Militantes de direita provocam e são expulsos do campus

Militantes de direita provocam e são expulsos do campus – 20/05/2025 – Wilson Gomes

Celebridades Cultura

A imagem das universidades públicas brasileiras talvez nunca tenha sido tão ruim. É crescente o número de pessoas convencidas de que se trata de um desperdício de recursos, já que essas instituições estariam mais empenhadas em formar militantes radicais de esquerda —e não os profissionais de que o país precisa—, além de oferecerem a estudantes privilegiados um parquinho privado e caríssimo para o usufruição narcisista, entre pares, de sua ideologia.

Em vez de entregar formação de supino nível, ciência e inovação, as universidades seriam segmento da risco de produção da escol identitária. E, longe de espaços de liberdade intelectual, teriam se tornado ambientes intolerantes ao pluralismo de ideias e clubes privados dos progressistas, desconectados da população que os sustenta.

Não deveria ser necessário manifestar isso, mas, nestes tempos em que a raiva política precede a leitura do texto, é preciso esclarecer: trata-se da percepção pública. Sei que as universidades públicas são muito melhores do que a imagem que delas fazem seus detratores. Acontece que, na hora da decisão parlamentar sobre os enormes orçamentos das universidades, ou quando se discute, por exemplo, se vale a pena gastar tanto com o ensino superior em vez da ensino básica —oferecido o cobertor pequeno da rancho pública—, é essa percepção, não a veras, que costuma determinar as coisas.

Feito o diagnóstico, surgem os clichês para justificar os fatos. A esquerda tem uma coleção deles, que vai desde o “à direita interessa destruir a universidade pública para manter a dominação da escol” até o “a extrema direita sabe que a universidade é a última resistência contra o fascismo”. Mas recusa qualquer explicação sobre a deterioração da imagem das universidades públicas que envolva os próprios progressistas e as consequências de seus atos.

Esses atos, todavia, não são poucos. Não vou comentar o uso da universidade porquê laboratório de provocação social por segmento de vanguardas identitárias, nem os cancelamentos semanais de professores acusados de racismo, misoginia ou transfobia, com ampla repercussão. Tampouco o progressão do lobby trans nas universidades, que, a golpes de acusações de transfobia, vem aprovando, de forma atropelada, cotas para pessoas trans em todos os níveis. Sobre isso, gostaria muito de entender porquê a esquerda pretende explicar aos eleitores, no ano que vem, que “pessoas não binárias” são vítimas mais merecedoras de políticas compensatórias do que, por exemplo, adolescentes mães solteiras ou filhos de pais analfabetos.

Tudo isso tem um impacto tremendo sobre o que se pensa das universidades públicas, mas hoje quero invocar atenção para outro fenômeno: a violência contra “intrusos” de direita. Na semana passada, foi na Universidade Federalista Fluminense; na anterior, na Universidade Federalista de Minas Gerais. Toda semana há um novo incidente.

O roteiro é sabido. Provocadores de direita, cientes da imagem que as universidades têm, visitam determinados campi para provar que são ambientes de uma só ideologia, usados porquê propriedade ideológica privada pelos progressistas e, além de tudo, intolerantes e violentos. E, invariavelmente, provam-no. Filmam pichações, banheiros degradados e registram o uso político “monoideológico” do espaço público. Por término, são expulsos por turbas de estudantes de esquerda, à base de tapas, ameaças, pauladas e berros de “recua, fascista, recua!”. Tudo isso transmitido ao vivo em canais digitais.

O provocador obtém, invariavelmente, o que foi buscar: a prova de que a esquerda não suporta divergências, de que não há espaço para conservadores na universidade, de que os progressistas são dogmáticos e violentos. Os estudantes de esquerda, também. Enfim, consideram-se guerreiros da justiça que enfrentaram mais uma guerra contra bárbaros fascistas que ousaram entrar em seu território, e acreditam ter defendido a democracia dos intolerantes —mesmo que à base de pauladas e insultos, porquê deve ser. No dia seguinte, reitorias e conselhos lamentarão, não o indumento de que pessoas tenham sido expulsas do campus por razões ideológicas, mas o indumento de que “pessoas estranhas à comunidade” tenham ousado poluir os nossos templos do saber e da liberdade.

Todos ganham: cada lado confirma a própria superioridade moral e comprova que o outro é intolerante e perigoso. Só quem perde é a universidade pública, evidente. Mas quem se importa? Há causas mais urgentes a executar —porquê “destruir o fascismo”, para uns, ou “provar que a universidade é um antro de reprodução de militantes com verba público”, para outros.


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Folha

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