João Machado Guedes, divulgado porquê João da Baiana, foi um compositor popular, cantor, passista e instrumentista brasiliano que nasceu no Rio de Janeiro em 1887 e é considerado um dos pioneiros do samba. Nesta sexta-feira (12), são completados os 50 anos de sua morte. Fruto de Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança, João era o caçula e único carioca de 12 irmãos.
O nome João da Baiana veio do traje de sua mãe ser conhecida porquê Baiana. Nascido na zona portuária, ele cresceu na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Novidade, no Rio de Janeiro, e foi companheiro de puerícia dos compositores Donga e Heitor dos Prazeres.
“João da Baiana foi do grupo de Pixinguinha Os Oito Batutas. Só que ele não viajou para a Europa [com o grupo], em 1922, porque tinha um tarefa fixo. Era funcionário público da Marinha e não foi para a França”, lembrou, em entrevista nessa quarta-feira (10) à Dependência Brasil o também compositor, radialista, apresentador e estudioso das questões afro-brasileiras Rubem Confete.
Segundo Confete, João da Baiana era um percussionista inédito. “Tocava o pandeiro adufe [pandeiro quadrado], quase um tamborzinho. E ele tocava com uma precisão incrível. Parecia que tinha uma bateria na frente dele.”
Uma vez que todo preto àquela era, João da Baiana chegou a ser perseguido pela polícia por vadiagem. Por isso, o senador Pinho Machado autografou o pandeiro de João e lhe disse que, quando a polícia chegasse e pedisse documento, que ele mostrasse o autógrafo. “Era um face incrível o João. Trabalhou na Rádio Vernáculo, onde fez muitos programas. Era uma pessoa gentil; ia para o 22º andejar [do prédio da rádio] e distribuía balas para as crianças; ficava conversando.”
Percussão no pranto
Rubem Confete destacou que João da Baiana teve valia fundamental para o pranto porque, antes, nascente gênero músico não tinha instrumento de percussão. “Era violão, cavaquinho, flauta, mas percussão, não. Ele, se não for o primeiro, é um dos introdutores da percussão no pranto. Deu um outro sentido, outro balanço para o pranto.”
João compunha também, transmitindo a veras de seu povo àquela era. São exemplos as músicas Batuque na Cozinha e Cabide de Molambo. “O que estava acontecendo com o povo preto daquela era. Ele é quase da era da extinção da escravatura. Era uma outra veras, com a Lei Áurea recém-assinada. Uma veras bastante miserável, mas com muita sarau.” As duas músicas foram lançadas por João da Baiana em 1968, durante a gravação do LP Gente da Antiga, com Pixinguinha e Clementina de Jesus.
As músicas foram regravadas posteriormente por Martinho da Vila. “Ele {[João] foi até o final junto com Pixinguinha e Donga”. No termo da vida, retirou-se para a Morada dos Artistas, no bairro de Jacarepaguá, zona oeste do Rio, vindo a falecer em 1974, aos 87 anos.
Rubem Confete recordou a elegância de João da Baiana. Usava um chapéu gelot, de estilo europeu, paletó do tipo jaquetão, gravata bordô com laço, calça risca de giz preto e branco e sapato de duas cores. “Ele se vestia de maneira elegante. Ficava ali no Largo de São Francisco da Prainha e cumprimentava a todos”. Rubem Confete conheceu João da Baiana entre 1952 e 1953. “Ele estava lá. Foi a primeira grande figura que eu conheci da Pedra do Sal; já era funcionário da Marinha e fazia trabalhos na Rádio Vernáculo.” Martinho da Vila deu uma recuperada nas músicas de João. “Para a turma novidade, a constituição era do Martinho, mas ele disse logo: ‘não é minha. É do João da Baiana’.”
Ranchos
Quando moçoilo, João frequentou rodas de samba e macumba que eram realizadas clandestinamente nos terreiros cariocas. Entre os 8 e os 10 anos de idade, participou de algumas das primeiras agremiações carnavalescas, chamadas ranchos, porquê porta-machado (figurante que abria os desfiles), no Rancho Dois de Ouro e no Rancho da Pedra do Sal. Nessa função, já empunhava o pandeiro, que aprendeu a tocar com sua mãe. A partir de 1923, passou a conceber músicas e a gravar em programas de rádio. Sua primeira constituição foi Pelo Paixão da Mulata, seguindo-se Mulher Cruel, em parceria com Donga e Pixinguinha, e ainda Pedindo Vingança e O Horizonte é uma Caveira. Em 1928, foi contratado porquê ritmista.
Além dos pandeiros, sua especialidade eram o prato e a faca, porquê instrumentos da tradição do samba, populares nas gravações da era. Integrou alguns dos pioneiros grupos profissionais de samba, porquê o Conjunto dos Moles, os grupos do Louro, da Guarda Velha e Diabos do Firmamento. Em 1940, participou da gravação organizada por Heitor Villa-Lobos a bordo do navio Uruguai, para o disco Native Brazilian Music, do maestro Leopold Stokowski, com sua música Ke-ke-re-ké. Na dezena de 1950, voltou a se apresentar nos shows do Grupo da Velha Guarda, organizados por Almirante, e continuou compondo até a dezena de 1970.
Atualmente, alguns pertences do músico integram o ror do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, entre os quais estão o prato e a faca, instrumentos que o consagraram.
Prova
De congraçamento com o Léxico Cravo Albin de Música Popular Brasileira, em prova prestado ao Museu de Imagem e de Som (MIS), João recordou que na era, o pandeiro era só usado em orquestras. “No samba, quem introduziu fui eu mesmo. Isto mais ou menos quando eu tinha 8 anos de idade e era porta-machado no Dois de Ouro e no Pedra do Sal. Até logo, nas agremiações só tinha tamborim e assim mesmo era tamborim grande e de cabo. O pandeiro não era igual ao atual. O dessa era era muito maior.”
Em 1966, em seguida seu nome ter sido escolhido por unanimidade pelo Juízo Superior de Música Popular Brasileira do MIS, foi convidado por Ricardo Cravo Albin para dar o primeiro prova sobre o equipamento. Seu histórico prova teve grande repercussão na prensa e inaugurou, junto à mídia, o próprio museu, até logo ignoto.
Em 2011, em convênio com o Instituto Cultural Cravo Albin, foi lançada pelo selo Discobertas a caixa 100 anos de música popular brasileira. No volume 1 está incluída a gravação do samba Cabide de Molambo, de João da Baiana, na voz de Paulo Tapajós.