“meu Pai Segue Mais Vivo Que Muitos Vivos”, Diz Filha

“Meu pai segue mais vivo que muitos vivos”, diz filha de Raul Seixas

Brasil

banner flipelô 2024

Vivi Seixas tinha somente oito anos quando seu pai faleceu. Em suas lembranças, ela guarda a memória de um pai carinhoso, “que gostava de fabricar personagens e narrar historinhas”.

Salvador (BA), 07-08-2024 - A dj Vivi Seixas, filha de Raul Seixas, participa da abertura da Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô, no Largo do Pelourinho. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Salvador (BA), 07-08-2024 - A dj Vivi Seixas, filha de Raul Seixas, participa da abertura da Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô, no Largo do Pelourinho. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Dj Vivi Seixas abriu a noite da Sarau Literária Internacional do Pelourinho que homenageou seu pai, Raul Seixas – Rovena Rosa/Sucursal Brasil

Outra memorandum marcante é da barba. “Lembro muito da barba dele, que isso é uma coisa que eu não esqueço nunca. Minha mãe dizia que meu pai pegava a minha mãozinha quando eu era pequenininha, botava na barba dele e falava pra minha mãe: ‘pra ela nunca olvidar de mim!’ E eu nunca esqueci, isso me deixa muito emocionada”, contou, em reportagem para a Sucursal Brasil.

“Até hoje eu sinto meu pai muito presente. Faz 35 anos que ele se foi, mas não tem um dia que eu passe na minha vida que alguém não fale de Raul, ou que eu não entre num táxi e esteja tocando Raul, ou que eu passe numa carteira de jornal e não tenha um adesivo do Raul. Não tem porquê olvidar, ele está muito vivo dentro de mim”.

DJ e produtora músico, Vivi Seixas é filha do “maluco venustidade”, da “transformação ambulante”, do “eu sou”: o poeta, cantor, compositor e pai do rock brasiliano, Raul Seixas (1945-1989). Ele foi o escolhido para ser homenageado na edição deste ano da Sarau Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), que teve início ontem (7) em Salvador.

Já a filha foi a convidada próprio do show que abriu o evento na noite de ontem, em um palco montado no Pelourinho, em frente à Instauração Lar de Jorge Estremecido, onde imagens do pai foram projetadas, iluminando o casarão.

“Eu tinha 8 anos de idade quando meu pai faleceu. E gostaria muito de ter convivido mais tempo com ele. Mas eu tenho muitas lembranças de um pai muito carinhoso, muito risonho e que gostava de fabricar personagens pra mim e narrar historinhas. Acabei de tocar [na Flipelô] e estou muito emocionada em prestar essa homenagem a ele, na terreno dele”, contou ela.

Salvador (BA), 02.08.2024 - Cantor Raul Seixas é homenageado na Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô). Foto: Divulgação/GOVBA
Salvador (BA), 02.08.2024 - Cantor Raul Seixas é homenageado na Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô). Foto: Divulgação/GOVBA

Cantor Raul Seixas é homenageado na Sarau Literária Internacional do Pelourinho – Divulgação/GOVBA

Depois o show que fez na Flipelô, Vivi acabou se recordando de um show em que ela, ainda pequena, viu seu pai tocar no Maracanã, no Rio de Janeiro.

“Acho que era Natal, uma sarau que tinha o Papai Noel. Lembro que eu era pequenininha gritando, ‘papai!’, quando ele apareceu [no palco]”.

Sacudir o mundo

A homenagem feita a Raul Seixas na Flipelô, evento do qual também participa a mãe de Vivi, Kika Seixas, antecipa as celebrações dos 80 anos de promanação do músico, em 28 de junho de 1945. Segundo Vivi Seixas, em 2025, a expectativa é de realizar o “maior tributo” já feito a seu pai: o Baú do Raul.

“O Baú do Raul é um tributo que acontece desde 1993. Minha mãe que começou com esse tributo, onde vários artistas importantíssimos cantam Raul. E queremos fazer o maior de todos, de perdão, franco ao público cá em Salvador.”

A teoria é festejar o legado do pai do rock brasiliano. “Meu pai simplesmente foi um dos maiores compositores e artistas que esse Brasil já teve. Sei que eu sou suspeita pra falar, mas tá pra nascer um face igual a ele. O que eu acho muito lítico de Raul é que ele atinge da muchacho ao idoso, de todas as classes sociais, de todos os estilos musicais. Quando eu venho cá pra Salvador, quando eu circulo no meio do hip hop, a galera gosta de Raul. Quando vou no samba, no reggae, todo mundo curte Raul. Ele é muito respeitado por todas as tribos”, disse a DJ.

Salvador (BA), 08-08-2024 - Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô, no Largo do Pelourinho. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Salvador (BA), 08-08-2024 - Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô, no Largo do Pelourinho. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Largo do Pelourinho pronto para ser palco da sarau literária internacional, Flipelô – Rovena Rosa/Sucursal Brasil

Início, termo e meio

Raul Seixas teve uma curso curta, que durou somente 26 anos. Neste período, lançou 17 álbuns que definiram o rock pátrio. “O Raul aparece ali no final dos anos 60 e se consagra porquê compositor, cantor e performer. Porquê ele mesmo falou, ele não se considerava cantor e compositor. Ele dizia que usava a música para proferir o que pensa. Acho que tem uma ironia nisso, né? Os baianos são muito irônicos”, contou o músico Charles Gavin, do Titãs, convidado para mediar uma mesa sobre o Maluco Formosura na Flipelô.

Salvador (BA), 07-08-2024 - O baterista Charles Gavin participa da abertura da Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô, que homenageia Raul Seixas, no Largo do Pelourinho. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Salvador (BA), 07-08-2024 - O baterista Charles Gavin participa da abertura da Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô, que homenageia Raul Seixas, no Largo do Pelourinho. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Baterista do Titãs Charles Gavin durante a orifício da Flipelô, que homenageia Raul Seixas, no Largo do Pelourinho – Rovena Rosa/Sucursal Brasil

Em conversa com a reportagem da Sucursal Brasil durante a orifício da sarau literária, Gavin afirmou que uma das grandes heranças de Raul é ter pulsado tanto no rock quanto na música brasileira porquê um todo.

“Embora ele usasse o oração do rock and roll, de toda a idolatria que ele tinha por Elvis e outros nomes dessa geração da música norte-americana, ele nunca tirou o pé da música brasileira, mormente da música produzida pelo Nordeste. Quando ele se lança porquê compositor com Let Me Sing My Rock ‘N’ Roll, essa é uma música que é metade rock e metade baião”, conta Gavin.

“Desde o princípio – e eu acho que até o final da sua curso – ele sempre se propôs a se colocar dessa forma: ele era uma cria do rock and roll, mas também uma cria da música brasileira. Acho que esse é o grande recado que ele deu e que algumas pessoas até hoje parece que não entenderam.”

Gavin diz que essa propriedade de Raul influenciou diversas bandas e músicos brasileiros. “Ele era um face muito polêmico e contraditório. Ao mesmo tempo em que ele dizia que amava esse período dos Estados Unidos, ele se colocava porquê um brasiliano e não porquê uma pessoa que só queria repetir ou reproduzir a linguagem que estava ali. Ele procurou uma linguagem para a música brasileira. Assim porquê os Novos Baianos também fizeram isso, porquê os Mutantes fizeram isso e porquê a minha geração, do rock brasiliano dos anos 80, também procurou fazer isso e de certa forma conseguiu”.

Transformação ambulante

Raul Seixas morreu em 1989. Mas suas músicas e seu pensamento continuam muito atuais, com plateias de shows clamando, até os dias atuas: “Toca Raul!”

“Meu pai continua mais vivo do que muitos vivos. As músicas dele continuam muito atuais e eu acho que o sigilo é que ele falou de uma forma tão profunda mas, ao mesmo tempo, de uma forma muito simples, que todo mundo consegue entender”, conta Vivi Seixas.

Salvador (BA), 08-08-2024 - Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô, no Largo do Pelourinho. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Salvador (BA), 08-08-2024 - Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô, no Largo do Pelourinho. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Largo do Pelourinho recebe a Flipelô até domingo (11) – Rovena Rosa/Sucursal Brasil

Para Charles Gavin, o legado do Maluco Formosura ultrapassa as canções que escreveu. “[Ele continua] assustadoramente atual. Se o Raul estivesse cá hoje, na nossa frente, o que ele diria, por exemplo, das redes sociais, o que ele diria da manipulação do dedo feita através das fake news? E mais, o que ele diria da chegada da perceptibilidade sintético? Eu acredito que ele já falou sobre isso, a gente que não pescou, que não entendeu”.

“Raul já falou [na música Metrô Linha 743] que o cérebro é servido num prato, ‘um cérebro vivo à vinagrete’. E o que acontece com essas fake news é exatamente isso, né? Uma manipulação do dedo de reconfiguração da nossa intelectualidade, da nossa mentalidade. Se a gente pegar os textos dele, você vai ver que ele já estava falando de coisas que viriam anos depois. Mas os futuristas são assim, os profetas são assim. Eles falam de um jeito e 100 anos depois é que você entende. O Raul tinha um pouco isso, de vidente e de futurista”, acrescentou.

Para os que querem entender o presente ou visualizar o porvir, Gavin deixa o recado. “Esse é um bom momento pra gente examinar os textos do Raul agora e confrontar com o que estamos vendo no mundo”.

A Flipelô é gratuita e ocorre até 11 de agosto. Para mais informações sobre o evento e a programação, clique cá.

*A repórter e a fotógrafa Rovena Rosa viajaram a invitação do Instituto CCR, patrocinador da Flipelô

 

Fonte EBC

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *