Mudanças Nos Desfiles Das Escolas De Samba Do Rio Divide

Mudanças nos desfiles das escolas de samba do Rio divide opiniões

Brasil

A incorporação de um terceiro dia para os desfiles das escolas de samba do Grupo Próprio do Rio de Janeiro dividiu opiniões. A decisão foi anunciada pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) na segunda-feira (6). Os desfiles do considerado grupo da escol do carnaval carioca, em março de 2025, serão no domingo (2), na segunda-feira (3) e na terça-feira (4).

A ordem de apresentação ainda vai ser definida, mas já está claro que a Unidos de Padre Miguel, campeã da Série Ouro nascente ano, abrirá os desfiles de domingo. No segundo dia será a Unidos da Tijuca, 11ª colocada neste ano. Na terça-feira, a Mocidade Independente de Padre Miguel, 10ª colocada nascente ano, será a primeira a desfilar.

O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Gabriel David, destacou que a decisão, porquê costuma ocorrer na entidade, foi tomada em reunião plenária composta pelos presidentes das escolas de samba. Além de mais um dia de desfiles, a plenária decidiu que os mapas das notas serão fechados ao término de cada dia de apresentações.

Gabriel David é eleito presidente da liga escolas de samba do Rio - LIESA.  Foto: Instagram/@gabriod
Gabriel David é eleito presidente da liga escolas de samba do Rio - LIESA.  Foto: Instagram/@gabriod

Presidente da liga escolas de samba do Rio (Liesa) – Foto: Instagram/@gabriod

“Nenhuma decisão sobre regulamento, tanto a geração de um terceiro dia quanto o fechamento de notas em seguida cada dia de desfiles, não é uma decisão de uma pessoa na Liesa. Quem toma decisões de regulamento são os 12 presidentes de escolas de samba. Somente os 12 presidentes votam. Se tiver um empate, aí o presidente da Liga tem Voto de Minerva, o que não foi o caso em nenhuma dessas decisões. Todas as decisões de regulamento históricas dos últimos 40 anos, desde que a Liesa existe, são decisões tomadas em plenária, logo, não é zero dissemelhante do que acontece na história do carnaval”, esclarece o presidente da Liesa à Dependência Brasil.

Contra

O jornalista e redactor Fábio Fabato, responsável da sinopse do enredo Pede caju que dou…Pé de caju que dá!, com o qual a Mocidade Independente de Padre Miguel se apresentou nascente ano, não concorda com a geração de mais uma data para os desfiles.

“A meu ver, uma mudança perigosa, que altera radicalmente a própria natureza competitiva do desfile. Porquê confrontar, por exemplo, a primeira escola de domingo com a última de terça, já quarta de cinzas, com um distanciamento de 52 horas entre elas e os mapas sendo fechados em cada noite?”, indagou.

Para Fabato, o formato de domingo e segunda de carnaval permitia uma relação entre os dois dias. “Fere-se a própria estrutura de ‘saga madrugada adentro da sarau’, segmento de seu noção cultural pessoal, dissemelhante de line-ups estanques de festivais, por exemplo. Os dois dias conversavam entre si, já que o carnaval é uma disputa. Agora, parecem shows desconectados”, pontuou.

O jornalista está entre os que criticam a medida por entender que a procura foi por uma maior comercialização de camarotes. “Meu pavor é que, na ânsia pela camarotização do desfile, as escolas virem coadjuvantes do próprio espetáculo”, disse.

Fabato também não concorda com a forma porquê a medida foi tomada. “Uma decisão tomada de modo apressado, sem debate com sambistas e extremamente mal comunicada. Desde 1984, não havia um tanto tão traumático no sentido de mudança estrutural do carnaval. Era preciso mais diálogo”, defende.

Mudanças

Rio de Janeiro (RJ) - Livros inspiram escolas de samba do Rio nos enredos de 2024. Foto: Ana Cristina Vitória/Porto da Pedra
Rio de Janeiro (RJ) - Livros inspiram escolas de samba do Rio nos enredos de 2024. Foto: Ana Cristina Vitória/Porto da Pedra

Livros inspiram escolas de samba do Rio nos enredos de 2024 – Foto: Ana Cristina Vitória/Porto da Pedra

Já o pesquisador e jornalista Leonardo Bruno é favorável às mudanças. Para ele, a decisão é um dos momentos que mudam a história do carnaval, porquê foi a construção do Sambódromo.

“A princípio me parece uma boa teoria aumentar em um dia o espetáculo. A gente vai ter mais repercussão. A competição ganha em intensidade. Só me parece que quatro escolas por noite, me parece pouco. Talvez o ideal fossem cinco desfiles a cada noite, totalizando 15 escolas no Grupo Próprio. Vamos ver porquê vai ser essa experiência. As escolas ainda vão se harmonizar, ainda vão entender essa novidade que certamente vai ser um marco na história do carnaval carioca”, avaliou.

No entendimento de Leonardo Bruno, o fechamento dos mapas de notas a cada noite de desfile derruba um pilar de julgamento aplicado até nascente ano, que era o comparativo com a epílogo somente em seguida todas as 12 escolas se apresentarem.

“Agora em 2025, o que a gente vai ter basicamente é um julgamento comparativo dentro daquele próprio dia. O que vai ocasionar que o resultado do carnaval vai ser uma disputa entre as melhores escolas de cada dia. Isso vai mudar radicalmente a forma do julgamento. Porquê hoje em dia o julgamento enfrenta muitos problemas na medida em que ele é comparativo, mas os jurados têm, de certa forma, um olhar mais bondoso para as escolas de segunda-feira e não para as de domingo, acho que é uma forma de tentar uma teorema dissemelhante para ver se consegue lastrar melhor a disputa entre os dias”, explica.

“Não sei se é o melhor padrão, mas é uma tentativa de se fazer um julgamento mais equilibrado”, comentou, acrescentando que se a experiência não der claro, pode voltar ao padrão atual.

Liesa

Com relação à sátira de Fabato, o presidente da Liesa comparou a forma de decisão às decisões desse tipo que ocorrem em todas as ligas do mundo. “É assim nas ligas de basquete, de futebol, de futebol americano e por aí vai. São tomadas de decisões da liga, organização que cuida daquele julgamento e daquela competição. A gente entende que todas as mudanças surtem um primeiro efeito negativo. É super normal e acontece em todos os cenários que relatei”, defende.

Gabriel David acredita que, ainda que de todas as críticas feitas às mudanças, 99%, se não 100%, não são verdadeiras. “Não é verdade que foi uma mudança mercantil. Não é verdade que é por uma questão de lucro. A gente precisa lembrar que a Liesa é uma instituição sem fins lucrativos e as escolas são organizações sem fins lucrativos e que tanto presidente quanto vice-presidente e todos os diretores na Liesa são trabalhadores sem salário, sem remuneração. Essa mudança não muda financeiramente a vida de ninguém que está dentro da Liesa”, afirma.

Gabriel David contestou ainda a sátira de que deveria ter um número maior de escolas por dia, supra das quatro definidas nas mudanças. “Nesse momento isso afetaria também o grupo de aproximação. Pedem que não precisasse desabar de seis para quatro desfiles por dia, podiam ser cinco. São discussões que precisam ser colocadas no horizonte. A gente não pode mudar o formato de uma liga, de quem sobe e de quem desce, depois de resultados já alcançados porquê ocorreu no último carnaval”, disse.

O presidente da Liesa recordou que em 1984, quando os desfiles passaram a ser em dois dias e não mais em exclusivamente um dia, a mudança também gerou críticas. “A gente precisa lembrar da grande polêmica que foi quando o carnaval passou para dois dias. Falaram que aquilo era um contraditório, que nunca ia funcionar. Tenho certeza que se hoje a gente bota a discussão do carnaval para um dia só, ninguém não aceitaria ou consideraria essa teoria minimamente plausível. Mudanças surtem efeitos que às vezes são incompreendidos por um público que não está ali observando, principalmente, os bastidores dessa sarau, mas tenho certeza que em um horizonte muito próximo essas pessoas que estão criticando hoje entenderão as necessidades e valimento dessas mudanças”, concluiu.

Sambódromo da Marquês de Sapucaí - 12/02/2024
Viradouro - Foto: Alex Ferro/Riotur
Sambódromo da Marquês de Sapucaí - 12/02/2024
Viradouro - Foto: Alex Ferro/Riotur

Sambódromo da Marquês de Sapucaí – Foto: Alex Ferro/Riotur

Motivos

Gabriel David listou 11 motivos para explicar os impactos positivos da novidade distribuição de datas, que passam por maior presença de público; democratização do espetáculo com ingressos mais baratos; mais protagonismo com a programação estendida; maior retorno financeiro para o estado e o município com o movimento de turistas; mais segurança para os desfilantes nas concentrações das escolas, que ficarão mais próximas da ingressão na avenida; melhor logística de transporte das alegorias para a Sapucaí com um número menor de agremiações por dia; e mais numerário para as escolas por meio dos repasses financeiros.

“Caso isso surta um superávit maior correlacionada às vendas de ingressos do carnaval, é um numerário que é diretamente repassado para as escolas que são organizações sem fins lucrativos, e por consequência terão mais numerário para gastar com o carnaval e com as pessoas e artistas de carnaval. O objetivo é levar cada vez mais numerário para os sambistas que fazem de veste o carnaval suceder, que estão nos barracões e nas quadras dando vida ao que a gente vê todos os anos passando pela avenida”, disse.

O presidente da Liesa ressaltou ainda, entre os pontos positivos, o estabilidade na competição, porque todas as escolas poderão se apresentar antes do sol raiar, e assim, usar mais a iluminação cênica que foi destaque nos dois últimos anos. 

“Para proteger a competição a gente não pode percorrer o risco de ter uma escola tendo o seu desfile na totalidade na luz do dia. Isso impacta diretamente na competição e na forma com que cada escola vai desfilar. Elas têm que ter cenários mais semelhantes possíveis para que realmente seja uma competição neutra e vença a melhor”, explica.

Os fatores positivos ainda passam, na visão de Gabriel David, por mais saudação a direitos porque as empresas envolvidas no espetáculo terão quesito de fazer turnos menos exaustivos para os seus empregados.

Escolas mirins

Outro ponto realçado pelo dirigente é prometer o horizonte das escolas de samba, transferindo as apresentações das escolas mirins para a véspera do Sábado das Campeãs (8). “Com a mudança na Terça-Feira de Carnaval, dedicada antes aos desfiles mirins, a Liesa poderá atuar porquê coprodutora, em espeque à Aesm-Rio [Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro], passando a incorporar o evento dentro do calendário solene do Rio Carnaval. Isso trará ainda mais visibilidade, recursos e, principalmente, maiores possibilidades de desenvolvimento dos jovens sambistas, que são o horizonte do Carnaval”, comentou.

Mudanças nos desfiles das escolas de samba geram polêmicas. Foto: Eduardo Hollanda/Rio Carnaval
Mudanças nos desfiles das escolas de samba geram polêmicas. Foto: Eduardo Hollanda/Rio Carnaval

Apresentações das escolas mirins vão para a véspera do Sábado das Campeãs – Foto: Eduardo Hollanda/Rio Carnaval/Direitos reservados

A transferência de dia dos desfiles das escolas mirins é mais uma das mudanças previstas para o próximo carnaval decididas na reunião plenária da Liesa. Com um número de quatro escolas em cada dia de desfile do Grupo Próprio, o tempo de apresentação por noite vai diminuir, o que vai ser aproveitado para a realização de shows na avenida. 

De entendimento com Gabriel David, esse é mais um ponto positivo porque haverá a valorização do samba.

“Antes alheios aos pontos altos dos desfiles, os setores populares 12 e 13 serão prestigiados pela grande roda de samba que sucederá os quatro desfiles na Deificação, sempre em seguida a procissão de sambistas que acompanha a última escola. Com quatro escolas, o cronograma permitirá ainda que as agremiações apostem em esquentas com mais sambas-enredo tradicionais, dedicados ao setor 1”, disse.

Fonte EBC

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