Musical Com Canções De Chico Buarque Mostra Seu Impacto

Musical com canções de Chico Buarque mostra seu impacto – 26/02/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

É alguma coisa uno que o vigoroso espetáculo músico “Nossa História com Chico Buarque”, que encerra, nesta sexta (28), uma curta temporada em São Paulo, transporte para o palco um enredo com foco em duas famílias. É provável estabelecer uma conexão entre a ambientação da peça com a presença da música de Chico nas casas dos brasileiros.

“Não sendo uma biografia do Chico, tínhamos de ter uma história”, diz o diretor Rafael Gomes, que criou o músico com Vinicius Calderoni. “É uma saga familiar, com as gerações se sucedendo. Foi mal a música de Chico chegou para mim. Tenho 49 anos. Minha avó escutava, meu pai escutava. Não tenho filhos, mas, se tivesse, eles certamente escutariam Chico.”

O curioso é que, de certa forma, a popularidade que Chico Buarque tem hoje, numa verificação com outros ídolos da MPB que completaram 80 anos há pouco tempo, é “familiar” também. Gerações mais jovens o conheceram em mansão, com pais e avós. “Indo além, acho que isso se dá de pessoa para pessoa. O jovem conhece em mansão e aí passa para um camarada, um namorado ou uma namorada”, diz Gomes.

O diretor destaca uma vez que Gilberto Gil e Caetano Veloso seguiram outros caminhos para estabelecer contato. “O Gil faz turnê com os filhos. O Caetano está sempre aparecendo, fazendo Instagram, trabalhando com músicos mais jovens. O Chico não. Tem a vida dele, é o jeito dele, quieto. O que eu observo, evidente que não é uma coisa estatística, é que a perpetuidade na música do Chico pelas gerações é um processo boca a boca.”

“Para mim isso é um sintoma da solidez da obra”, diz Calderoni. “O Chico é alguém que não se esforça para se inserir uma vez que um artista ‘atual’, ele é reservado em todos os níveis. Sua música é quase uma tradição vocal, no sentido em que os pais querem que os filhos escutem e dizem a eles que aquilo é uma coisa grandiosa que a nossa cultura produziu.”

Os espectadores de várias gerações reconhecem a maioria das mais de 50 canções executadas ao vivo, com uma orquestra e as vozes de atores uma vez que Laila Garin, Felipe Frazão, Heloisa Jorge e Artur Volpi. A ação é dividida em três períodos históricos: 1968, no recrudescimento da ditadura militar; 1989, tendo a volta da eleição para presidente uma vez que marco da redemocratização; e 2022, final do governo Bolsonaro num cenário de pandemia.

Gomes ressalta que o espetáculo não é um show, mas uma peça, com sustentação dramatúrgica. As músicas não interrompem a representação dos atores. O enredo, guiado por décadas pelo romance de Beatriz e Carolina, incorpora as canções uma vez que segmento dos diálogos. Os autores reconhecem que Chico favorece esse trabalho. Apesar de ser um letrista sofisticado, o compositor é extremamente coloquial em seus versos.

Há uma cena em que um parelha se separa. Ela canta os versos de “Trocando em Miúdos”. Ele canta “Sobre Todas as Coisas”. O diálogo está pronto nas letras originais, não há urgência de mudar uma vírgula do que Chico escreveu nessas canções. Para Calderoni, a obra do compositor é um arsenal quase infinito de ferramentas emocionais.

“Toda a cartela de cores das emoções está representada. Praticamente não existe nenhuma situação arquetípica que você não vai encontrar de alguma forma nas músicas de Chico.” Ele reafirma que criaram uma obra para homenagear Chico, usando suas canções, mas não é um show. “É uma peça que conta uma história. A dramaturgia precisa proceder no palco. A escolha das canções estava sempre subordinada a essa urgência.”

Calderoni lembra que o parceiro insistiu muito na fuga da obviedade. Ele cita uma de suas canções favoritas, “Futuros Amantes”, que poderia ter simbolizado o romance entre Beatriz e Carolina. “Em alguma medida, ela sintetiza, é um planta da história de paixão que elas vivem. Mas colocar as duas cantando seria um pouco uma vez que descrever a piada, elas iriam trovar aquilo que o público já está vendo.”

Essa sutileza na utilização das músicas fez com que a dupla modificasse incessantemente a montagem. Até entre a temporada carioca, no ano pretérito, e a estreia da temporada paulista, algumas coisas mudaram. Rafael Gomes fala também sobre o efeito do tempo sobre as canções.

“A obra do Chico está passeando pela vida das pessoas há muito tempo. As pessoas mudam. Por exemplo, estava definido desde o início que ‘Olhos nos Olhos’ seria cantada por um personagem gay. Um varão cantando para outro varão. Socialmente e culturalmente, está na cabeça de todo mundo uma vez que uma cantiga que a mulher canta para o varão. Eu queria quebrar essa heteronormatividade.”

Chico Buarque deu autorização plena para que a dupla criasse o músico. Mas ele não conseguiu observar durante a temporada carioca, precisou se ausentar do Brasil na era.

A empolgação da plateia, que aplaude veementemente e chega quase a uma catarse no ato final, que promiscuidade um pouco as épocas do enredo, certamente iria deleitar ao artista, que recentemente gravou uma participação no álbum “Sentido”, do grupo Cinco a Sedento, do qual Calderoni faz segmento. Chico canta na filete “Comédia de Erros”, num lance que ajuda a romper a imagem do gênio recluso.

Folha

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