Mostra De Richard Long E Not Vital Se Inspira Na

Mostra de Richard Long e Not Vital se inspira na natureza – 06/10/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O suíço Not Vital escolheu pintar a tela “2 Self-Portraits” com um tom de branco desconcertante. Olhar para a obra é uma vez que encarar um declínio gelado. Já a maior segmento da pintura “3 Self-Portraits” é de um azul intenso e quase opressivo. Se observarmos a obra por tempo suficiente, a sensação que se tem é a de submergir lentamente em águas profundas.

Em edital na galeria Nara Roesler, no Rio de Janeiro, a exposição “Mães” oferece ao público a oportunidade de submergir na produção do artista suíço. Aliás, não só na produção dele.

A mostra, que marca os dez anos da filial carioca da galeria fundada em São Paulo, apresenta também obras de Richard Long, ganhador do prestigioso Turner Prize e um dos pioneiros da “land art” —movimento que incorpora elementos da natureza a obras de arte.

Em 2000, por ocasião da inauguração do Tate Modern, em Londres, o britânico expôs uma estátua feita de rochas e limo. Desta vez, ele escolheu apresentar na exposição do Rio troncos e uma grande pintura feita a partir da mistura de barro e chuva.

Fundadora da galeria que leva seu nome, Nara Roesler diz que a proximidade com a natureza é justamente um paisagem que liga os dois artistas —amigos de longa data que admiram a mãe um do outro. Por esse motivo, decidiram homenageá-las com essa mostra.

“O Richard sempre foi um artista viajante, portanto ele trabalha com o material que acha no meio envolvente, de pedras a gravetos”, afirma Roesler. “Já Not representa a natureza, muitas vezes por meio de animais. Só que ele usa outro tipo de material, uma vez que peças fundidas na China, por exemplo.”

Nascido na pequena cidade de Sent, na Suíça, Vital cresceu em um envolvente cingido por neve e montanhas. Não à toa, tons frios são prevalentes em sua produção.

Exemplo disso é a estátua “Pão de Açúcar”, que reproduz a famosa formação rochosa localizada na zona sul do Rio de Janeiro. No entanto, no lugar do marrom da rocha e do virente das vegetalidade, o que se vê é o branco produzido pelo uso do gesso.

“Quando eu era párvulo, lembro que nevou muito em um ano, portanto decidi erigir um túnel de gelo que virou o meu habitat”, diz o suíço, que tem obras em instituições uma vez que MoMA, Guggenheim e Bibliotheque Nationale de Paris. “No inverno, as aulas entram em recesso devido ao insensível. Portanto ficávamos meses sem fazer zero. Nesse período, aproveitava para erigir casas nas árvores.”

Essa risota se transformou em projeto estético. Not é célebre pelas obras que ele labareda de “scarch” – neologismo com a mistura das palavras estátua e arquitetura em inglês.

Diferentemente dos arquitetos, Vital não constrói esses monumentos por motivos utilitários. Não há banheiros, cozinhas ou quartos. As obras são antes de tudo uma linguagem poética e um invitação para contemplar a natureza. Os nomes de algumas delas deixam essa proposta evidente.

No Níger, ele construiu uma obra intitulada “Morada para Ver ao Pôr do Sol”. Já na Indonésia, ergueu a “Morada para ver os Três Vulcões”.

O arquiteto libanês Hashim Sarkis escolheu um dos “scarchs” de Vital para conceber a Bienal de Arquitetura de Veneza, quando fez a curadoria da exposição, em 2021.

Ele também já apresentou as obras em países uma vez que Chile, Filipinas, Mongólia, Suíça e Brasil, onde instalou na Amazônia uma estátua que lembra vagamente uma lar da árvore. A diferença, no entanto, é que a construção amazônica é subida, propriedade que está presente em boa segmento das esculturas do suíço.

É um elemento que tem a ver com o fascínio pelas montanhas de sua puerícia. “Se eu tivesse nascido na Holanda, que fica inferior do nível do mar, possivelmente meu trabalho não teria esse elemento.”

O artista leva um estilo de vida nômade. Ele tem casas no Rio, em Sent e em Pequim. Aliás, viaja frequentemente para erigir suas esculturas. “Não acho que viver em um apartamento a vida toda seja o ideal.” Essa postura inquieta se reflete em sua produção, marcada por obras que se adaptam aos locais em que estão inseridas.

“Se estou na Amazônia, não faz sentido erigir uma torre de ferro. Ela precisa ser de madeira”, diz ele, acrescentando que a estrutura foi tomada pela vegetação e por animais.

O artista, no entanto, não tem apego. “Pedi para não cortarem a grama e deixá-la crescer. Agora a obra é da natureza.”

Folha

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