Nana Caymmi Faz Duo Com Renato Braz E Homenageia Tim

Nana Caymmi faz duo com Renato Braz e homenageia Tim Maia – 30/04/2024 – Mônica Bergamo

Celebridades Cultura

O cantor e violonista Renato Braz convidou Nana Caymmi para dividir com ele uma tira do disco “Canário do Reino”, que está gravando em homenagem a Tim Maia e que será lançado em julho.

É a primeira gravação da cantora desde o álbum “Nana, Tom, Vinicius”, lançado em 2020.

Nana, que completou 83 anos neste mês, escolheu a cantiga “A Lua e Eu”, de Cassiano e Paulo Zdanowski. Tim Maia era apreciador da obra de Cassiano.

O duo foi gravado na mansão de Nana, com comitiva do pianista Cristóvão Bastos, que fez o arranho também de duas outras músicas do disco, “Eu e a Brisa” e “Neves e Parques”.

Nana disse em um testemunho para a divulgação do trabalho que Braz “me encheu o saco o tempo todo”, e deu “graças a Deus” por ele “ser persistente e me dar coragem, e gravei”.

“Depois que fiz os discos do Tito Madi e do Tom Jobim, eu não gravei mais zero. Eu tive planos e projetos e não fiz”, seguiu a cantora.

No mesmo testemunho, ela lembrou da relação emocional que tem com “A Lua e Eu”, que gravou com seu fruto João Gilberto em 1988.

“A gravação de agora com Renato ficou linda e foi feita na primeira tomada. Foi despretensiosa. Eu dei uma embalada nela boa, com emoção muito possante. Eu gravei cá em mansão, coisa que nunca pensei em fazer. Gravar, para mim, são seis meses de trabalho difícil, orquestração, base. Eu boto voz direto, não boto voz em playback. Sempre cantei direto com os músicos. Por isso que tem outro toque. A emoção é muito grande.”

Já o paulistano Renato Braz diz que considera Nana a maior cantora em atividade no país, e sua maior referência em esquina feminino. Ele diz ainda que a estimula a voltar para os estúdios. “O Brasil precisa mais e mais do esquina de Nana”.

Braz enviou um testemunho à poste em que fala de sua mãe, da cantora Ângela Maria e da relação de tudo isso com a “tarde de sonho, de paixão incondicional” quando gravou com Nana Caymmi.

Leia a íntegra do testemunho:

Nana Caymmi, a Lua e Eu

Ângela Maria era a cantora favorita de minha mãe. Tive duas raras oportunidades de encontrar a Sapoti. A primeira delas num show coletivo em que eu, junto com Mônica Salmaso, Luiz Bastos e Márcia Lopes integrávamos o grupo Notícias D’Um Brasil do Eduardo Gudin. Era um show coletivo no Sesc SP, com vários artistas. Não cantamos juntos, quisera eu, mas fomos secção do mesmo concerto. E no camarim fiquei alguns minutos sentado, emudecido de frente para Ângela, sem coragem de cumprimentá-la.

Noutra vez, anos depois, no lobby do hotel Pirâmide em Natal (RN), voltando da passagem de som do show que faria no Teatro Alberto Maranhão, avistei Ângela e seu companheiro à espera do táxi. O produtor Zé Dias disse:

– Ângela Maria, a maior cantora do Brasil! Renato, cante alguma coisa para Ângela Maria.

– Zé Dias, não faça isso com o menino. Não o coloque numa situação dessas, isso é quebradiço! – advertiu ela, meio envergonhada.

Ângela ficou super constrangida com o pedido do efusivo produtor potiguar. E eu, sem graça, tirei o violão do estojo e cantei ali, ao pé do seu ouvido, uma canção que ouvi pela primeira vez na voz de Nana Caymmi, no bar Vou Vivendo. Era “Smile”, que gravei no meu primeiro disco.

Minha mãe tinha horror a auto-elogio. Achava indigno e sempre dizia em tom de desaprovação: ‘Meu fruto, hosana em boca própria é vitupério’. Isso me impediria de concluir essa história, pois Dona Dulce, a velha Índia, olhando lá de cima, vai querer me matar. Mas guardo esse valedouro hosana de uma das maiores cantoras do país:

– Menino, ouvir você trovar me lembrou o pescoço de minha mãe.

Fui chorar no banheiro. E ainda tenho que agradecer àquele persistente produtor –não fosse ele, eu nunca teria vivido esse momento tão feliz.

Nana está para mim uma vez que Ângela estava para minha mãe. Aliás, penso que Nana Caymmi é a mãe de todas as cantoras. Quando decidi tirar da gaveta um projeto de homenagem em disco ao meu ídolo Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, tive a teoria de invitar Nana para participar.

Já pegamos estrada juntos, fizemos vários shows pelo Brasil (eu, Nana, Dori e Danilo), mas nunca tínhamos gravado juntos. Pronto para iniciar a gravação do disco, liguei para ela e expliquei a teoria. Ela topou sem titubear. ‘Tô contigo nessa’, disse.

Dia desses finalmente gravamos sua participação no meu disco e foi um dos dias mais emocionantes que vivi na minha vida. Não é excesso proferir isso.

Que mulher maravilhosa, que cantora sensível, amorosa, precisa e de inteligência aliada a uma misericórdia. Nana nos recebeu em sua mansão com afeto e delicadeza. Eu, Cristovão Bastos e o Mário Gil, que fez a gravação. De quebra, ainda fomos premiados por ela e Cristovão, que tocaram e cantaram mais algumas peças, além da que gravamos pro disco, ‘A Lua e Eu’. Uma tarde de sonho, de paixão incondicional por Nana Caymmi.”

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

Folha

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