A mídia pública brasileira, que inclui a Dependência Brasil, da Empresa Brasil de Notícia (EBC), deve contribuir uma vez que contraponto à visão dominante na cobertura jornalística das principais agências internacionais de notícias, que acaba sendo reproduzida pela mídia empresarial do Brasil.
A avaliação é de professores e especialistas em informação que avaliaram a influência da Dependência Brasil na cobertura internacional em meio ao aumento das tensões geopolíticas no mundo.
A principal filial pública de notícias do país completou 35 anos no último dia 10 de maio.
Para os analistas, o papel da mídia pública pátrio é reportar os acontecimentos globais sob o ponto de vista do Brasil enquanto um país da periferia do sistema global, também chamado de Sul Global.
O professor André Buonani Pasti, que pesquisa agências de notícias internacionais, ressalta que as principais empresas jornalísticas do mundo mantêm vínculos com os Estados a que pertencem.
“A gente está falando de interesses geopolíticos vinculados aos Estados a quais essas empresas pertencem. Esses empresários são mobilizados nos momentos de contexto político tenso que movimentam o cenário internacional e estão conectados diretamente com alguns Estados-nação”, diz o professor da Universidade Federalista do ABC (UFABC).
Pasti cita, por exemplo, a cobertura “amplamente pró-Israel, no conflito Israel-Palestina, assim uma vez que uma cobertura quase de propaganda da Guerra da Ucrânia. Isso não ajuda a informar. É um problema”.
Essa avaliação é reforçada pelo jornalista brasiliano Matias M. Molina, em seu livro Os Melhores Jornais Do Mundo, no qual destaca o papel dos principais jornais dos Estados Unidos (EUA) – uma vez que o New York Times e o The Washington Post – no esteio às guerras do Vietnã e do Iraque. Segundo ele, esses periódicos reproduziram a visão solene da Vivenda Branca, inclusive sustentando a falsa denúncia de que o Iraque mantinha armas de devastação em volume.
Jornalismo empresarial
O professor de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) José Arbex Junior avalia que a cobertura internacional da mídia empresarial do Brasil utiliza as “lentes” das principais agências estrangeiras de notícias, em próprio, dos Estados Unidos e da Europa.
“Com essas lentes, eu, uma vez que brasiliano, estou olhando o mundo de uma forma completamente distorcida porque uso óculos que não servem para mim. O que eu, uma vez que brasiliano, tenho que entender sobre o mundo? Essa é a questão médio colocada do ponto de vista de uma cobertura internacional”, destacou.
O professor de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Ivan Bomfim destacou que o jornalismo não é neutro e que ele vem sobrecarregado de valores construídos a partir de compreensões de mundo das empresas que o patrocinam.
“Nossa visão do mundo acaba sendo moldada pela mídia empresarial a partir do que vem das agências estrangeiras. É evidente que esse material é retrabalhado nas empresas brasileiras. Só que esse teor informativo é retrabalhado a partir de interesses econômicos e políticos”, destacou o também coordenador da Rede de Investigadores em Notícia Internacional (RICI).
Segundo o professor José Arbex, a mídia empresarial do Brasil está comprometida com interesses de corporações econômicas e financeiras internacionais, o que influencia sua cobertura.
“O interesse dessa grande mídia está voltado para essas grandes corporações, que são empresas com as quais a Rede Mundo, para referir um exemplo, mantém relações comerciais, financeiras, políticas e ideológicas. É em cima dessas relações que ela vai fazer a cobertura”, disse.
Jornalismo público
Para o professor de jornalismo José Arbex, a mídia pública tem condições de fazer uma cobertura dissemelhante por não estar vinculada diretamente a interesses econômicos e estrangeiros.
“A mídia pública, exatamente porque ela não está comprometida com nenhuma grande empresa, tem muito mais independência e capacidade para fazer coberturas que não interessam do ponto de vista empresarial, mas que têm um grande interesse do ponto de vista pátrio e popular”, comentou.
Segundo ele, a mídia pública tem condições, por exemplo, de apresentar o conflito de Gaza uma vez que um massacre perpetrado por Israel e uma limpeza étnica contra o povo palestino. “Os grandes veículos empresariais não reconhecem o genocídio na Palestina”, diz.
Para o profissional, é importante ter uma visão brasileira do cenário internacional, o que “não é a mesma cobertura que o europeu vai ter, nem a mesma cobertura de um veículo estadunidense”.
O vestuário de os demais veículos do Brasil, em próprio os jornais locais, poderem reproduzir, gratuitamente, o teor jornalístico da mídia pública reforça o papel médio de uma cobertura internacional diferenciada, avalia o pesquisador da UFABC André Pasti.
“O precípuo seria ter um bom investimento em uma filial pública poderoso para cobertura internacional conectada com redes de agências do Sul do mundo que tivessem esse contraponto em relação às agências estrangeiras”, acrescentou.
Em 2023, a EBC fechou concordância para parceria com Dependência de Notícias Xinhua, da China, para troca de teor, além de ter concordância com a China Média Group e a TeleSur, da Venezuela. Há ainda negociações para acordos com mídias de Angola.
Trump
O professor de jornalismo José Arbex citou, uma vez que exemplo de cobertura jornalística, o novo governo de Donald Trump, que tem ameaçado apender o via do Panamá, o Canadá, a Groenlândia, além de proteger a expulsão dos palestinos da Tira de Gaza.
“O que isso significa para o Brasil? Porquê eu, brasiliano, devo conduzir ou estribar as medidas de política externa do país nesse contexto? Nossas alternativas, para isso, são o Mercosul, os Brics, temos uma vez que fazer parceria com a China, que quer fazer a Novidade Rota da Seda”, afirmou.
O professor da UFGD Ivan Bomfim argumentou que, do ponto de vista do Brasil, uma vez que uma potência média sem grande poder militar e tecnológico, é mais interessante proteger regras internacionais que sejam respeitadas por todos, e não que o mais poderoso prevaleça no cenário global, uma vez que tenta impor o presidente Trump.
“Quando a gente deixa essa compreensão de lado e passa a reproduzir que um país, por ser mais poderoso, pode se impor sobre os outros, estamos abrindo mão de uma visão que é de nosso interesse”, disse.
Controle social
A possibilidade de a sociedade exercitar alguma influência sobre a cobertura jornalística é, para o professor UFABC André Buonani Pasti, uma das principais diferenças entre a mídia pública e a empresarial.
“Uma mídia pública implica penetrar o debate para participação da sociedade sobre os rumos da cobertura jornalística. Isso é fundamental. A diferença entre a mídia pública e a privada é essa possibilidade de ter qualquer nível de controle social sobre o debate”, destacou.
Segundo o profissional, o controle é no sentido de poder escoltar, opinar e contribuir com a cobertura jornalística, a exemplo do que ocorria por meio do extinto Parecer Curador da Empresa Brasil de Notícia (EBC), empresa da qual a Dependência Brasil faz segmento, junto com a TV Brasil e as rádios EBC, uma vez que a Rádio Pátrio.
Em 2016, o presidente Michel Temer extinguiu o Parecer Curador com representantes da sociedade que opinavam, emitiam recomendações e faziam exigências à direção da EBC. No lugar, foi criado um Comitê Editorial que nunca foi instalado.
Em 2024, a EBC criou o Comitê de Participação Social e elegeu os representantes da sociedade. O novo colegiado e o Comitê Editorial aguardam a nomeação dos conselheiros pela Secretaria de Notícia (Secom) da Presidência da República.