“Máquina do Tempo”, filme independente britânico que estreia no Brasil dois anos depois de seu lançamento na Europa, traz uma mistura de ficção científica, música pop e estética vintage. A tal máquina do título não é um talento para que as pessoas viajem no tempo. Ela traz informações do porvir para a Inglaterra do início da Segunda Guerra Mundial.
O diretor e roteirista Andrew Legge, que vem de uma curso de curtas, conduz a narrativa acompanhando as jovens irmãs Thomasina e Martha, interpretadas por nomes emergentes do cinema inglês, Emma Appleton e Stefanie Martini. Elas usam a inventividade herdada do pai investigador para gerar Lola, uma máquina que consegue captar transmissões de rádio e de TV no porvir.
O caráter pop de “Máquina do Tempo” já fica exposto na primeira experiência das irmãs com o aparelho. Elas captam uma transmissão da TV britânica de 1969, com David Bowie cantando “Space Oddity”, grande sucesso do início de sua curso. O diretor justifica a escolha.
“Entre muitas razões, eu sabor de David Bowie. Mas eu creio que a escolha foi feita buscando uma música que pudesse parecer muito estranha no início da dezena de 1940, quase uma vez que um pouco estranho. ‘Space Oddity’ não é uma música trivial, é dissemelhante do que as pessoas estavam acostumadas a ouvir, até mesmo no final dos anos 1960. Se eu usasse os Beatles por exemplo, as canções deles não provocariam tanta estranheza nas garotas.”
O longa tem, do primícias ao termo, o visual de filmes antigos. Imagem em preto e branco, com a iluminação saturada. Mas, segundo Legge, esse efeito não foi obtido com uso de tecnologias modernas nem caras. “Produzimos tudo com câmeras e lentes originais dos anos 1930. E o filme em 16 mm foi revelado num velho tanque soviético.”
Tudo passou longe da lucidez sintético. Entre muito material de registro da quadra, o testemunha pode pensar que alguma coisa foi manipulada, mas Legge refuta totalmente. “Até nas cenas com Hitler, tudo é registro. Filmamos há três anos, nem estava tão disseminado esse debate sobre usar IA no cinema. No supremo mexemos um pouco pintando o fundo de algumas cenas, mas fizemos isso na mão, quadro a quadro.”
Na história, a máquina ganha um nome, Lola, título original do filme. Além de conectar as meninas com o pop do porvir, logo começa a ser utilizada para ouvir as notícias de rádio do dia seguinte. Assim, as irmãs ficam sabendo o noticiário sobre os avanços do tropa teuto. E passam a gerar um boletim de rádio que antecipa às pessoas onde vão ocorrer os ataques. Com isso, várias vidas são salvas.
Um solene acaba descobrindo a invenção. Ele propõe ser a ponte entre as informações de Lola e o tropa britânico. Com essa ajuda, o quadro da guerra começa a mudar. Thomasina e Martha ficam eufóricas com sua atuação no confronto com os nazistas. Elas vão a uma sarau de soldados e ali há outro momento risonho ligado à música pop. Martha canta “You Really Got Me”, um hino do rock inglês sessentista gravado pelo grupo The Kinks.
Aliás, “Lola” é título de outra música da margem. “Eu sabor do Kinks, mas nem sou fanático. Pensei em ‘You Really Got Me’ por ser uma música poderoso, para entusiasmar os soldados a cantarem junto com Martha. Não acredito que uma música de Bowie funcionaria na cena”, explica Legge.
Mas o filme tem uma viradela importante quando as previsões de Lola mudam os rumos do conflito, influenciando trocas de alianças entre os países envolvidos na guerra. Uma das mudanças é engraçada, com o surgimento do cantor fascista Reginald Watson. Uma geração de Legge com Neil Hannon, líder da margem The Divine Comedy, que assina a trilha sonora. “Nós pensamos em Reginald uma vez que uma espécie de ‘Bowie do mal’. As pessoas gostam do resultado.”
“Máquina do Tempo” se soma a alguns filmes que reescrevem a história real. Porquê “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, no qual Hitler é assassinado num cinema, ou “Yesterday”, comédia romântica que cria um mundo onde os Beatles nunca existiram.
Por que essa manipulação do tempo parece ser tão fascinante? “Essa pergunta é interessante”, diz Legge. “Eu suponho que tem a ver com a maneira uma vez que as pessoas olham para suas próprias vidas. Alguns momentos muito importantes são sempre relembrados e questionados. Todo mundo tem qualquer compunção daquele momento em que poderia ter feito as coisas de uma forma dissemelhante. E o cinema é a grande fantasia, não?”