Musical De 'torto Arado', Em São Paulo, é épico E

Musical de ‘Torto Arado’, em São Paulo, é épico e lírico – 19/11/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Itamar Vieira Junior ainda não havia publicado “Torto Arado”, o livro que o consagrou, quando assistiu “Ópera do Malandro”, peça estrelada por Larissa Luz em 2014. Na quadra, a performance na montagem de João Falcão impressionou o plumitivo, que hoje celebra o protagonismo da atriz e cantora no músico inspirado em seu best-seller.

Depois duas temporadas com ingressos esgotados em Salvador (BA), “Torto Arado – O Músico” estreia nesta quarta-feira (20) no Teatro Raul Cortez, no Sesc 14 Bis, em São Paulo, em uma montagem que arrebatou o plumitivo.

Ele não imaginava o romance, com uma história que se passa nas profundezas do sertão baiano, transformado em espetáculo de quina e dança. “Foi uma aprazível surpresa”, diz Vieira Júnior. “É uma linguagem que consegue mobilizar os sentidos e o público de uma maneira única”.

Com direção de Elísio Lopes Júnior, a encenação conta com 22 artistas —16 atores e seis músicos— e mergulha na cultura popular brasileira para recontar a saga das irmãs Bibiana —papel de Larissa Luz— e Belonísia —interpretada por Bárbara Sut.

Marcadas por um acidente na puerícia, elas vivem em condições de trabalho análogo à escravidão em uma rancho no sertão da Chapada Diamantina, na Bahia, onde lutam pela terreno e convivem com os saberes ancestrais da avó Donana —papel de Lilian Valeska.

Luz teve o primeiro contato com a obra por meio da mãe, professora de literatura e fã do livro. A atriz define a transposição do texto para o músico porquê um “bordar minucioso”.

No caso de Bárbara houve identificação. Sem imaginar que um dia interpretaria Belonísia, ela sentiu uma potente empatia pela personagem ao ler o livro e chegou a pausar a leitura no momento em que Bibiana se separa da mana.

“É uma personagem que me mobilizou muito”, afirma a atriz, também fã do plumitivo. Nos ensaios, ela precisou, aos poucos, se alongar da relação porquê leitora para incorporar a tradutor de uma mulher que ficou muda depois perder um pedaço da língua.

Já Lilian lida com o repto de envelhecer no palco, diante do público. Na preparação, passou por um processo multíplice de internalizar as vivências das mulheres do sertão baiano e, ao mesmo tempo, edificar a sua própria Donana.

“São muitos valores e questionamentos enquanto mulher preta. Cada vez que entro em cena revivo isso tudo, mas de uma maneira saudável”, relata. “É um presente, um repto”.

É a segunda adaptação de “Torto Arado” para o teatro. A primeira, com o nome “Depois do Silêncio”, da diretora Christiane Jatahy, conecta a obra de Vieira Júnior ao documentário “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, sobre a trajetória de João Pedro Teixeira, um líder rústico assassinado em 1962.

Na encenação atual, a relação entre a história de vida e morte contada pelo plumitivo baiano e a narrativa músico é ressaltada pelo diretor Elisio Lopes Junior por meio das religiões de matrizes africana e indígena.

“Elas cultuam cantando e dançando. Esse elemento é fundamental”, afirma. No romance e no músico, isso aparece por meio do universo dos encantados, seres espirituais que representam a ancestralidade.

Os movimentos do espetáculo são baseados no Jarê, religião de matriz africana presente na Chapada Diamantina e destacada no livro. “O que tento fazer com a estética e o vocabulário é tornar contemporânea essa visão e apresentar o que há de mais bonito e mais plástico dentro dos rituais”, explica o coreógrafo Zebrinha.

A música e a dança permitem a relação entre o lúdrico e o concreto, a venustidade e a dor, a trova e a austeridade do sertão e das vidas que ele abriga. Além do Jarê, os sons e os movimentos da natureza inspiram a encenação, em uma estética que inclui o estrondo do rio, o som dos grilos e o tempo do anoitecer, por exemplo.

Lopes Junior assina também a dramaturgia do músico ao lado de Aldri Anunciação e Fábio Espírito Santo. O espetáculo tem composições inéditas e ligadas ao cancioneiro nordestino interiorano, com direção músico de Jarbas Bittencourt.

Vieira Júnior não participou diretamente da adaptação, mas considera que os dramaturgos foram fiéis a pontos essenciais do livro. Curiosamente, ele relata que assistiu ao músico com o interesse de um testemunha generalidade, impactado pela linguagem e pela utilização dos recursos teatrais porquê cenografia, figurino e iluminação.

“Fiquei muito envolvido com a história, com a força dos atores, dos personagens. Fiquei impressionado com o trabalho que fizeram com o livro”.

O plumitivo revela ter fascínio pelas artes cênicas. “O espetáculo mexe com todos os sentidos. Essa é a magia que o teatro nos dá”, diz. A renovação diária, com encenações e público que mudam a cada apresentação, também encantam o responsável. Ele não descarta a possibilidade de, no porvir, ortografar uma peça.

“Torto Arado – O Músico” ficou dois meses em edital em Salvador e foi visto por 14 milénio pessoas. A maioria do elenco é procedente da Bahia, em uma decisão da produção de ressaltar a força do teatro lugar.

“Ter estreado perto do lugar onde essa história foi concebida, e perto das pessoas que entendem esse universo, nos deu uma sensação de pertencimento”, afirma o diretor. “Percebemos que ‘Torto Arado’ tem humor, tem dor, tem trova”.

Vieira Júnior escreveu o livro quando ainda trabalhava oito horas por dia no Incra (Instituto Pátrio de Colonização e Reforma Agrária), porquê servidor público. Era uma dedicação de quatro horas seguidas depois o expediente, em uma espécie de terceiro vez.

A obra, lançada em 2019, transformou a vida do plumitivo, hoje uma espécie de popstar em feiras literárias e eventos semelhantes. “Torto Arado” venceu os prêmios Jabuti e Oceanos em 2020 e foi traduzido em 30 países. Oriente ano, conquistou o prêmio gálico Montluc Résistance et Liberté.Também foi indicado ao prêmio Booker Internacional, que seleciona anualmente os melhores livros estrangeiros traduzidos ao inglês e editados no Reino Unificado ou Irlanda.

As adaptações para o teatro não são as únicas. “Torto Arado” já inspirou obras nas artes plásticas, espetáculo de dança e até tatuagens —sim, existem fãs que perpetuam imagens do livro na própria pele, compartilhadas em comunidades nas redes sociais.

Tantas demandas afastam o plumitivo do ofício, roupa que ele pretende contornar nos próximos meses. Licenciado do Incra, Vieira Júnior vai dar também uma pausa nas viagens para se destinar à próxima obra, baseada em conflitos fundiários que acontecem em Salvador desde a ocupação urbana da cidade, acentuada pelo êxodo rústico. Ainda sem nome, o livro encerra a trilogia de obras sobre a terreno que inclui “Torto Arado” e “Salvar o Incêndio”.



Folha

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