Por muito pouco, o Brasil não perdeu o talento de Amaury Pasos para nossos arquirrivais. Fruto de argentinos, ele nasceu em São Paulo, em 11 de dezembro de 1935. A família havia deixado o país durante o governo de Agustín Pedro Justo (1932-1938), sabido uma vez que “Dez Infame”, caracterizado por fraudes nas eleições e depravação. Posteriormente, com a doença da mãe, que morreu pouco depois, a família retornou a Buenos Aires, onde Amaury morou dos 5 aos 16 anos.
“Devo toda a minha formação à Argentina. Tenho profundas raízes lá”, costumava manifestar.
Mito do basquete brasílico, Amaury morreu na madrugada desta quinta-feira (12), segundo a Confederação Brasileira de Basquete. Ele estava ao lado dos netos e outros parentes mais próximos em São Paulo. O velório será sincero aos fãs e acontecerá na rua São Carlos do Pinheiral, 376, das 10h às 18h.
Em terras portenhas, o garoto começou a mostrar talento em vários esportes. Praticou natação, duelando nas categorias de base com Oscar Kramer, porvir medalhista de bronze nos 400 m livre no Pan do México-1955. De volta ao país, quando a família fugiu do governo populista de Juan Domingo Perón (1946-1955), deixou as piscinas e adentrou às quadras para treinar basquete e vôlei no Clube de Regatas Tietê. Versátil, também se aventurou no polo aquático, atuando pelo Paulistano, e no atletismo, no qual disputou competições universitárias nos 400 m, revezamento 4 x 400 m, salto em fundura e triplo.
A opção pelo basquete veio com a convocação para a seleção brasileira que treinava para o Mundial do Rio de Janeiro, em 1954. Aos 18 anos, o pivô do Tietê foi chamado pelo técnico Togo Renan Soares, o Kanela, a princípio, para completar o time suplente. Com a esfera nas mãos, o jovem se destacava pela precisão dos arremessos e pelo fôlego na marcação. Acabou uma vez que titular da equipe vice-campeã mundial ao lado de outro jovem, o fileira Wlamir Marques.
Para o Mundial seguinte, no Chile, em 1959, a seleção estava enxurro de ambições. O Brasil se firmava uma vez que uma das potências da modalidade ao lado de Estados Unidos e União Soviética. Mas a preparação não tinha zero do glamour atual. Amadores, todos exerciam outras atividades para sobreviver. Ninguém sonhava com os salários milionários da NBA, a liga de basquete norte-americana. Sem passar perto de um hotel cinco estrelas, o time ficou aninhado por 45 dias na ilhéu das Enxadas, na Baía de Guanabara (RJ), em uma base da marinha.
O lugar tinha má notabilidade. Havia sido prisão, em 1893, durante a Revolta da Armada, rebelião das forças navais do país contra o portanto presidente Floriano Peixoto. Também fora citada uma vez que moradia de detenção, no romance “Triste termo de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, de 1915.
“O Kanela [técnico da seleção brasileira] cortava a luz às 22h. A gente comprava lanterna para poder ler”, contava Amaury.
Diversão neste período? Só escapadas aos domingos para almoçar fora, acompanhados do treinador, preocupado com a alimento do elenco. Em um tempo em que não havia ramificação de funções na percentagem técnica, Kanela fazia as vezes de nutricionista. Na concentração, as opções de lazer eram baralho, dominó, xadrez e sinuca. No mais, treinos e treinos.
“Naquele tempo, tutelar a seleção brasileira era uma coisa romântica. Não havia verba para a gente. Só uma diária para lavar roupa”, lembrava Amaury.
No grupo que ficou três meses treinando para o Mundial destacava-se o veterano Algodão, mas os craques já eram Amaury e Wlamir. “Eram a Paula e Hortência da idade”, definia o ala-pivô Waldyr Boccardo, companheiro de equipe. “Amaury foi o melhor jogador de basquete da história do país”, assentia o camarada Wlamir. “Foi o jogador mais completo que o Brasil já teve”, concordava Otto Pohl da Nóbrega, integrante daquela seleção, que morreu em 2000.
Verdade. Com 1,91 m, Amaury começou a curso uma vez que pivô. Com a evolução da modalidade, foi jogando cada vez mais longe da cesta, primeiro uma vez que fileira e, no final da curso, de armador.
No Chile, a seleção brasileira classificou-se para a temporada final uma vez que primeira colocada de seu grupo, apesar de perder para a União Soviética. Porquê todo time vencedor também tem uma ração de sorte, os soviéticos se recusaram a enfrentar Taiwan, inimiga política da China comunista, sendo desclassificados, juntamente com a Bulgária.
Sem a fortíssima rival na temporada decisiva, a equipe brasileira mostrou soberania ao derrotar os Estados Unidos por convincentes 81 a 67. O jogo que garantiu o título foi contra os donos da moradia. Apesar da torcida contrária, que lotou a estádio montada em pleno estádio Pátrio, em Santiago, foi um massacre: 73 a 49. Amaury foi eleito o melhor jogador da competição.
Quatro anos depois, com Kanela no comando, e Amaury e Wlamir em quadra, o Brasil repetiria o feito no Rio de Janeiro. Uma novidade potência despontava: a Iugoslávia, que seria vice-campeã. Apesar disso, a seleção pátrio foi absoluta, com vitórias na temporada decisiva sobre Estados Unidos (85 a 81), União Soviética (90 a 79) e Iugoslávia (90 a 71).
No Mundial seguinte, no Uruguai, em 1967, Amaury ficou em terceiro lugar. Pela seleção brasileira, disputou ainda três Olimpíadas, sendo medalhista de bronze nos Jogos de Roma-1960 e Tóquio-1964. Ele dizia que essas medalhas, e não os títulos mundiais, foram suas principais glórias.
Foi também quatro vezes vencedor sul-americano (1958, 1960, 1961 e 1963) e duas vezes medalhista em Pans (prata em São Paulo-1963 e bronze na Cidade do México-1955). Além de Tietê, defendeu Sírio e Corinthians, para onde se transferiu em 1966, na equipe que contava também com Wlamir, Rosa Branca e Ubiratan, a base da seleção brasileira. Encerrou a curso em 1973.
Depois de tocar os negócios da família por quase dez anos, voltou ao basquete, uma vez que treinador, nos anos 80. Com a prancheta na mão, levou o Monte Líbano ao título paulista em 1982 e chegou a assistente técnico da seleção brasileira. Em 1995, defendeu o Brasil no Mundial de veteranos, ficando com o ouro.
Por conta da idade, optou depois por um esporte sem contato físico. Assim uma vez que Michael Jordan, a quem reputava uma vez que o “maior jogador da história”, praticava golfe.
E, também com o taco nas mãos, exerceu a mesma precisão com a esfera que um dia entusiasmou tantos torcedores nas quadras.