Mostra Traz Material Inédito Do Criador Do Zé Do Caixão

Mostra traz material inédito do criador do Zé do Caixão

Brasil

Além, Muito Além do Zé do Caixão é uma exposição que traz não só material inédito sobre o personagem de filmes de terror, uma vez que procura resgatar facetas menos conhecidas de seu pai, o ator e diretor José Mojica Marins. “A minha geração, por exemplo, conheceu o Zé uma vez que um rosto de programa de auditório, uma coisa meio caricata, daquela figura com as unhas grandes. Não era todo mundo que sabia que o rosto tinha feito mais de 100 produções”, explica o curador da mostra, Marcelo Colaiacovo.

Nessa extensa curso, que começa na dez de 1940 e chega aos anos 2000, além do terror, Mojica dirigiu e atuou em filmes de faroeste, proeza, dramas sombrios (noir) e comédia. “Tem filmes de sexo explícito, que a gente deixou mais para o segundo marchar, uma coisa mais 18 anos”, completa Colaiacovo sobre a organização da mostra. Podem ser vistos cartazes dos filmes, objetos cênicos, trechos de algumas produções e colagens inéditas.

São Paulo (SP), 15/03/2024 - Mostra Além, muito além do Zé do Caixão, com curadoria de Marcelo Colaiácovo, homenageia o cineasta José Mojica Marins, no bar Soberano, em Santa Ifigênia. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 15/03/2024 - Mostra Além, muito além do Zé do Caixão, com curadoria de Marcelo Colaiácovo, homenageia o cineasta José Mojica Marins, no bar Soberano, em Santa Ifigênia. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

São Paulo – Mostra Além, muito além do Zé do Caixão homenageia cineasta José Mojica Marins – Foto Rovena Rosa/Escritório Brasil

Obras inéditas

“Quando o cinema acabou na Boca do Lixo, nos anos 1990 no Brasil, o Zé ficava recortando revista, recortando paisagens, juntava com coisas dos cartazes dele, xerocava, pintava com canetinha [caneta hidrocor]. Fez um trabalho de artes plásticas”, explica o curador sobre as obras que compõem o montão da família do artista, que morreu em 2020, aos 83 anos. Ele completaria 88 anos na última quarta-feira (13).

Outra raridade é uma cena perdida do primeiro longa-metragem A Sina do Aventureiro, um faroeste de 1958. A película foi digitalizada artesanalmente pelo curador e faz segmento do montão que está sob sua guarda. Segundo ele, havia quem dissesse que a cena desaparecida por décadas, em que Mojica contracena com duas atrizes em um cabaré, não existia. “Os especialistas falavam que era moca”, diz.

Boca do Lixo e Cracolândia

Para recontar a história de Mojica, Colaiacovo está resgatando também a história da chamada Boca do Lixo, superfície da região médio paulistana que foi um polo de produção cinematográfica, principalmente entre as décadas de 1950 e 1980. Junto com sua sócia e companheira, Renata Forato, reabriu o Bar Soberano, que era ponto de encontro dos artistas à idade. “O pessoal chegava cá com um roteiro, e as produções eram formadas na mesa do bar. Atrizes escolhidas, eletricistas, maquinistas, era um lugar muito democrático”, conta sobre o espaço que foi reaberto próximo à Estação da Luz, em meio à aglomeração de pessoas em situação de rua e com consumo imperdoável de drogas, conhecida com Cracolândia.

São Paulo (SP), 15/03/2024 - Mostra Além, muito além do Zé do Caixão, com curadoria de Marcelo Colaiácovo, homenageia o cineasta José Mojica Marins, no bar Soberano, em Santa Ifigênia. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 15/03/2024 - Mostra Além, muito além do Zé do Caixão, com curadoria de Marcelo Colaiácovo, homenageia o cineasta José Mojica Marins, no bar Soberano, em Santa Ifigênia. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

São Paulo – Mostra Além, muito além do Zé do Caixão homenageia o cineasta José Mojica Marins – Foto Rovena Rosa/Escritório Brasil

“A gente não teria uma vez que acessar esse lugar se ele não tivesse tão degradado. A gente fez uma parceria independente com o vetusto proprietário, porque era um lugar que, para ele, não valia a pena”, explica sobre uma vez que conseguiu realizar o sonho que alimentava há 15 anos de transfixar um espaço sobre a história do cinema da Boca do Lixo.

Durante a reforma para implantação do empreendimento, que funcionará uma vez que bar e meio cultural, o par se aproximou das organizações que oferecem atendimento à população desprotegida socialmente. “Fomos conhecendo todo tipo de coletivo, ONG [organização não governamental], artistas independentes e foi uma surpresa incrível de reverência com as pessoas, de ver uma vez que é provável mourejar com as situações mais difíceis de uma maneira humana”, diz.

O curador lembra, inclusive, que mesmo antes da chegada do crack, já havia uma população marginalizada naquelas ruas. “À idade da boca, do cinema, tinha um reverência reciprocamente com a marginalidade, a prostituição, o transgressão. O cinema cá era uma coisa rosto, que todo mundo respeitava: não ia vir cá alguém assaltar as atrizes porque o negócio ficava mal-parecido”, lembra Colaiacovo, que foi assistente de Mojica por 15 anos.

Ele também se diz tranquilo em mourejar com a trouxa controversa de segmento da produção de Mojica, uma vez que a violência e o machismo, vistos por vezes no seu principal personagem. “O Zé do Caixão é um malfeitor. Ele mata pessoas porque tem uma funerária. É um sádico que mata e ainda lucra”, explica sobre uma vez que o personagem é claramente um vilão e não há exaltação de suas condutas. “É um personagem desprezível”, enfatiza Colaiacovo.

São Paulo (SP), 15/03/2024 - Mostra Além, muito além do Zé do Caixão, com curadoria de Marcelo Colaiácovo, homenageia o cineasta José Mojica Marins, no bar Soberano, em Santa Ifigênia. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 15/03/2024 - Mostra Além, muito além do Zé do Caixão, com curadoria de Marcelo Colaiácovo, homenageia o cineasta José Mojica Marins, no bar Soberano, em Santa Ifigênia. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

São Paulo – Mostra Além, muito além do Zé do Caixão homenageia o cineasta José Mojica Marins – Foto Rovena Rosa/Escritório Brasil

Além do caixão

Os filmes feitos com inferior orçamento marcaram não só a história do cinema vernáculo, mas são referência do gênero em outras partes do mundo. Uma das filhas de Mojica, Liz Marins, lembra que o diretor norte-americano Tim Burton, nas vezes que esteve em São Paulo, se encontrou com o pai do Zé do Caixão e manifestou sua surpresa pelo trabalho. Burton comandou grandes produções em Hollywood, uma vez que os filmes Edward Mãos de Tesoura e A Mito do Cavaleiro sem Cabeça. “Papai foi uma das referências do Tim. É muito possante isso, porque o trabalho do Tim é maravilhoso também”, diz Liz.

Com originalidade, Mojica foi capaz de produzir cenas e efeitos que custariam muito mais do que os recursos que tinha disponíveis. Um desses momentos acontece, segundo Liz, em À Meia-Noite Levarei Sua Espírito, quando o diretor simula uma cena externa em um brenha, dentro de um espaço do tamanho de um quarto. O negócio é impressionante, ele correndo, perseguido por mortos-vivos pela floresta, você vai pensar que isso foi um cemitério. uma gravação externa. Nunca você vai imaginar que aquilo lá era pessoal correndo meio que em círculos”, diz.

O primeiro estúdio do pai do Zé do Caixão foi um galinheiro ajustado. De convénio com Colaiacovo foi ali que Mojica fez os primeiros filmes amadores na dez de 1940. De uma família de artistas circenses espanhóis, o curador da exposição conta que desde cedo ele esteve em contato com a arte e com o cinema, até por esse ter sido um dos negócios do pai. “O pai e o tio eram toureiros e artistas. Eles estimularam muito o Mojica desde pequeno. Quando compraram o cinema, eles moravam nos fundos”, conta.

A exposição pode ser vista na Rua do Triunfo, 155, no meio paulistano, de quarta-feira a sábado, das 10h às 16h. A ingressão é gratuita.

Fonte EBC

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