Mikey madison: oscar já vive na distopia de a substância

Mikey Madison: Oscar já vive na distopia de A Substância – 04/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A gente estava torcendo tanto pelo nome de Fernanda Torres, temendo tanto ouvir o de Demi Moore, que demorou um tempo para perceber o que tinha sucedido ali, na frente de mais de alegado um bilhão de pessoas.

Os votantes da Ateneu, ou pelo menos uma grande secção deles, já vivem no mundo distópico e aterrorizante retratado em “A Substância”, em que tanto a protagonista deste filme quanto a de “Ainda Estou Cá”, com 62 e 59 anos, respectivamente, não servem mais e precisam ser substituídas por outras mais jovens.

É meio uma tradição do Oscar premiar atrizes consideradas grandes promessas. Não é por outro motivo que Fernanda Montenegro, indicada por “Mediano do Brasil”, acabou perdendo para Gwyneth Paltrow, de “Shakespeare Desprezado”, em 1999.

Gwyneth tinha 27 anos. Fernanda Montenegro tinha 70. Paltrow é uma atriz tão sem sangue nas veias que acabou optando pela curso de influencer de formosura e bem-estar em vez de satisfazer a tal promessa que o Oscar parecia prever.

Angelina Jolie, que protagonizou o filme mais ávido de sua curso no último ano, “Maria”, em que interpreta a soprano Maria Callas, não foi nem indicada. Mas ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 2000, por “Pequena, Interrompida”, quando tinha 24 anos. Nicole Kidman, protagonista de um dos melhores longas-metragens do ano pretérito, “Babygirl”, também não foi indicada.

Mas levou a estatueta em 2003, aos 36 anos, por “As Horas”. Jennifer Lawrence foi premiada aos 22, Jodie Foster aos 26 e mais uma vez aos 29. Jennifer Hudson ganhou o prêmio aos 25, Hilary Swank aos 25. Anna Paquin ganhou o Oscar aos 11 anos, por “O Piano”.

O ator mais jovem a levar o prêmio de melhor ator foi Adrien Brody, da primeira vez, aos 29 anos. Foi em 2002, e virou matéria em todos os jornais, revistas, sites e programas de TV. Um garoto levando o prêmio supremo do cinema, ó, que coisa extraordinária.

Quem assistiu à cerimônia inteira no domingo pôde ver o que isso fez com ele. Vencedor mais uma vez por seu papel em “O Brutalista”, fazia um oração de reconhecimento emocionado quando começou a ser interrompido pela tradicional musiquinha de orquestra e decidiu que não, aquilo não ia ocorrer com ele, finalmente já era a segunda vez que ele conquistava esse feito.

Você vê alguma das atrizes citadas supra fazendo uma mostra pública de egocentrismo uma vez que a de Adrien Brody? Mais fácil Halle Berry, se um dia for premiada de novo, repetir a crise de pranto que teve em 2002, aos 36 anos. Ou Julia Roberts provar o mix de felicidade e incredulidade que marcou o oração de reconhecimento mais delicioso de todos os tempos, quando ganhou por “Erin Brocovitch”, em 2000. Tinha 39 anos. Já era uma veterana.

Demi Moore, sentada na primeira fileira com um vestido com faceta de “já ganhou”, todo prateado, quase não precisava encapotar quando o nome de Mikey Madison foi lido por Emma Stone, que levou o mesmo prêmio ano pretérito, aos 35 anos. Ela já devia saber, mas mesmo assim soltou o que pareceu ser um “whaaat?”.

“Anora” é um grande filme, de um grande cineasta, Sean Baker, com uma protagonista hábil, destemida e superabundante. Combina temas voláteis, complexos, profundos com uma realização caleidoscópica e memorável. O filme é um triunfo, assim uma vez que a tradução da protagonista, que dá vida a uma heroína enxurrada de falhas, mas feroz, tão bela quanto desgastada pela vida.

O clube de strip onde Ani, sobrenome da personagem principal, trabalha atrai todo tipo de desajustado, alguns com mais moeda do que outros. Vanya (Mark Eidelstein), por exemplo, é o rebento desastrado e mimado de um oligarca russo, que tem aproximação irrestrito à mansão dos pais em Brighton Beach e mais moeda do que sabe gastar.

Vanya é um garoto gula, fracote, com a inexperiência de um juvenil e o egoísmo de um também. Porquê Richard Gere em “Uma Linda Mulher”, oferece à dançarina que fala russo US$ 15 milénio para ser sua “namorada” por uma semana. Quando fecham o harmonia, Ani confessa que teria aceitado por US$ 10 milénio.

Vanya sorri e admite que teria chegado a US$ 30 milénio. Essa é a medida do “paixão” entre eles. Talvez todos os relacionamentos sejam, de alguma forma, negociados entre as partes. Neste caso, pelo menos, tudo está às claras. Vanya é o comprador e Ani, a vendedora.

Ele tem moeda vivo, ela oferece fogos de artifício sexuais. Por um tempo, os dois até conseguem se convencer de que são iguais, parceiros de negócios, e que esse romance fabricado pode dar perceptível. Mas tudo desmorona espetacularmente depois o tálamo em Las Vegas.

Vanya e Ani passam pela cerimônia embalados pelas maravilhas da champanhe e da cocaína. A ressaca será brutal –para a prometida, simples.

O filme parece um trem descarrilhado soltando faíscas de Manhattan até Coney Island, numa trajetória que sai de uma fantasia vulgar à veras dura, cruel, em que os sentimentos são um luxo que nem todo mundo pode se dar.

“Anora” se aprofunda e escurece a cada reviravolta, desafiando os clichês de Hollywood. Ani, a personagem, é um brinquedo, descartável. Mas também pode ser uma arma. Também descartável, mas, lançada no meta perceptível, derruba tudo.

Porquê filme, é infinitamente melhor, mais muito escrito, muito realizado e muito executado que “A Substância”. Demi Moore, na idade de Mikey Madison, poderia fazer esse papel com a mesma garra. O contrário não dá para saber por um bom tempo. E Fernanda Torres poderia fazer ambos, com maestria.

Folha

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