Mais de 17,4 milénio espécies de vegetalidade, 3,3 milénio de fungos, 2 milénio de borboletas, 900 de aves, 625 de anfíbios, 350 de peixes de chuva gulodice, 320 de mamíferos e 300 espécies de répteis. Esses números colocam a Mata Atlântica entre as maiores biodiversidades do mundo, abrigando de 1% a 8% de todas as espécies conhecidas pelos seres humanos.
A Mata Atlântica é também um dos biomas ou domínios fitogeográficos – territórios que têm características de flora, clima e de relevo específicas – mais devastados do Brasil. Restam exclusivamente 27,7% do que havia há 500 anos detrás. O bioma abrange tapume de 15% do território vernáculo, passando por 17 estados, e é onde vive tapume de 70% da população brasileira.
Essas e outras informações, além de obras interativas, exemplares de vegetalidade, imagens, áudios e vídeo fazem secção da exposição Mata Atlântica: in-finitos encantos, do Museu do Jardim Botânico, ensejo ao público a partir desta sexta-feira (21).
Para a diretora do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), responsável pela gestão do museu, Daniela Alfonsi, a exposição é uma reflexão do que ainda se pode fazer para preservar a volubilidade brasileira.
“A Mata Atlântica é um espelho do que a nossa ocupação humana e a nossa devastação podem trazer de perda e ao mesmo tempo de experiências positivas de restauração. A grande mensagem dessa exposição é: ‘A gente precisa saber essa volubilidade, refletir sobre o que fizemos com isso ao longo dos séculos e pensar o que podemos fazer a partir de agora, para restaurar e para impedir que isso aconteça também nos nossos outros biomas brasileiros”, defende.
Saber para preservar
A exposição é dividida em três partes. A primeira apresenta a Mata Atlântica, que, além de floresta, é composta por restingas, manguezais e campos de altitude.
“A gente destacou alguns elementos por serem únicos. A Mata Atlântica tem muitos endemismos e coisas muito únicas que não têm em nenhum outro lugar do mundo. Quisemos trazer também aspectos da paisagem, diferentes texturas e cores. Muitas vezes, a gente, ao olhar uma mata, a gente enxerga só o virente, quando, na verdade, você tem uma gama de diferentes texturas e elementos oriundos da volubilidade do bioma. A gente quis trazer todos esses elementos em uma visão artística”, explica a curadora científica do Museu do Jardim Botânico, Marinez Siqueira.
Nesse espaço está, por exemplo, a representação da Xenohyla truncata, ou perereca polinizadora, o primeiro anfíbio polinizador sabido no mundo. Ao visitar as flores, essa perereca, que é rara nas restingas, ajuda na polinização das vegetalidade.
É provável também nesse espaço velejar em fotos de diferentes paisagens da Mata Atlântica em diferentes cidades brasileiras, além de ouvir o som da floresta e outros habitats. Há também exemplos da influência da natureza na cultura, uma vez que o álbum Da Vasa ao Caos, de Chico Science e País Zumbi, que denunciava, nos anos 1990, problemas socioambientais uma vez que a lazeira e alertava para a ruína dos manguezais.
“A natureza inspira também as tradições culturais. A humanidade é tão rica e diversa culturalmente porque a natureza é rica e diversa. A gente tem natureza uma vez que grande inspiração”, diz Daniela Alfonsi.
A segunda secção da exposição é um vídeo que traz o histórico da ocupação da Mata Atlântica, narrado pela atriz Dira Paes.
Já o terceiro envolvente é um invitação à mudança. O espaço traz exemplos de projetos e ações voltados para a preservação e restauração do bioma. Ali também os visitantes poderão plantar uma semente de uma vegetal nativa da Mata Atlântica. As sementes são de árvores do próprio Jardim Botânico. As vegetalidade que germinarem serão destinadas a projetos de reflorestamento.
“Você só consegue proteger aquilo que você conhece. E a gente tem uma instrução muito fraca ainda. Por que você ensina para uma moçoilo o nome de vários animais que nem pertencem a nossa fauna? Você sabe identificar uma zebra, um leão, um elefante, mas você não sabe identificar um ipê, um jacarandá, uma sumaúma”, ressalta Alfonsi.
Desafios
Em uma das paredes da mostra está a provocação: “Restaurar 15% de sua dimensão poderia evitar 60% das extinções de espécies previstas e sequestrar 30% do carbono do planeta. O que podemos fazer?” Os efeitos do desmatamento são muitos. Em 2024, oito dos dez municípios mais afetados por desastres climáticos estão em áreas de Mata Atlântica.
Segundo Marinez Siqueira os principais desafios para a restauração da Mata Atlântica são o tamanho do bioma e a falta de investimento em pesquisas e projetos efetivos. Trata-se também de uma ação de longo prazo. As sementes são plantadas agora para que as futuras gerações tenham os benefícios da fauna e da flora.
“É custoso, é trabalhoso e é demorado. Portanto, tem que se agir rápido e investir realmente nisso. É custoso, mas por outro lado, os valores dos serviços ecossistêmicos prestados são infinitamente maiores do que esse valor de restauração. A qualidade da chuva, qualidade do ar, firmeza climática, não tem nem uma vez que mensurar. Portanto, em relação os benefícios, não é custoso”, diz Siqueira.
Visitação
Além da exposição sobre a Mata Atlântica, o Museu planeja trazer vestígios dos demais biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Obstruído, Pantanal e Pampa. A exposição conta com patrocínio da Shell Brasil via Lei Federalista de Incentivo à Cultura.
Mata Atlântica: in-finitos encantos pode ser visitada a partir desta sexta. O horário de funcionamento do Museu é de quinta a terça, das 10h às 17h. A ingressão é gratuita.
Nesta sexta, o público contará com visitas especiais, mediadas pela artista visual Fernanda Froes e pelo biólogo e ornitólogo Luciano Lima, que participou do comitê curatorial da exposição. Haverá ainda uma programação privativo Flor da Lua, das 18h às 21h, com a roda de pranto Quarteto Sumaré e oficina de coquetéis com frutas nativas da Mata Atlântica, ministrada pelo mixologista Ryu Tokai. O evento é gratuito.