O prédio do MAC USP (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo) ganhou o reforço das colunas e pilastras coloridas da obra concretista do pintor Luiz Sacilotto, comemorado em centenário com a exposição “Sacilotto Contemporâneo: Cor, Movimento, Partilha”, que estreou no final de setembro no espaço.
Quase que porquê pintasse para fora das telas, o artista paulista, morto em 2003, se estabeleceu porquê um dos expoentes do movimento concretista na pintura cá no Brasil, desenvolvida na dez de 1950. Na exposição que comemora seu centenário, 113 obras constroem a atmosfera artística de Sacilotto, nascido na cidade de Santo André (SP), em 1924.
A mostra traz os quadros e esculturas do artista que exprimem o esquadro e a estima do concretismo, movimento que tem porquê princípio a abstração construída por meio de figuras geométricas, porquê conta a cocuradora da exposição Renata Rocco.
“O concretismo aparece porquê esse grande disparador para se pensar abstração no Brasil. É a teoria de você se libertar da figuração. [A arte concreta] não representa. Ela é por si”, discorre.
Na mostra do MAC USP, as paredes bicolores, em vermelho e branco, convidam o testemunha a entrar, não só de cabeça, mas de coração, nas pinturas e esculturas do artista que levou o concretismo para sua vida e se faz presente com uma obra atemporal, porquê defende Ana Avelar, curadora da mostra.
“Ele tem uma ousadia que a gente vê hoje na voga, no design, na pintura. É um sabor muito contemporâneo”, exprime Ana.
As obras, em centena, trazem geometrias retangulares coloridas que se encontram, percorrem em paralelo pelas telas, se fundem em formas hipnóticas que dão ao testemunha um boda prestímano em tinta acrílica vibrante. “A cor é um pilar, o movimento é um pilar e a partilha é um pilar”, traduz Renata.
Dividida em etapas da vida do pintor, a exposição traça uma narrativa em cores e retângulos do processo artístico de Sacilotto, que foi operário em serralherias de Santo André.
A mostra inicia-se nas obras experimentais durante sua formação escolar em pintura na dez de 1940 na capital paulista, passando pela profusão de formas do seu momento concretista nos anos 1950 até o mergulho do artista 20 anos depois na op art (optical art ou arte ótica) –movimento artístico em que as pinturas são baseadas na ilusão de ótica.
Tais fases são vistas na obra “Trabalhador”, de 1946, em que Sacilotto usa regras mais tradicionais da pintura para criar um retrato com pinceladas expressionistas. Já em “Pintura IV, de 1951, figuras geométricas em esmalte e grafite esquematizam a passagem consagrada do pintor pelo movimento.
Mas é na obra “C 7960”, um óleo sobre tela de 1979, por exemplo, que os moldes vertiginosos da op art tomam as telas de Sacilotto. Compondo uma esfera na cor virente flutuante e hipnótica, a obra leva o testemunha a percorrer os desenhos geométricos e sentir que o quadro salta aos olhos, infla, dá voltas e corre solto.
Em “C 8189”, de 1981, esse olhar tridimensional, em tinta acrílica laranja e virente, faz o visitante dar voltas nos labirintos coloridos do artista em um esboço quadriculado que forma ondas à la prédio Copan, de Oscar Niemeyer e Carlos Alberto Cerqueira Lemos.
Para além da maleabilidade das tintas, Sacilotto também foi um estatuário do aço. O artista, que também foi operário em serralherias em Santo André, cidade operária por tradição, trouxe a experiência das máquinas para as esculturas.
“Ele sempre foi um trabalhador da indústria e artista. Ele parou de trabalhar formalmente porquê operário já idoso. Ele trabalhou em algumas empresas e depois teve um serralheria para a indústria. Ele era um operário mesmo”, conta Ana.
Renata cita ainda o conhecimento autodidata de Sacilotto e a ânsia do artista pelas linguagens dos números traduzidas em suas obras.
“Ele era esse artista muito generoso no compartilhar o seu saber e o seu fazer. Ele fala ‘Isso que eu faço é muito simples, é pura matemática, qualquer um pode fazer. E essa linguagem da matemática, ela fala com todos, ela é uma linguagem universal'”, conta Renata.
É verosímil ver tais anseios pela popularização da arte em esculturas gigantes instaladas em sua cidade natal. Em “Solidificação 0005”, uma estátua metálica de 4 metros em amarelo e vermelho vibrantes paira em Santo André para provar a força dos espírito artístico de Sacilotto.
“Ele queria que a arte que ele produzisse fosse atingível. E ela é. Ele acreditava que a arte poderia ser um instrumento de desenvolvimento humano”, conta Ana.
Apesar das fases do artista serem classificadas ora porquê expressionistas, ora hipnóticas, Renata esclarece que o pintor sempre teve a psique de concretista durante sua jornada.
“Ele era porquê um sustentáculo. Embora tenha trabalhado com a linguagem ótica e cinética, ele sempre se considerou um artista concreto. Ele não deixa o concretismo. Ele vai para outras questões, mas, teoricamente, ele ainda era um artista concreto!”
“Sacilotto Contemporâneo: Cor, Movimento, Partilha” traz, assim, a saga de um operário-artista –ou artista-operário– que ensinou pela forma e rijeza do aço a possibilidade do ser humano alhear o pensamento e erigir uma mentalidade forjada em cor e fluidez, mesmo que a verdade apresentada seja dura porquê o metal.