Mostras em são paulo posicionam cultura popular no centro

Mostras em São Paulo posicionam cultura popular no centro – 15/05/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

As esculturas da exposição “Popular, Populares”, em papeleta no Museu Afro Brasil, têm tanto movimento que parecem imaginar um filme esculpido em barro e madeira. Elas são porquê fotogramas que narram histórias de paixão, proeza e violência que se passam no interno do Brasil.

Pelas mãos do célebre Rabi Vitalino, ganharam forma cangaceiros empunhando armas e facões. Já José Celestino concebeu homens e mulheres brandindo cartazes com palavras de ordem contra a míngua e em prol da ensino. Por outro lado, Noemisa decidiu pôr em evidência a afetividade ao retratar noivos durante um tálamo.

Embora mostrem a rotina nos rincões do país, as obras passam longe da teoria de Brasil profundo. Enfim, o país que se revela nos trabalhos sempre esteve na superfície, só que nem todos estavam dispostos a enxergá-lo.

“Essa produção pode ser entendida porquê o coração do país, uma representação estética de uma certa brasilidade, aquilo que vem do nosso solo e do nosso povo”, diz Hélio Menezes, diretor artístico do Museu Afro.

Apesar de sua influência para compreender o Brasil, esses trabalhos ainda são vistos porquê uma produção menor dentro do rodeio artístico. Se atualmente recebem o nome de arte popular, no pretérito eram chamados de “naïf”, termo que significa ingênuo em francesismo.

O termo, hoje considerado pejorativo, faz referência a origem dos artistas. Essas figuras aprendem o ofício na prática, e não em espaços acadêmicos. Em universal, são pessoas negras e nascidas em regiões afastadas dos grandes centros urbanos.

É o caso, por exemplo, de Madalena dos Santos Reinbolt, conhecida por bordar paisagens rurais e urbanas usando linhas de pelo.

Em 2022, a artista ganhou uma exposição no Masp, o Museu de Arte de São Paulo, que atualmente está em papeleta no American Folk Art Museum, em Novidade York. Um de seus trabalhos, inclusive, abre a mostra do Museu Afro.

“Madalena não teve formação escolar em artes, entretanto realizou uma linguagem única e marcante”, diz Menezes.

Apesar do primor estético, Reinbolt só despontou mesmo depois de sua morte, em 1977. É um problema generalidade entre artistas populares, grupo frequentemente posto nas margens do setor cultural. Por vezes, essa lateralidade não é exclusivamente metafórica, mas também literal.

Quando assumiu o Museu Afro, no ano pretérito, Menezes percebeu que as obras desses artistas ficavam expostas nos corredores laterais que davam aproximação aos banheiros, uma extensão secundária da instituição.

“Esse foi um dos motivos que nos incentivou a realizar uma mostra no espaço sublime do museu, visível de todos os ângulos e de todos os andares”, diz Menezes.

No Museu da Imagem e do Som, a cultura popular também ganhou centralidade. Só que dessa vez por meio das imagens da fotógrafa Dani Tranchesi.

Nas fotografias, vemos o Brasil multicolorido da sarau do Boi Bumbá e o país referto de fé dos festejos religiosos.

“Foi fascinante captar esses instantes da vida das pessoas, uma vida que é muito dissemelhante daquela que tenho.” As imagens estão reunidas na exposição “Seja o que Deus Quiser”, título que dá pistas sobre o que o público encontrará na mostra.

Em sua prática artística, Tranchesi abdica do controle em obséquio da imprevisibilidade, o que torna suas imagens um registro de acontecimentos fortuitos. Isso pode ser visto nas fotos dos festejos de Iemanjá e de Santa Bárbara, em Salvador. “Eu paladar do que é inusitado, de trespassar e não saber o que exatamente vou encontrar.”

Entre 2019 e 2024, a artista percorreu diversas regiões do Brasil ao lado do Diógenes Moura , curador da mostra que também assina crônicas sobre as imagens.

Durante as incursões, a fotógrafa registrava os acontecimentos sem mirar numa sublimidade técnica. O objetivo era justamente preservar a espontaneidade das cenas. “Às vezes, a foto está um pouco torta, às vezes a pessoa passou de relance. É muito difícil ter uma imagem de alguém posando, mesmo.”

Um desses poucos registros é a retrato de dona Maria Helena, benzedeira de Juazeiro do Setentrião. No registro, ela está na frente de uma parede onde há inúmeras imagens religiosas, porquê quadros de Nossa Senhora e esculturas de Jesus Cristo. Na mostra do MIS, a expografia ressalta esse fervor religioso com um altar montado em torno da retrato, o que confere uma atmosfera quase sagrada à benzedeira.

Imagens que povoam o imaginário popular também permeiam a exposição “Andy Warhol: Pop Art!”, no Museu de Arte Brasileira da Instalação Armando Álvares Penteado, a Faap. No entanto, o que está em evidência não são representações sagradas, mas símbolos da sociedade de consumo.

Ao andejar pelos corredores expositivos, vemos as famosas telas que retratam Marilyn Monroe e as embalagens da sopa Campbell. Essas obras fazem secção de um conjunto com mais de 600 itens –a maior exposição do artista já realizada fora dos Estados Unidos.

“Pessoas que não têm um contato direto com a obra dele vão ter cá uma oportunidade de ver uma quantidade poucas vezes vista”, diz Marcos Moraes, diretor do Museu de Arte Brasileira. “É uma exposição que abre muitas perspectivas de discussão sobre o mundo de hoje, em que memes, internet e redes sociais estão pululando.”

Folha

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