“Milton Bituca Promanação” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira uma vez que o registro audiovisual da turnê mundial derradeira do cantor, que passou por Europa, Estados Unidos e Brasil em 2022 e 2023. Para a diretora Flavia Moraes, é muito mais um “road movie” do que um documentário. Basta testemunhar para perceber que ele vai muito outrossim.
O filme resgata Milton Promanação, aos 82 anos. Não exclusivamente sua música, que está ali arrancando aplausos e reverência de plateias em Lisboa, Londres, Veneza, Barcelona, Los Angeles, Novidade York, Ouro Preto, São Paulo, Rio e Belo Horizonte. O que surge com vigor na tela é a figura, o varão Milton Promanação.
“Tem ali um resgate do tamanho do Milton. Quando a gente começou o filme, ele estava muito derribado, saindo da pandemia”, diz Victor Pozas, diretor músico e idealizador do documentário.
“Praticamente não caminhava”, afirma Moraes, a diretora. “Eu falava com o Victor: ‘esse rostro não chega no final da turnê!’. E ele foi se fortalecendo, crescendo com o carinho do público. A estrada devolveu o verdadeiro Milton.”
No início da dezena, problemas de saúde debilitaram o cantor. Ele apareceu em fotos de cadeira de rodas, tinha dificuldade para se movimentar. Ainda, há dois anos, o músico recebeu um diagnóstico de Parkinson, conforme disse seu fruto numa entrevista, neste mês.
“Nós tivemos a preocupação de nunca expor alguma cena que pudesse mostrar o Milton fraco. Às vezes ele tinha dor, havia muita tensão no seu rosto”, diz a diretora, que explica uma vez que ela buscou uma posição de reverência na captação das imagens.
“Eu não tinha autorização dos teatros para permanecer com a câmera na frente dele, e quis outra coisa. Eu estava seguindo o Milton, estava detrás dele. Logo, ele me leva e eu levo o filme junto. Segui detrás de sua figura. Às vezes eu ficava ao lado, procurando o melhor perfil. Transparece no filme que ele está frágil, simples, mas também gigante.”
Por isso, o documentário, com narração de Fernanda Montenegro, surpreende ao mostrar um artista tão ativo, viajando e cantando, e tão venerado, elogiado por uma verdadeira constelação da música brasileira e mundial que bate ponto no filme para falar dele.
Os realizadores fugiram de uma fórmula preguiçosa, que poderia exclusivamente interpolar as imagens de Milton na turnê com declarações soltas de personalidades destacando o seu trabalho. Com 120 horas de entrevistas nas mãos, Flavia Moraes apresenta um trabalho de edição onde ela emenda respostas de vários convidados a saudação de um determinado paisagem da curso de Milton, transformando dezenas de depoimentos isolados numa conversa inteligente.
A questão da negritude, por exemplo, vira uma discussão com nomes uma vez que Caetano Veloso e Mano Brown. A lista desses “debatedores” tem Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horto, Wagner Tiso, Ronaldo Bastos e Márcio Borges, seus companheiros do Clube da Esquina, e amigos célebres: Chico Buarque, Gilberto Gil, Criolo, João Bosco, Sérgio Mendes, Djavan, Ivan Lins, Simone e muitos outros.
E os parceiros internacionais estão no filme. Uma vez que Wayne Shorter, Pat Metheny, Stanley Clarke, Steve Jordan, Quincy Jones, Paul Simon, Herbie Hancock, Carminho, Esperanza Spalding e o cineasta Spike Lee. A diretora relata o trabalho que tantas estrelas juntas demandaram.
“O Milton ia cruzando com eles, convidava e portanto todos apareciam. E pediam para falar no documentário. Não era aquela coisa de vincular para o agente, ver se poderia rolar ou não.”
Ela conta um incidente engraçado no show em Novidade York, que transcorreu enquanto ela gravava entrevistas do lado de fora do teatro e mantinha uma câmera no camarim com Milton. “Aí eu ouço no rádio: ‘quem é esse rostro que está ajoelhado no camarim beijando a mão do Milton?’. Não dá para reconhecer? ‘O rostro está de boné, óculos escuros e cachecol. Ninguém sabe quem é!’ E era simplesmente Steve Jordan”, diz, um dos maiores bateristas da história.
“Era uma surpresa detrás da outra. Eu entrevistando o Paul Simon e no rádio avisam que o Spike Lee está louco para falar. Aí você tem de pedir para o Spike Lee esperar uns dez minutos, né? Todos tomaram o invitação uma vez que um privilégio.”
” A emoção está ali, desde o Milton passando mal antes do show em Londres, com tonturas. O público já aplaudindo, e o rostro na coxia, se recuperando para entrar. E também nos momentos relaxados, ele se divertindo com a filarmónica”, diz a diretora.
Nos últimos meses, enquanto Moares finalizava o filme, Victor Pozas dava forma a um álbum que também integra também o projeto. “ReNascimento”, já carinhosamente batizado de “fruto músico” do documentário, reúne em 12 faixas nomes das recentes gerações da música brasileira. Nessa turma, Sandy surge uma vez que uma veterana. Coube a ela trovar “Travessia”. O resultado é uma versão afinadíssima, que preserva bastante a gravação original.
Essa performance representa muito o que parece ter guiado Victor Pozas e seus convidados. “Cada um deu uma leitura no seu universo, mas sem perder a origem da música do Milton”, avalia o produtor.
O álbum será lançado pela Universal, em abril, ainda sem data definida. Pozas tratou de estabelecer um link com o disco dentro do documentário. “Entrou no filme o registro visual da gravação de ‘Anima’, feita por Tim Bernardes, Zé Ibarra e Dora Morelenbaum, com Milton participando.” Sem incerteza, até pela presença do homenageado, é o momento mais evidenciado do pacote.
Canções clássicas que já fizeram curso com Milton e outras vozes consagradas da MPB receberam intérpretes ainda incipientes na cena, mas os desempenhos agradam, uma vez que o duo OutroEu, com “Clube da Esquina nº 2”, e Os Garotin, recriando “Esfera de Meia Esfera de Gude”.
A cantora portuguesa Maro impressiona na versão para “Cais”, assim uma vez que Liniker em “Encontros e Despedidas”. Completam o time Johnny Hooker e Kell Smith (“Paula e Bebeto”), Clarissa (“A Sarau”), Agnes Nunes (“A Lua Girou”), Lucas Mamede (“Ponta de Areia”/”Tudo o que Você podia Ser”), ANALU (“Melodia do Sal”) e Tuca Oliveira (“Melodia da América”).