Noite De São Paulo Em 2024 Resistiu Aos Cercamentos

Noite de São Paulo em 2024 resistiu aos cercamentos – 27/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A disputa entre a Prefeitura de São Paulo e a noite paulistana está em subida há alguns anos, desde quando a gestão Dória passou a vetar eventos que, até logo, aconteciam nas ruas da cidade.

Neste ano, festas e coletivos fizeram esforços para resistir aos cercamentos da gestão, mas o porvir da noite paulistana –que virou um ponto de atenção para o mundo todo, de onde se exportam DJs e sons– aponta cada vez mais para casas fechadas.

Para a comemoração de final de ano da sarau Mamba Negra, que em 2024 completou 11 anos de existência, a organização anunciou um evento de perdão e acessível no Tendal da Lapa no dia 14 de dezembro. Os planos mudaram um dia antes da sarau, quando os organizadores informaram que a gestão de Ricardo Nunes havia cancelado o evento citando um “risco de aglomeração”. A sarau destacou que entendeu o cancelamento porquê uma “decisão política contra a cultura LGBTQIAPN+ independente”.

A segurança no meio da cidade também é preocupação. Algumas festas até conseguiram realizar eventos na rua neste ano. A Vampire Haus, por exemplo, cuja última edição do ano aconteceu neste sábado (21), debaixo do Viaduto da Liberdade, reforçou o recado de atenção com os pertences e a dica de chegar e transpor somente com motoristas de aplicativo, evitando o caminho a pé até o metrô.

Essa atmosfera acabou favorecendo a sinceridade de clubes em andares mais altos do meio. Espaços porquê o rooftop no Prédio Martinelli, a novidade balada Ephigenia e o bar Matiz, abertos entre o termo de 2023 e o início de 2024, formam espécies de “ilhas” onde o público tem uma chance de experienciar, de certa forma, o meio da cidade, aproveitando a vista em vez de ocupar as ruas.

Fora do meio da cidade, o sucesso é de casas e espaços em lugares mais isolados, cercados por depósitos ou fábricas, para evitar as reclamações de fragor. A Fabriketa, no Brás, segue sendo a queridinha de festas porquê Carlos Capslock e Gop Tun. O Komplexo Tempo e o Teia Klub, espaços irmãos na Mooca, também receberam festas porquê DGTL e a Boiler Room.

A sarau inglesa, inclusive, esteve em São Paulo duas vezes neste ano –um testemunho do poder da noite paulistana internacionalmente. Com DJs porquê Slim Soledad, Mu540 e Mochakk e grupos porquê Teto Preto escalados para festivais internacionais ao longo do próximo ano, a música eletrônica da cidade atrai cada vez mais produtores e curadores ao volta do mundo.

Isso é mormente verdadeiro para o funk paulistano, que vive um dos melhores momentos de sua história. Um dos eventos da Boiler Room foi completamente devotado ao gênero, reunindo DJs que trabalham com a sonoridade de diversas maneiras. Uma vez que o DJ Blakes, espargido por tocar em bailes de favela porquê o Dança da Dz7 e o Dança do Helipa, e o DJ Bassan, que se apresenta em festas mais centrais. Uma compilação lançada pela rádio inglesa NTS em março reuniu 22 faixas de DJs e MCs da cidade.

Ao mesmo tempo, os bailes continuam enfrentando possante repressão policial e governamental, nas mãos de figuras porquê o vereador Rubinho Nunes, que se elegeu com mais de 100 milénio votos sob a promessa de perfazer com “pancadões” pela cidade. O vereador posta vídeos em sua conta no YouTube acompanhando operações policiais em bailes de favela. Em seguida uma operação feita em agosto, o Dança do Bega, em Paraisópolis, pausou suas atividades.

Nessa toada, o funk também migra para espaços mais centrais para evadir da repressão, em festas itinerantes porquê a Submundo 808 e casas porquê a Redondel Show, na Bela Vista.

Junto dele, outros ritmos cresceram nas pistas de São Paulo durante o ano. As tendências parecem mostrar para os extremos. Ao mesmo tempo em que se ouve muito funk automotivo e hard techno, gêneros de subida velocidade e intensidade, 2024 também foi um ano de evidência do house, tipo de música eletrônica com mais balanço e groove. Festas específicas do ritmo, porquê a Novo Affair, caíram no paladar do público paulistano.

Seguindo tendências globais, também foi provável ver exemplos do que a mídia internacional tem chamado de “latin club music” –ou música de clube latina, um termo guarda-chuva que contempla estilos musicais eletrônicos da América Latina– em pistas da cidade ao longo do ano. Os DJs Nick León e Lechuga Zafiro, segmento do importante selo colombiano TraTraTrax, se apresentaram respectivamente no Festival Não Existe, da Gop Tun, e na Mamba Negra neste ano.

Numa estação em que os festivais de música estão cada vez maiores e mais genéricos, apostando em nomes óbvios que arrastam multidões, os festivais de música eletrônica da cidade trouxeram curadorias muito mais interessantes e arriscadas.

Até mesmo o Tomorrowland, festival gigante que voltou a sobrevir em São Paulo desde o ano pretérito, entregou um line-up que tinha, além de suas usuais escolhas da música eletrônica mercantil, artistas mais lado B, porquê os DJs britânicos Bonobo e Cormac. Aliás, a música eletrônica mercantil vai muito em São Paulo, com megafestivais porquê o próprio Tomorrowland, Só Track Boa e Keinemusik esgotando ingressos na cidade.

Mas, para além de dançar, 2024 também foi um ano de refletir sobre a noite paulistana. A morte de Liana Padilha, voz do duo eletrônico NoPorn e figura importante para o underground da cidade, desbloqueou um turbilhão de memórias e lembranças de quem viveu um período peculiar nas baladas da cidade nos anos 2000.

Camilo Rocha contou segmento desta história em seu livro de estreia “Bate Estaca”, lançado em julho deste ano; e Erika Palomino também lançou uma reedição de seu “Babado Possante”, que trata da mesma estação por outros ângulos.

Neste termo de ano, o livro “Vidacobra”, da fotógrafa Ivi Maiga Bugrimenko, que registra a vida noturna underground de São Paulo há uma dez, também chega às livrarias. É um dos primeiros registros dessa estação atual da noite paulistana –uma das mais fulgurantes que já tivemos.

Folha

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