Morte De Senegalês Precisa De Investigação 02/05/2024 Djamila

Morte de senegalês precisa de investigação – 02/05/2024 – Djamila Ribeiro

Celebridades Cultura

Na última semana, mais de uma centena de imigrantes africanos, em sua maioria de origem senegalesa, se reuniram em protesto em frente à Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. Entre revolta, reza e saudade, o pedido de investigação rigorosa pela morte de Serigne Mourballa (Talla) Mbaye, morto depois uma operação policial questionável –para dizermos o mínimo– no prédio em que morava.

Talla caiu da janela do sexto caminhar. Segundo os policiais militares, depois uma abordagem, sem flagrante, de três senegaleses na rua, eles teriam recebido uma pista e chegaram ao prédio em que Talla residia. Tiveram sua ingresso assentida pela síndica e subiram ao apartamento, quando perceberam por uma fresta na porta diversos celulares na mesa, o que justificou a ingresso forçada. Talla, por sua vez, teria tentado fugir de forma desastrada e caiu da janela.

Todavia, a versão policial é contestada em diversos pontos. Questiona-se a primeira abordagem na rua, por não ter justificativa, senão um viés racial, para tanto. Questionam-se, ainda, a suposta pista e a ingresso no prédio, uma vez que a própria síndica afirmou ter se disposto absolutamente contra o ingresso no prédio, pois seria a quarta vez, pelo menos, nos últimos meses em que os policiais –em alguns casos os mesmos– subiriam aos apartamentos à noite, sem mandado, com resultado violento.

Conversei com Roberto Tardelli, legisperito contratado por Seio, matriarca da comunidade senegalesa do prédio e estilista de prestígio no Brasil. Ele esteve no prédio e no apartamento depois o ocorrido, entrevistou os moradores e fotografou o sítio. Tardelli questiona uma vez que seria provável, de conformidade com o figura da porta, ter havido uma “fresta” na porta que justificasse a ingresso. Ele também se pergunta sobre o “coincidente” desaparecimento dos registros das câmeras de segurança do prédio depois a ação policial. E requer, finalmente, a troca de “queda casual” por “morte a esclarecer” no sindicância policial.

O contexto de uma atividade criminosa por secção de Talla também levanta suspeitas na comunidade, uma vez que os imigrantes são, na grande maioria, muçulmanos devotos e levam a vida de conformidade com os princípios do Islã, entre os quais talvez o mais dispendioso seja não roubar, não praticar crimes. Talla era uma pessoa conhecida na comunidade, frequentador assíduo da mesquita dos Campos Elíseos, liderada por Mohamad Seye, e distribuía pão para imigrantes. Nunca, em mais sete anos no Brasil, teve passagem na polícia.

Mas não é só. Pois mesmo que todas essas evidências não fossem suficientes, uma vez que questiona Tardelli, uma vez que pode os policiais invadirem residências à noite e sem mandado? Para a abordagem de crimes sem violência, de conformidade com a Constituição Federalista, a mansão é inviolável no período noturno e deve-se esperar até a manhã para, munidos de uma ordem judicial de procura e inquietação, averiguar os itens dentro da mansão.

Some-se a isso, uma vez que já dito, os relatos uníssonos de dezenas de imigrantes senegaleses sobre a reiteração de invasões de suas casas pela Polícia Militar. Porquê a maioria vive do transacção no Núcleo de São Paulo, eles apontam ainda que seriam roubados nessas oportunidades pela própria polícia, que, a pretexto de investigar, entraria para subtrair perfumes, tênis de luxo e eletrônicos.

Ora, caso sejam acusações levianas e sem fundamento, é muito fácil contestá-las: basta apresentar o vídeo das câmeras corporais dos policiais que vêm efetuando essas operações. Do contrário, diante de uma recusa em apresentá-las ou na inexistência delas junto aos policiais naqueles momentos, devemos questionar a cúpula da corporação se esses agentes do Estado estão fazendo invasões em tamanho em residências de africanos em São Paulo, à noite, sem mandado e sem câmera, em clara ilegalidade da atuação.

A fé pública inerente à atuação estatal estaria, nesses casos, no mínimo saída.

Quero registrar minha solidariedade aos irmãos e irmãs de diáspora que choram a morte de Talla Mbaye.

Que sua morte seja rigorosamente apurada para não só empenhar o que ocorreu naquela fatídica noite, mas para que levante seja o evento catalisador para medir de que forma os imigrantes africanos vêm tendo seus direitos constitucionais violados no Brasil.


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Folha

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