Quando a voz rouca de Silvio Luiz ressoava, não tinha porquê permanecer indiferente. Naquele momento, qualquer um que estivesse ao alcance de sua narração colocava o “olho no lance”.
Era mal o histórico locutor esportivo paulistano, nascido em 14 de julho de 1934, fazia para invocar a atenção dos torcedores para lances do futebol que poderiam terminar com a esfera na rede.
O bordão fazia segmento de um extenso repertório de frases bem-humoradas, com as quais ele se tornou um dos locutores mais icônicos do rádio e da televisão no Brasil, além de cruzar gerações, conquistando público também na internet.
Foram mais de mais de 50 anos dedicados à cobertura esportiva no país, uma paixão que ele exerceu até os últimos dias de sua vida.
Nesta quinta-feira (16), aos 89 anos, Silvo Luiz morreu em decorrência de falência de múltiplos órgãos. Ele estava internado no Hospital Oswaldo Cruz, para onde foi levado depois de passar mal durante a transmissão da final do Campeonato Paulista entre Palmeiras e Santos, no Allianz Parque.
Ele havia completo de narrar o segundo gol do time alviverde quando o humorista Márvio Lúcio, divulgado porquê Carioca, notou que o locutor não estava se sentindo muito. Depois de sinalizar a quesito dele para a equipe de produção, Silvio foi retirado do lugar por um agente do Corpo de Bombeiros. Ele deixou a cabine de transmissão com dificuldades para falar.
Em um primeiro momento, a família informou que ele chegou à unidade hospitalar muito e consciente, mas precisou permanecer internado para fazer exames e permanecer em reparo. Na segunda-feira (8), ao confirmar que o locutor estava internado, a Record citou em nota que o estado de saúde dele “era considerado bom pela equipe médica”.
Casado com a cantora Márcia, com quem teve três filhos, o narrador respirava o mundo do rádio desde a puerícia. Progénito de espanhóis, ele era fruto de Elizabeth Darci, pequena propaganda da extinta TV Tupi.
Antes de assumir a função de locutor, também foi repórter de campo e fez segmento da famosa equipe da TV Record que tinha Raul Tabajara porquê narrador e Paulo Planet Buarque porquê comentarista. No via, ele exerceu, ainda, por um tempo a função de diretor de programação.
Também passou por TV Paulista, Rádio Bandeirantes, via BandSports, Rádio Record, TV Excelsior, SBT, Band e Rede TV!, onde fez seu último trabalho em TV oportunidade. Atualmente, o locutor trabalhava no Portal R7 e na plataforma Play Plus, ambos da Record, onde dividia a bancada de transmissão com os humoristas Carioca e Globo (Marcos Chiesa).
O trio apresentava ao público uma transmissão opção ao protótipo da TV oportunidade, sem o compromisso de narrar fielmente cada lance, explorando mais piadas e imitações.
Apesar de ter sido um campo novo para Silvio, ele estava ligado nas transformações do mundo do dedo.
“Quem não consegue conviver com as redes sociais não está no mundo”, disse em recente entrevista para Folha, antes de lamentar a única restrição que tinha nas transmissões do R7. “Não pode falar palavrão. Se pudesse, conquistaria os jovens muito mais depressa”.
Talvez ele estivesse manifesto, mas seu dom de tornar as transmissões mais leves sempre foi o suficiente ao longo de sua curso.
Em todas as emissoras de rádio e TV, ele sempre manteve seu estilo irreverente, repleto de bordões, porquê “foi lá no gogó da ema”, quando um jogador acertava o ângulo do gol, “balançou o capim”, para falar que esfera entrou no gol, “vai mandar lá no pagode”, ao manifestar que um jogador iria cruzar na espaço, e “agora é fechar o caixão e beijar a viúva”, ao reportar um lance que definiu a partida.
Os mais marcantes, porém, foram “foi, foi, foi ele, o craque da camisa…”, para exaltar o responsável de um gol, e “pelas barbas do vidente”, quando qualquer desportista cometia alguma desumanidade.
Integrante de um seleto grupo de narradores de vozes inesquecíveis no rádio e na televisão, porquê Galvão Bueno, Luciano do Valle (1947-2014), Fiori Gigliotti (1928-2006), Osmar Santos, entre outros, Silvio era considerado porquê uma das principais referências da narração esportiva brasileira.
“Nós temos a descontração do Silvio Luiz, aquela transmissão apaixonada do Luciano do Valle e a técnica, vibração e emoção do Galvão. Esses três narradores são a base do que nós fazemos”, afirmou o também narrador Cléber Machado em recente entrevista à Folha.
Silvio tinha uma forma de conduzir suas transmissões que pode ser considerada precursora de um protótipo cada vez mais geral agora, sobretudo na internet, em que narradores e comentaristas passam mais tempo conversando sobre o jogo do que descrevendo lances.
Reconhecido pelos colegas de profissão porquê um narrador sengo aos detalhes e com grande capacidade de registro tudo que acontecia durante os jogos de futebol, ficou famoso por polêmicas que marcaram sua trajetória, incluindo uma causada justamente por pretexto de um palavrão.
Durante a transmissão de um Corinthians e São Paulo, em 1953, Silvio entrou em campo para ouvir uma combate entre o corintiano Luizinho e o são-paulino Gino Orlando e acabou registrando, involuntariamente, o primeiro palavrão de um jogador de futebol ao vivo pela TV, numa estação em que um pouco assim poderia levar até a suspensão da transmissão —o que não ocorreu, para consolação de Silvio Luiz.
“Que culpa eu tenho se ele falou que o juiz era fruto da p…?”, indagava o narrador sempre que era contava a história.