Museu Da Língua Portuguesa Inaugura Mostra Sobre Línguas Africanas

Museu da Língua Portuguesa inaugura mostra sobre línguas africanas

Brasil

Fofoca, canjica, moleque, marimbondo e caçula. Algumas pessoas podem não saber, mas todas essas palavras – que já estão absolutamente incorporadas ao português escrito, falado e vivido no Brasil – são,em verdade, de origem africana. E é isso o que apresenta a novidade exposição em papeleta no Museu da Língua Portuguesa, que será inaugurada nesta sexta-feira (24) na capital paulista. A curadoria é do músico e filósofo Tiganá Santana.

Chamada de Línguas Africanas que Fazem o Brasil, a mostra confirma a presença africana no dia a dia do povo brasiliano em diversas formas uma vez que nos expressamos: seja pela vocábulo escrita ou falada, seja pela entonação, pelo vocabulário ou até mesmo pela forma uma vez que construímos nossos pensamentos.

Durante o trajectória, o visitante vai se deparar não só com experiências verbais, mas também com experiências não verbais que serão apresentadas por meio de vídeos, sons e instalações imersivas. A teoria é que o público não só conheça mais sobre as línguas africanas, mas também possa senti-las, “sorvendo o que se ouve e o que se vê”.

“É impossível falar de línguas africanas no Brasil sem considerar essas outras dimensões de linguagem e sem considerar as implicações do corpo nisso. Essa é uma oportunidade para a gente falar uma vez que a língua se faz presente nos tambores, nos gradis, na dimensão arquitetônica, nas estampas e no jogo de búzios”, disse o curador, em entrevista à Sucursal Brasil.

São Paulo (SP), 21/05/2024 - Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil, com curadoria de Tiganá Santana, no Museu da Língua Portuguesa. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 21/05/2024 - Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil, com curadoria de Tiganá Santana, no Museu da Língua Portuguesa. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

São Paulo – Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil é inaugurada no Museu da Língua Portuguesa – Foto Rovena Rosa/Sucursal Brasil

Essa presença poderá ser sentida também em outras manifestações culturais uma vez que a arquitetura, as festas populares e os rituais religiosos. E até em canções bastante populares uma vez que Escravos de Jó, jogavam caxangá. O trecho dessa cantiga, que aparece em uma segmento da exposição, mostra que o “jó” advém das línguas quimbundo e umbundo e quer expressar “morada”, “escravos de morada”.

“Escravizados ladinos, crioulos e mulheres negras, que realizavam trabalho doméstico e falavam tanto o português de seus senhores quanto a língua dos que realizavam trabalhos externos, foram a ponte para a africanização do português e para o aportuguesamento dos africanos no sentido linguístico e cultural”, disse Tiganá Santana, com base nas pesquisas da professora Yeda Pessoa de Castro.

Legado

As línguas dos habitantes de terras da África Subsaariana – uma vez que o iorubá, eve-fom e as do grupo bantu – têm participação decisiva na forma do português falado no Brasil e em nossa cultura de forma universal. De combinação com o Museu da Língua Portuguesa, essa é uma história e uma verdade que nos foram legadas por tapume de 4,8 milhões de pessoas africanas que foram trazidas de forma violenta para o Brasil entre os séculos 16 e 19, durante o período de regime escravocrata.

“Essa exposição é focada na presença das línguas africanas no português escrito, pensado e vivido no Brasil. Muito mais do que influências, essas línguas são constituição de uma vez que a gente pensa, do que a gente fala, uma vez que a gente escreve. Enfim, essa é uma oportunidade para que possamos falar de língua a partir de outro lugar, trazer à tona essas presenças que a colonialidade e o racismo trataram de dissociar da nossa consciência e é um ocorrência que chega pela urgência”, disse o curador. Ele lembrou que essa é , provavelmente, a primeira vez em que há uma mostra dedicada às línguas africanas no país. “Isso já deveria ter chegado há muito tempo e em vários lugares do Brasil”, acrescentou.

São Paulo (SP), 21/05/2024 - Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil, com curadoria de Tiganá Santana, no Museu da Língua Portuguesa. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 21/05/2024 - Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil, com curadoria de Tiganá Santana, no Museu da Língua Portuguesa. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

São Paulo – Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil é oportunidade no Museu da Língua Portuguesa – Foto Rovena Rosa/Sucursal Brasil

A mostra também discute a exiguidade do ensino de línguas africanas nos currículos brasileiros. “Essas línguas africanas não são uma abstração. As pessoas pensam com base nelas. Antes de a gente ter uma língua-cultura luso-brasileira, essa língua se africanizou. Ela se africanizou para ser brasileira. É por isso que a gente fala caçula e não benjamim; é por isso que a gente fala cochilar, não fala dormitar; é por isso que a gente tem fofoca, que vem de òfófó do Yorubá. E é por isso que temos as duplas negações e a queda do ‘r’ dos verbos no infinitivo, que são uma presença do tronco linguístico bantu. A língua brasileira e os corpos que falam essa língua fundamentalmente são constituídos por presenças africanas”, disse o curador.

Trajectória

Entre espelhos e búzios suspensos, conectando o mundo físico e o místico, a mostra tem início com a apresentação de palavras oriundas de línguas africanas e que fazem segmento do nosso cotidiano. O público será recebido com 15 palavras que foram impressas em estruturas ovais de madeira e que estão penduradas pela sala. Caminhando entre essas estruturas, o visitante poderá ouvir essas mesmas palavras gravadas pelas vozes de pessoas que residem no território da Estação da Luz, onde o museu está localizado.

Seguindo pelo espaço expositivo, os adinkras aparecem espalhados pelas paredes. Os adinkras são símbolos utilizados uma vez que sistema de escrita pelo povo Ashanti, que habita países uma vez que Costa do Marfim, Gana e Togo, na África. Eles podem simbolizar desde diferentes elementos da cultura até sentenças proverbiais inteiras em um único ideograma.

À parede de adinkras seguem-se duas videoinstalações da artista visual Aline Motta, que fazem com que o público passe entre um galeria de projeções e se sinta segmento da obra. A primeira videoinstalação é projetada no solo. Nela a artista destaca formas milenares de grafias centro-africanas, especificamente as do povo bakongo, presente em territórios uma vez que o angolano. Já a segunda obra é projetada em duas paredes e foi criada exclusivamente para o museu. Nela são apresentados quatro provérbios em quicongo, umbundo, iorubá e quimbundo, que são traduzidos para o português. Entre eles está o provérbio Luar Simples não é Sol.

São Paulo (SP), 21/05/2024 - Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil, com curadoria de Tiganá Santana, no Museu da Língua Portuguesa. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 21/05/2024 - Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil, com curadoria de Tiganá Santana, no Museu da Língua Portuguesa. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

São Paulo – Mostra Línguas Africanas que Fazem o Brasil, com curadoria de Tiganá Santana, é oportunidade no Museu da Língua Portuguesa – Foto Rovena Rosa/Sucursal Brasil

Outrossim, a exposição apresenta um planta dos fluxos linguísticos, esculturas de Rebeca Carapiá, tecidos da designer Goya Lopes e uma obra do multiartista J. Cunha, além de fotografias. Há ainda uma cenografia constituída por tambores e uma projeção criada pela artista Aline Motta, que explora trechos do texto Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, da intelectual Lélia Gonzales, que cunhou a sentença pretuguês.

A exposição se encerra com televisores exibindo registros de manifestações culturais afro-brasileiras e uma sala imersiva e interativa, que surpreenderá o público com projeções artísticas quando forem enunciadas palavras uma vez que axé, afoxé e zumbi.

Programação próprio

Além do espaço expositivo, a mostra se completa com uma programação paralela. Entre elas estão um clube literário e um sarau, informou Roberta Saraiva, diretora técnica do museu.

A exposição Línguas Africanas que Fazem o Brasil ficará em papeleta até janeiro do próximo ano, com ingressão gratuita aos sábados. Mais informações sobre ela podem ser obtidas no site do Museu da Língua Portuguesa.

Fonte EBC

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