Nilton santos, 100 anos 15/05/2025 esporte

Nilton Santos, 100 anos – 15/05/2025 – Esporte

Esporte

Ao festejar a vitória do Brasil sobre a Inglaterra na Despensa do Mundo de 1962, em texto publicado na revista Manchete, Nelson Rodrigues apontou que “não tínhamos rainhas, nem Câmara de Comuns, nem lordes Nelsons”. “Mas tínhamos Garrincha. E tínhamos Zagallo, o de canelas finíssimas e espectrais”, observou o historiador, antes de concluir: “E Nilton Santos, com sua salubérrima evo”.

Era uma referência à idade do lateral esquerdo, cuja convocação aos 37 anos havia sido bastante contestada. O carioca da Ilhéu do Governador quase recusou o chamado, mas foi convicto a disputar seu quarto Mundial, embarcou ao Chile e teve participação importante na conquista do bi.

Faz tempo.

Mas Nilton Santos, nascido em 16 de maio de 1925, é vasqueiro caso de memória muito preservada do futebol brasílico. Ainda que tenha jogado em uma estação de poucas imagens gravadas, é quase uma escolha unânime nas seleções mundiais de todos os tempos –está, por exemplo, na divulgada pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) em 1998.

Nesta semana de centenário, tem recebido homenagens do Botafogo, clube pelo qual atuou em toda a curso, e de seus torcedores. O próprio estádio usado pelo clube, construído no Talento de Dentro, na zona setentrião do Rio de Janeiro, para os Jogos Pan-Americanos de 2007, passou em 2017 a ser chamado de Estádio Olímpico Nilton Santos. Sua estátua, no setor leste, virou ponto turístico.

Não faltam craques na história do clube alvinegro, uma lista com nomes porquê Manga, Quarentinha, Didi, Garrincha e Heleno de Freitas. Mas o texto no qual a sociedade divulgou as celebrações dos século anos de Nilton apontou, sem o risco de cometer excesso, que ele é o “ídolo de maior identificação com o Botafogo de Futebol e Regatas”.

Santos defendeu o Botafogo de Futebol e Regatas de 1948 a 1964. Foram 723 partidas, até hoje o recorde do time, com quatro títulos do Campeonato Carioca e dois do Torneio Rio-São Paulo. Na seleção, triunfou nas Copas do Mundo de 1958 e 1962.

Cumpriu-se a profecia de Carlito Rocha, folclórico dirigente do Botafogo, que viu da arquibancada de General Severiano os testes de Nilton. “Você tem físico de resguardo. Esqueça o ataque, rapaz. Na resguardo, você será vencedor carioca, brasílico, sul-americano e mundial”, disse Carlito, segundo relato de Nilton.

A profecia, a muito da verdade, foi só parcialmente cumprida. Santos ganhou tudo, de vestimenta. Mas não esqueceu o ataque. Herdeiro de Domingos da Guia, tornou-se um protector com enorme apreço à globo e nunca foi afeito a chutões.

“Sou colega de puerícia de todas as bolas deste mundo”, afirmou, em 1962, ao historiador Armando Nogueira, de quem era próximo. Para Armando, ele “tinha o dom de aveludar a globo quase sempre áspera que ronda uma pequena espaço” e ousava “ir avante, com galas de atacante”, cometendo “essa rebuçado imprudência com a espontaneidade dos gênios da globo”.

Ponta-esquerda nas peladas em sua Ilhéu do Governador, Nilton Santos atuou em várias posições. Destro, foi à Despensa do Mundo de 1950 porquê suplente do viril Augusto na lateral direita e nunca perdoou o treinador –em sua biografia “Minha Esfera, Minha Vida” (1998), chegou a expressar que o Maracanazo fez muito ao Brasil, pois, “com a roteiro, caiu junto um mito de uma lanço do futebol brasílico: Flávio Costa”.

Nilton terminou a curso porquê quarto-zagueiro, mas foi mesmo na lateral esquerda que construiu seu nome. Não esqueceu o ataque e quebrou um paradigma ao tornar-se um lateral que se atrevia a cruzar a risco do meio do campo.

Ficou para a história o lance do segundo gol do Brasil na vitória por 3 a 0 sobre a Áustria, na Despensa de 1958. “Lembro até hoje”, disse Zagallo, em 2013, por ocasião da morte de Santos, aos 88 anos, em decorrência de uma pneumonia agravada por doença de Alzheimer e por insuficiência cardíaca.

“Ele arrancou para o ataque, e eu gritei: ‘Vai em frente que eu fico no seu lugar’. O nosso técnico [Vicente Feola] se desesperou, mas acabou aplaudindo quando o Nilton surpreendeu toda a resguardo adversária e fez o gol. A partir dali, os laterais nunca mais jogaram do mesmo jeito”, recordou Zagallo, ponta-esquerda no primeiro time do Brasil vencedor do mundo.

Esse é um dos episódios marcantes, alguns mais folclóricos do que outros. Há o treino no qual, humilhado pelo habilidoso jovem que fazia teste, Garrincha, aconselhou o Botafogo a contratá-lo. Há a malandrice da Despensa de 1962, no jogo contra a Espanha, com um passinho para fora da espaço para que o juiz desse falta, não pênalti, para o rival.

Há também o jogo Botafogo x River Plate, no qual Garrincha castigava o lateral Federico Vairo, com dribles desconcertantes. O centromédio Néstor Rossi, do River, reza a mito, recomendou ao companheiro, no pausa, que tocasse as pernas de Nilton: “Vai lá, anda, que o futebol de todos os beques do mundo está ali, naquelas pernas”.

É difícil confiar que o diálogo tenha se desenrolado nesses termos, mas Nilton Santos era a Enciclopédia do Futebol –sobrenome para o qual surgiram vários pais, em versões conflitantes, mas que foi espalhado pelo radialista Waldir Amaral. E nem o “futebol de todos os beques do mundo” o fez rico. Nilton se habituou a assinar contratos em branco com o Botafogo, aceitando o valor que o clube estivesse disposto a remunerar.

“Sempre fui um profissional com espírito de amásio”, afirmava, com genuína simplicidade, o carioca, capaz de vestir a camisa do Corinthians em espeque ao colega Garrincha, que tentava a sorte no alvinegro do Parque São Jorge, já no término da curso, em 1966. “É até uma honra. O Corinthians é dos grandes e agora tem meu colega Mané. Esta camisa é formosa mesmo, hein, Mané?”, brincou.

Foi também com simplicidade que desfilou na Vila Isabel, em 2002, homenageado no enredo “O Glorioso Nilton Santos – Sua Esfera, Sua Vida, Nossa Vila”. Frequentador da União da Ilhéu, chamou o tributo da Vila de maior emoção de sua vida.

O boa-praça Nilton era querido também pelos rivais e defendido nas raras ocasiões em que perdia a calma. Quando ele foi suspenso por um tapa oferecido no louvado Armando Marques, em 1964, uma das vozes que se levantaram em sua resguardo foi a do tricolor Nelson Rodrigues.

“Não ocorreu a ninguém que um tapa pode ter a sua moral profunda. Nilton Santos bateu por quê? Sim, por quê?”, escreveu Nelson, em sua pilar no jornal O Mundo, argumentando que Armando “espetou-lhe o dedo na faceta”.

“Eis o problema: – um juiz pode agredir um jogador não pode revidar?”, prosseguiu o historiador. “E, por fim de contas, o jogador que se portou porquê varão – e por isso mesmo – teria de ser desagravado, promovido, premiado. Um jogador não pode ser, nunca, a antipessoa.”

Nilton Santos nunca foi a antipessoa. E, no centenário de seu promanação, venerado por botafoguenses e não botafoguenses, brasileiros e não brasileiros, exibe o frescor de sua salubérrima evo.

Folha

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