Maconha Todos Os Dias 06/11/2024 Drauzio Varella

Maconha todos os dias – 06/11/2024 – Drauzio Varella

Celebridades Cultura

O rapaz teria 20 anos, se tanto, estava pálido e desidratado. Queixava-se de dores de estômago acompanhadas de vômitos havia dois ou três meses, no transcursão dos quais tinha feito duas endoscopias, dois ultrassons e uma tomografia computadorizada, que zero revelaram. Vinha tomando omeprazol e antiácidos sem resposta; perdera quatro quilos.

Perguntei se qualquer maná melhorava ou piorava a dor. Respondeu que não, o único consolação era o banho quente. Chegava a tomar dez num dia. A pergunta seguinte me levou ao diagnóstico:

“Você fuma maconha todo dia?”

“Fumo, doutor.”

Era um caso típico de hiperêmese por cannabis, síndrome descrita em 2004.

Você, leitora, dirá: “Uma vez que assim? Tem gente que usa maconha para as náuseas da quimioterapia”. É verdade, mas o uso quotidiano pode ocasionar o efeito oposto.

No presídio em que atendo, vi meia dúzia de casos. As queixas são sempre as mesmas: começam com dor de estômago, depois de semanas ou meses surgem as náuseas e os vômitos que só melhoram com banhos quentes. Os exames de imagens são de pouca valia. Os quadros extremos evoluem com desidratação, convulsões, insuficiência renal e paragem cardíaca, complicações felizmente muito raras. Há oito casos descritos nos Estados Unidos.

Você, maconheiro velho, que fuma todos os dias há 30 anos e voto que nunca se viciou, vai proferir que fui cooptado pela repressão. Não é verdade, em mais de 50 anos de medicina, vi pessoas que se beneficiaram do uso de cannabis. Na dez de 1980, acompanhei no exterior os primeiros ensaios clínicos que testaram a maconha para as náuseas da quimioterapia.

Mas, veja muito, o fundamentado daquela era tinha concentrações de THC, o componente psicoativo, ao volta de 4% a 5%. Uma vez que o uso repetitivo induz o fenômeno da tolerância, com o passar dos anos você reclamava: “Essa maconha de hoje é palha velha. A do meu tempo…”. Atentos às demandas do mercado, plantadores e grandes traficantes se empenharam em selecionar variedades genéticas com teores de THC que atingem 20%. A tecnologia permitiu chegar mais longe. Surgiram os vapes com 90% de THC, os baseados pré-enrolados e a maconha comestível, apresentações que zero têm a ver com a dos tempos românticos.

Um levantamento publicado em 2018, pelo hospital Bellevue, de Novidade York, transportado entre mulheres e homens de 18 a 49 anos que fumavam maconha pelo menos 20 dias por mês, mostrou que muro de 30% se enquadravam no diagnóstico de hiperêmese por cannabis.

Há anos, psicólogas e psiquiatras com experiência no atendimento de dependentes químicos chamam a atenção para a influência do uso frequente de maconha no surgimento de psicoses agudas temporárias, além de funcionar uma vez que gatilho para psicoses crônicas, uma vez que a esquizofrenia.

Com a enxurrada de casos de depressão e de sofreguidão que a pandemia trouxe à tona, é provável que o número dos que procuram lenitivo num fundamentado continue a aumentar. Não é razoável esperar que o tráfico se interesse em reduzir as concentrações de THC na droga vendida nas ruas.

Logo, vamos gerar a “maconhabrás”? Haveria muitas dificuldades, entre as quais o controle da distribuição e o preço —se for grave o consumo aumenta, caso contrário, não acaba com o tráfico.

Evidente que você, leitor urbano, acha estupidez tutelar que a polícia prenda os usuários surpreendidos com pequenas quantidades, mas é em prol da prisão de traficantes. Vamos lembrar que essa relevo não é clara. Dificilmente quem usa deixa de traficar. E se sua filha, criada com tanto carinho, comprar um pouco a mais para entregar à amiga que pediu o obséquio? Mereceria ir para a Instauração Moradia ou para a penitenciária?

O caminho mais sensato é a ensino. O primeiro passo é ensinar para as crianças e os adolescentes que maconha não é uma relva oriundo que não faz mal nem vicia. Drogas psicoativas estão associadas à compulsão e à dieta. Depois, entender que o fundamentado de hoje é dissemelhante daquele da contracultura do pretérito, agora lidamos com produtos que trazem concentrações perigosas de THC, cujos efeitos são mal conhecidos. Quem imaginaria que pudessem provocar vômitos incoercíveis que só melhoram com banhos quentes?

Não existe projéctil de prata. Na minha puberdade, 60% dos homens fumavam cigarros industrializados, hoje mal chegam a 10%. O controle do uso de drogas que causam obediência só pode ser conseguido através da ensino, em mansão, nas escolas e nos meios de informação de tamanho.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul aquém.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *