má Influência vai construindo uma identidade própria em relação à matriz norte-americana: as apresentadoras brasileiras interagem mais vezes e dão um tom mais cômico do que se sente em Scamfluencers.

Apesar de não serem as principais redatoras, elas não consideram um problema lidarem com um texto vindo de fora. A experiência porquê atrizes lhes permite tomar o roteiro e dar a ele uma versão própria, com margem para intervenções no texto e improvisações enquanto gravam.

“Eu acho que é pra ter uma sensação de que está ouvindo duas amigas contando uma fofoca uma pra outra sabe?”, diz Bopp.

É notável porquê o resultado se esforça em não exclusivamente transcrever o material vindo fora. O texto se atém ao factual da versão original, mas abre espaço para que o modo de relatar seja propício pelas vozes de Bopp e Babu. Elas não são novatas no mundo dos podcasts e a desenvoltura com que narram deixa isso simples.

Mas o humor que dá essa liga entre a narração e os momentos de interação produz resultados variados. Por vezes as piadas e conversas saem mais soltas e naturais, imprimindo um tom de deboche e espanto aos trambiques contados. Mas há momentos em que o roteiro parece tarar mais, e a piada soa quase que um compromisso com fazer perdão ou dar o texto que está roteirizado.

As conversas entre as apresentadoras servem porquê ponto de respiro não só para o desenrolar de fatos, mas também para um folga da trilha sonora, que forra praticamente todo o tempo de narração. Não é uma sonorização discreta, nem na presença, nem no volume. Embora contribua com o ritmo entusiasmado, por vezes parece concorrer com as vozes.

Soma-se a isso um uso literal de efeitos sonoros, usados para simbolizar um tanto sendo dito. O recurso é vasqueiro, ocorre sobretudo nas descrições de cenas, porquê as sirenes que tocam quando Bopp conta da vinda dos bombeiros para resgatar a trupe levada por Pablo Marçal para o Pico dos Marins; ou as teclas de telefone sendo discadas quando Babu pergunta se Deus teria atendido o pedido do influenciador para parar o vento na serra.

Essa premência de preencher quase todo o espaço de escuta com trilha ou efeitos, seja para ênfase do que é dito ou para sinalização de humor, acaba saturando o resultado em momentos que talvez a narração bastasse. Vale proferir, essas escolhas refletem o formato original, que faz esse mesmo uso excessivo do traçado de som.

Má Influência carrega a força de um formato que se consolidou nos Estados Unidos e se esforça para encontrar um tom lugar. Metade dos episódios devem ser adaptados de fora, com personagens conhecidos do publico brasílio; o resto será voltado para figuras brasileiras: gente do mundo fitness, da tendência e das finanças, escritores e até quem ganhou renome em aplicativos de namoro deve criar o catálogo de charlatões nacionais.

Se mantiver bom estabilidade entre as narrativas de fôlego e a descontração deve lucrar os fones de ouvido e as rodas de conversa. Para isso, o fortalecimento da intimidade de Babu e Bopp entre si e com o texto será vital.

Folha

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