“Nebulosa de Baco”, da Cia. Stavis-Damaceno, é um espetáculo que transcende a mera narrativa, mergulhando nas profundezas do próprio fazer teatral e da psique humana. Com texto e direção de Marcos Damaceno, a peça se destaca pelas atuações impactantes de Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela, que dão vida a duas mulheres imersas em um labirinto de emoções e reflexões.
A montagem utiliza o metateatro porquê instrumento para explorar a tênue risco entre veras e ficção, vida e arte, ecoando a obra de Pirandello — uma das principais inspirações da dramaturgia —, onde as noções do que é e do que parece ser nunca se apresentam de forma clara.
O ritmo vertiginoso, característico da escrita de Damaceno, com seus pensamentos aparentemente desconexos, reflete a confusão e a dificuldade do mundo contemporâneo. A peça se apropria dos desafios e angústias inerentes ao trabalho do ator para expor fragilidades e incertezas que permeiam não somente o universo teatral, mas também os processos da vida em universal.
Em cena, Rosana e Helena interpretam atrizes que ensaiam uma peça dentro da peça, revelando a roda-viva de serem elas mesmas e, ao mesmo tempo, outras, personagens inventadas. Essa dualidade cria um jogo multíplice de camadas narrativas, levando o público a questionar a própria natureza da representação e da identidade.
As duas atrizes entregam performances poderosas, explorando a profundidade emocional de suas personagens — sejam quantas forem. Rosana Stavis, reconhecida porquê uma das maiores intérpretes do teatro brasílico, encontra em Helena uma parceira à profundidade. O jogo cênico entre as duas é intenso e envolvente, alternando entre drama e comédia em um texto que aborda questões dolorosas e difíceis, porquê os traumas causados pela violência e pelo doesto sexual na puerícia. Essa abordagem gera uma identificação profunda com a plateia, resultando em uma experiência teatral marcante e memorável.
“Nebulosa de Baco” está em edital no CCBB de Brasília até domingo (2) e a partir do dia 7 de março estreia sua temporada mineira. Em abril o espetáculo chega a São Paulo.
Três perguntas para…
… Rosana Stavis
A peça explora a tênue risco entre veras e ficção. Uma vez que essa dualidade se manifesta no seu processo de tradução?
A risco tênue é um fio embolado, um grande inextricável. Muito do que está na peça sou eu, minhas questões, minhas dificuldades, porquê atriz e porquê mulher. Sou e não sou. A peça desnuda o processo criativo de duas atrizes que se misturam com a minha veras, com o meu processo criativo. É um jogo, que embaralha tudo, o que é das atrizes e o que não é, o que é verdade e o que é ficção. Tanto que eu nem sei mais o que na peça é meu e o que não é, o que é verdade e o que é patranha, o que é real e o que é falso, ou melhor, ficção.
O espetáculo aborda temas sensíveis porquê violência e doesto. É uma preocupação da companhia sempre colocar essas questões em debate?
Uma coisa certa é que nossas peças não são propriamente para aprazer ou divertir. A gente traz questões que sabemos que perturbam, que incomodam, peças que não trazem assuntos que as pessoas irão necessariamente gostar. Mas que achamos importantes de serem tratadas e, principalmente, por serem questões próximas a nós, de mim e do Damaceno e de muita gente, infelizmente. Tem sido assim desde “Psicose 4h48”, que falava sobre depressão e suicídio. Quase todas as nossas montagens falam sobre isso, sobre perturbações mentais. Em algumas, a mente, os pensamentos, são o próprio lugar onde se passam as peças, isso mais explicitamente em “A Aforista”.
O título “Nebulosa de Baco” é bastante poético. Qual a relação do título com a temática do espetáculo?
O Damaceno tinha esse libido de despir o processo criativo das atrizes em cena, e faz esse jogo com as nebulosas, que, na astronomia, são o que há de mais lindo, fascinante e místico no universo. Misteriosas porquê as atrizes. E Baco é porquê está citado no programa: é ele quem inspira a transformação do caos interno em venustidade e frase.
CCBB Brasília – SCES, Trecho 2, Brasília – DF. Qui. a sáb., 20h. Dom. 18h. Até 2/3. Ingressos em ingresso.ccbb.com.br e na bilheteria do CCBB, a partir de R$ 15. Classificação: 18 anos.
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