Moraes Moreira é O Carnaval Em álbum Em Que A

Moraes Moreira é o Carnaval em álbum em que a Orquestra Frevo do Mundo reanima hits foliões que romperam a fronteira entre Bahia e Pernambuco

Celebridades Cultura

Disco reaviva sucessos do artista com elenco que reúne Maria Rita, Lenine, Criolo, Otto, Firmamento e Luiz Caldas em gravações valorizadas pelos arranjos de sopros de maestros pernambucanos. Toga do álbum ‘Moraes é frevo’, da Orquestra Frevo do Mundo
Ilustração de Magoo Felix
Resenha de álbum
Título: Moraes é frevo
Artista: Orquestra Frevo do Mundo – com Agnes Nunes, Firmamento, Criolo, Davi Moraes, Lenine, Luiz Caldas, Maria Rita, Moraes Moreira (1947 – 2020), Trigueiro Veloso, Otto e Uana
Edição: Muzak Music
Cotação: ★ ★ ★ ★ 1/2
♪ Oito anos antes de Gerônimo e Luiz Caldas lançarem em 1985 pedras fundamentais da música que seria rotulada e industrializada com o rótulo de axé music, Antonio Carlos Moreira Pires (8 de julho de 1947 – 13 de abril de 2020) – o Moraes Moreira – eletrificou o Carnaval da Bahia e, de certa forma, antecipou a era do axé ao letrar Double morse (1975), tema instrumental do Trio Elétrico Dodô & Osmar.
Pombo correio, título da versão com letra, alçou voo em 1977 e abriu alas para a curso solo iniciada pelo novo baiano em 1975. Desde logo, Moraes Moreira rompeu as fronteiras carnavalescas de Bahia e Pernambuco ao criar frevos que seguiram o passo do gênero músico pernambucano com o tempero baiano dos trios elétricos.
Terceiro disco da Orquestra Frevo do Mundo, big-band formada em 2007 e idealizada por Marcelo Soares e Pupillo para reapresentar o frevo em outros passos, Moraes é frevo! é o melhor título da série por reanimar os hits foliões de Moraes Moreira com naipe de arranjadores celebrados no Carnaval de Pernambuco.
Os sopros orquestrados pelos maestros Duda (José Ursicino da Silva), Henrique Albino, Nilsinho Amarante e Spok reverenciam o compositor baiano sem inventar tendência e garantem a pulsação enérgica do disco criado por Pupillo e Marcelo Soares com Davi Moraes, rebento de Moreira.
Na ilustração de Magoo Felix exposta na envoltório do álbum, programado para ser lançado na sexta-feira, 19 de janeiro, a imagem de Moraes Moreira aparece entre uma sombrinha – símbolo do frevo que agita os Carnavais de Olinda (PE) e Recife (PE) – e um trio elétrico, situando o cantor e compositor no planta folião do Brasil em trânsito exposto nos versos descritivos de Vassourinha elétrica (1980), ouvidos na voz do pioneiro Luiz Caldas, que toca guitarra baiana, harmonizada na tira com os sopros orquestrados pelo maestro Henrique Albino.
Sobre as bases postas por Davi Moraes (guitarra), Kassin (reles) e Pupillo (bateria), os arranjadores sopram calor em orquestrações vibrantes que fazem a leito para o time de intérpretes acertarem o passo do frevo. O já citado Pombo correio, por exemplo, ganha a voz desenvolta do pernambucano Otto.
Maestros Duda (no eminente à esquerda), Henrique Albino (no eminente à direita), Nilsinho Amarante (embaixo, à esquerda) e Spok são os arranjadores do álbum ‘Moraes é frevo’
Divulgação / Montagem g1
Lenine também está em vivenda ao dar voz a Pernambuco “meu”, bissexta parceria de Moraes Moreira com Paulo Leminski (1944 – 1989) apresentada pelo artista no álbum Coisa acesa (1982) e desde logo nunca mais regravada. O conspiração de Henrique Albino pede que as vozes reproduzam as frases dos sopros, tentando repercutir o clima do Carnaval de rua.
Na sequência, vem a tira mais difícil do disco. Marcha-frevo criada em clima de quadrilha junina, Sarau do interno (Moraes Moreira e Abel Silva, 1981) marcou tanto o Brasil na voz matricial de Gal Costa (1945 – 2022) e no conspiração referencial de Lincoln Olivetti (1954 – 2015) que nem uma cantora do porte de Maria Rita, pondo a voz em boa gravação arranjada por Nilsinho Amarante, consegue fazer o ouvinte dissociar Sarau do interno do esquina de Gal e do conspiração de Lincoln.
Já Criolo impressiona por relembrar com nitidez o esquina de Moraes Moreira na versão-frevo da melodia Preta pretinha (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972). Pretérito o espanto gerado pela sensação inicial de que é Moraes quem canta na tira, a gravação flui muito muito com conspiração em que o maestro Spok referencia a regravação menos conhecida de Preta pretinha feita pelos Novos Baianos no passo do frevo para o álbum Vamos pro mundo (1974), o primeiro do grupo sem Moraes na formação.
Outro ponto eminente é Coisa acesa (Moraes Moreira e Fausto Nilo, 1982) pelo contraste entre a fervura do conspiração de Nilsinho Amarante e o esquina suave de Agnes Nunes, jovem artista baiana que reacende o frevo com o delicioso sotaque da terreno de Moraes. A tira é a única gravada com sintetizador, em menção ao solo de Minimoog feito por Robson Jorge (1954 – 1992) na gravação original do álbum Coisa acesa (1982).
Balada romântica apresentada por Moraes Moreira no álbum Mestiço é isso (gravado em 1986 e lançado em janeiro de 1987) com radiofônica pegada pop que conquistou os ouvintes das FMs, Sintonia vira um frevo-canção vintage na voz de Firmamento. A gravação emociona quando o conspiração de Henrique Albino abre espaço abre espaço para as vozes das cantoras do Conjunto da Saudade, remetendo aos Carnavais do Recife vetusto.
Em seguida, o disco reapresenta um dos frevos mais desconhecidos do cancioneiro de Moraes, Todo mundo quer, lançado pelo responsável no álbum Pintando o oito (1983) e até logo nunca regravado. Davi Moraes e Trigueiro Veloso se unem para reavivar, com conspiração de Henrique Albino, frevo pioneiro ao pregar a liberdade de gênero.
Apresentado em 1979 na regularidade do ijexá, Eu sou o Carnaval (Moraes Moreira e Antonio Risério) tenta seguir o passo do frevo na voz de Uana e no fúria do conspiração de sopros de Nilsinho Amarante.
No fecho do álbum, Moraes Moreira faz a sarau em Guitarra baiana (1975). A voz do cantor é a da gravação feita para o primeiro álbum solo do artista, mas, em Moraes é frevo, quem pilota a guitarra na tira de clima baiano é Davi Moraes – em encontro póstumo de pai e rebento – em conspiração sem sopros que abarca o surdo de Pupillo.
Mais do que o frevo, o álbum da Orquestra Frevo do Mundo lembra que Moraes Moreira era – e ainda é – o próprio Carnaval.
Time de intérpretes do álbum ‘Moraes é frevo’, da Orquestra Frevo do Mundo, inclui Lenine (no eminente, à esquerda) e Luiz Caldas (embaixo, à direita)
Fotos de divulgação / Montagem divulgação

Fonte G1

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