Masp: Serigrafistas Queer Questionam Gênero E Sexualidade 15/12/2024

Masp: Serigrafistas Queer questionam gênero e sexualidade – 15/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Repleta de cartazes com palavras de ordem em letras chibata, cores neon, pedidos por direitos porquê o monstro e o termo da míngua, além de alusões a leis e presidentes, a sala ocupada pelo coletivo Serigrafistas Queer no Masp, o Museu de Arte de São Paulo, mais se parece com o célebre vão da instituição, ponto de encontro dos inconformados em dias de protesto.

De veste, a primeira vez que o grupo prateado formado em 2007 veio ao Brasil, em 2018, fez uma oficina no célebre vão do Masp. O momento era tenso –elas vieram pouco depois da polêmica do Queermuseu, a exposição sobre volubilidade sexual em Porto Contente que foi acusada de pedofilia e zoofilia por políticos de extrema direita, quando o bolsonarismo se consolidava institucionalmente.

A curadora Amanda Carneiro diz ter sido marcante que integrantes do coletivo não tenham se tímido daquele debate e tenham se oportuno das questões em suas obras e discussões. “No momento de polarização, você tem um coletivo ativista que conseguia falar com o público de uma maneira oportunidade o suficiente para trocar em relação a seus sentimentos e sensações”, diz.

Essa teoria de reparação é o mote da mostra “Serigrafistas Queer: Liberdade para as Sensibilidades”, primeira individual do coletivo no Masp, depois de o museu flertar com o trabalho do grupo desde essa primeira visitante de 2018 e comprar mais de 50 obras.

São cartazes em papel, retalhos de tecido, toalhas de mesa e toalhinhas estampadas e trabalhadas com dizeres variados —críticas ao ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, delação de golpe de estado por segmento do ex-presidente brasílico Michel Temer, protestos contra a míngua e palavras de ordem em obséquio do monstro e das identidades de gênero.

“Monstro para cuerpos gestantes”, diz uma toalha de mesa grande. “Beso no transmite”, afirma um pequeno papel, em referência a transmissão do HIV. “Esta panza es re gay”, brinca um retalho. “Cuceta decolonial”, brada um pequeno edital

Num contexto social ainda conservador, permeado por retrocessos que questionam até o recta a mulheres que foram estupradas de acessar um monstro depois de 22 semanas de gravidez, ler as palavras “cuceta decolonial” impressas numa ilustração de calcinha ainda pode incubar.

Segundo Carneiro, “o choque é positivo, porque desloca a pessoa do lugar em que ela está”. A teoria da exposição, ela diz, é também produzir, com as poucas palavras típicas das artes gráficas, boas perguntas para o público.

Mas a escolha pelo coletivo não se dá só por esse fator. Carneiro lembra que há uma tradição histórica de artes gráficas na América Latina desde o início do século 20 –lastro que foi restaurado na 35ª Bienal de São Paulo, no ano pretérito, com os coletivos Taller 4 Rojo, da Colômbia, e Taller NN, do Peru.

As Serigrafistas Queer também têm lastro próprio. Estiveram na última edição da Documenta, em Kassel, na Alemanha, e teceram uma rede de contatos no mundo das artes gráficas que tem impacto. Secção da mostra no Masp inclui oficinas –ou “talleres”, em espanhol– com grupos brasileiros porquê Fudida Silk, Jamac e Parquinho Gráfico.

O coletivo oferece uma zine com algumas técnicas de serigrafia diferentes, para que cada um possa escolher o que convém. O passo a passo da serigrafia oferece opções com uso de sala escura para a revelação da imagem impressa. Há, ainda, uma opção com o trabalho de tinta à base de látex. A técnica está ali, disponível sem sigilo.

A mesa em que isso vai ocorrer, instalada no espaço expositivo, é na forma de um roedor prateado chamado “cuis”. O grupo explica que adotou o mascote pela similaridade que a vocábulo tem com queer e acabou usando o nome também no coletivo, que pode ser Serigrafistas Cuis, ou Cuises. É, dizem eles, mais latino-americano.

É da experiência de ensino de técnica que nasce a possibilidade de encontros e reparação sobre a qual se apoia o coletivo. Um projeto reptador para instituições museológicas que, em sua núcleo, se consagram nas ideias de autoria e de exclusividade.

Com as Serigrafistas Queer, esses valores caem por terreno. Para o coletivo, o veste de uma obra que está na parede do museu também exarar uma camiseta, ou um edital, ou sabe-se lá onde, é transgressor. “O museu também pode ser uma caixa de sonância a ser ‘hackeada em alguns momentos”, diz Guille Mongan, integrante do grupo.

Folha

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