A paisagem da avenida Paulista, imagem célebre de São Paulo com sua fileira de edifícios a perder de vista, acaba de lucrar um novo arranha-céu. Nos últimos dias, o tombar dos panos que encobriam as obras na esquina com a rua Professor Otávio Mendes revelou, enfim, o novo prédio do Masp, um monólito em tom grafite de 70 metros de profundeza —a mesma largura do Masp original, projetado por Lina Bo Bardi.
Chamado de Pietro Maria Bardi, em homenagem ao marido da arquiteta, o segundo prédio do Museu de Arte de São Paulo fica ao lado do prédio de Lina, um cartão postal da cidade com seu volume suspenso sobre o vão livre que abriga uma das mais importantes instituições de arte da América Latina.
Somando os dois prédios, o Masp terá um aumento de 66% na dimensão para exposições, oferecido que cinco andares do novo museu serão dedicados a vestígios. Dois pisos são espaços multiúso, para performances e eventos, mas que também podem acoitar obras de arte, se necessário, porque têm controle de umidade. Um pavimento é o ateliê de restauro, outro abriga a sala de lição e quatro não são acessíveis a visitantes.
Foram quase dois anos de projeto e mais de três de obras para que ficasse pronto. O prédio foi construído sobre a carcaça do Dumont-Adams, um velho prédio de apartamentos dos anos 1950 que já havia recebido uma outra obra em cima da sua estrutura, o primeiro projeto da expansão do museu, nunca tirado do papel e completamente dissemelhante deste que agora se materializa.
Por ora, só o prédio está pronto —ele será apresentado nesta semana aos seus investidores, aos patronos do Masp e a profissionais das artes. A brecha para o público, com as primeiras exposições, está prevista para março do ano que vem. O projeto completo, que inclui um túnel subterrâneo ligando o novo prédio ao original, deve permanecer pronto no segundo semestre de 2025.
O museu ainda não divulgou a programação de brecha, mas, de contrato com o diretor de notícia e experiências do Masp, Paulo Vicelli, as exposições devem ter relação com o ror da instituição, uma coleção que conta com mais de 11 milénio obras de arte, das quais pouco mais de 1% estão expostas.
Heitor Martins, o diretor-presidente do Masp, conta que Paulo Mendes da Rocha, rabi da arquitetura brasileira, dizia que o novo prédio não deveria ser maior nem menor que o de Lina, não poderia competir com o dela, mas complementá-lo. “Isto foi um setentrião para o projeto, e é exatamente o que foi feito”, afirma Martins, durante uma visitante às obras na última sexta-feira, o cheiro de tinta ainda fresco no ar.
De fisionomia sóbria, com o exterior envolvido numa malha de alumínio plissada de cima a insignificante, o novo Masp tem 14 andares —sendo três subsolos—, e compõe com o original um jogo de cores e formas. Na avenida Paulista, vemos um volume vermelho na nivelado e o novo na vertical, uma vez que duas peças de Tetris que se encaixam.
“A questão de uma vez que o prédio vai ser visto é superimportante. A gente partiu da premissa que não queria um prédio com janelinhas. Porquê ele não tem janelas, vira uma coisa legível no contexto da Paulista”, diz Martin Corullon, do escritório de arquitetura Metro, responsável pelo projeto, com participação do arquiteto e ex-presidente do museu Julio Neves. “É uma peça muito limpa.”
Corullon acrescenta que a malha que envolve o prédio —que deixa prever o movimento no museu à noite, quando as luzes estão acesas— foi também uma solução para proteger as obras de arte do excesso de luz, uma questão no Masp de Lina, com suas paredes de vidro. Se esta diferença é marcante, por outro lado há uma semelhança: os andares do Pietro Maria Bardi, assim uma vez que os de seu vizinho, são livres de pilares, amplos espaços desimpedidos.
A ingresso do público será pela avenida Paulista —no térreo ficará o restaurante A Baianeira, que deixará o Masp de Lina, e o moca. No subsolo estarão a bilheteria, a loja, o guarda-volumes e a ingresso do túnel por onde as pessoas vão rodear entre as duas constituições. A teoria é que, com o projeto todo completo no ano que vem, o entrada aconteça somente pelo novo prédio.
Com a expansão e a recente licença pela Prefeitura de São Paulo do vão livre para o próprio museu, que poderá usar o espaço pelos próximos 20 anos, o Masp mais que prega de tamanho. Sua dimensão de atuação passa dos atuais 10.485 metros quadrados para 21.863 metros quadrados. O poder público também cedeu à instituição o subsolo em frente ao novo prédio, para que o túnel pudesse ser construído.
Diferentemente de muitos museus, instalados em palácios de séculos passados, uma vez que os europeus ou o Museu do Ipiranga, em São Paulo, o novo Masp não segue a tipologia clássica e também foge à construção caixote, a exemplo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro ou do horizonte Cais das Artes, em Vitória.
O projeto do escritório Metro dialoga mais com o Instituto Moreira Salles, também na avenida Paulista, e com instituições de Novidade York, uma vez que o New Museum. Corullon, o arquiteto, diz que foi um repto trabalhar com a tipologia contemporânea de um museu vertical e que estudou as instituições semelhantes no exterior para entender uma vez que os fluxos e as áreas técnicas poderiam ser resolvidos. Seja uma vez que for, isso deve ser imperceptível para os visitantes, que poderão explorar o Masp sem um trajectória determinado.
Inicialmente orçadas em R$ 180 milhões, as obras do novo prédio fecharam em R$ 250 milhões. A verba foi integralmente obtida com doações privadas, sem o uso de verba público. Isto significa que o metro quadrângulo do museu, localizado na Bela Vista, saiu por R$ 32 milénio. No mesmo bairro, o valor do metro quadrângulo para compra de um imóvel é muro de três vezes menor, de R$ 11.759, de contrato com dados de julho do Índice FipeZAP, indicador referência no mercado.
Até que o novo arranha-céu da Paulista se concretizasse, foi preciso uma mudança na gestão do Masp e uma diferença radical no projeto. Em 2005, durante a presidência de Julio Neves, o museu comprou, com R$ 12 milhões pagos pela operadora Vivo, o prédio ao lado. Ali deveria subir uma torre de 110 metros de profundeza com um mirone em cima, de onde, segundo disse Neves à idade, seria provável enxergar o mar em dias claros.
O objetivo era gerar receita para o museu, portanto deficitário, que viria de uma escola de arte, uma loja e um belvedere com moca instalados no novo prédio, portanto espargido uma vez que dentro. Mas o órgão de preservação do patrimônio da cidade vetou a torre, dizendo que ela interferiria no Masp, que é tombado.
O imbróglio de anos foi o calcanhar de Aquiles da gestão de Neves, que deixou a presidência do museu em 2009, depois de 14 anos. Seguiu-se um vaivém incluindo disputas do Masp com órgãos de patrimônio e com o velho patrocinador —uma vez que resultado, o dentro ficou parado por anos, um esqueleto na avenida Paulista, com rachaduras e condições precárias de conservação.
A atual gestão do museu, que assumiu há uma dezena, sanou as dívidas da instituição e, mais tarde, levou a cabo as obras do novo Masp, com um projeto totalmente refeito. Agora próximo ao término, ele muda a rostro da principal avenida da cidade.