O Dilema De Marine Le Pen 09/07/2024 Wilson

O dilema de Marine Le Pen – 09/07/2024 – Wilson Gomes

Celebridades Cultura

É vasqueiro, mas acontece muito. Debates tipicamente acadêmicos entre especialistas na novidade vaga de partidos e movimentos extremistas no mundo se tornam temas de divergências no jornalismo.

Em toda secção, acontece o debate se Marine Le Pen e seu partido devem continuar sendo classificados porquê de extrema direita ou se, depois um enorme esforço de restauração de imagem, agora podem ser considerados porquê uma direita republicana, ainda que patriótico.

A “desdiabolização”, para usar a sentença que os franceses empregam, é um tipo de normalização que consiste na remoção de certas características presentes em uma imagem pública, no deslocamento de outras para o segundo projecto ou na soma de novos predicados que tornem o partido ou movimento mais palatável ao sabor médio dos eleitores.

No caso galicismo, foi crucial a remoção do antissemitismo, antissionismo e do racialismo, a moderação dos radicais do partido, a oferta de políticas sociais e um novo oração sobre gênero.

É preciso reconhecer que Marine Le Pen fez um esforço explícito e consciente para reabilitar o movimento herdado do pai, Jean-Marie. Sinal de que entendeu que não havia esperanças de superar o sarrafo republicano ainda cima da maioria dos franceses com uma oferta ideológica que seduzia somente os feios, sujos e malvados.

Por outro lado, qualquer discussão sobre a classificação de uma força política porquê extremista deveria partir de qualquer consenso sobre o que isso significa. Quem usa o protótipo histórico fascista porquê parâmetro dificilmente encontrará partidos fascistas bem-sucedidos nas grandes democracias.

A novidade extrema direita europeia não incorpora teses fundamentais dos fascistas, porquê o imperialismo expansionista, investidas contra a liberdade de mercado e o individualismo liberal, ou ataques explícitos à democracia e ao Estado de Recta.

O oração é protecionista do território, não expansionista; e há a crença de que a extrema direita é a última trincheira da democracia e da cultura contra a barbárie, não adversária delas.

Retoricamente, as várias extremas direitas vivem da promoção do alarmismo sobre identidades – nacionais, ocidentais ou cristãs – ameaçadas. Ou da promoção da crença de que “nós”, franceses, alemães, neerlandeses, italianos, portugueses etc., somos vítimas de um cerco de inimigos externos —as “hordas muçulmanas”, os migrantes africanos e sul-americanos— e internos, os complacentes com isso.

Por isso, reivindica uma poder mais possante do que a permitida pelas amarras constitucionais para mourejar com esse enorme problema. Eventualmente, nas bordas dos movimentos, há alguma glorificação da violência justificada pela resguardo dos interesses da identidade, mas é vasqueiro ver tais teses expostas publicamente.

Isso não é fascismo, mas quem disse que é preciso ser fascista para ultrapassar limites republicanos inegociáveis?

O vestimenta de não serem fascistas não os torna menos perigosos para aqueles que são meta de sua hostilidade. A retórica identitária que se alimenta de um antagonismo feroz entre “nós”, os nacionais sitiados em nosso próprio território, e os estrangeiros “inassimiláveis” que nos ameaçam, geralmente é sintoma de uma situação em que grupos já estão tomando medidas para mostrar aos migrantes todas as formas e cores da nossa repulsa.

Ao mesmo tempo, essa retórica funciona porquê uma autorização social ao racismo, às demonstrações de desprezo, às discriminações e à violência.

O pacote completo inclui muito mais do que o rótulo “xenofobia” é capaz de mostrar. Estrangeiros são responsabilizados pelos principais problemas sociais do momento: desemprego, delinquência, queda na qualidade dos serviços públicos, violência contra mulheres etc.

O foco está sempre nas ameaças —prostituição, drogas, crimes, estupros— e as diferenças são destacadas com ênfase nos estereótipos negativos, para mostrar porquê “eles” não aceitam nossos valores, trazem costumes estranhos para nossa pátria e se recusam a viver porquê nós, ao mesmo tempo em que consomem nossos recursos, diminuem nossas oportunidades e ameaçam nosso modo de vida e nossa soberania.

Lá porquê cá, não há extremismo sem que se apresentem antagonistas malignos, sem que se dissemine o sentimento de que somos vítimas de um cerco ou de uma ocupação de inimigos, sentimento que passa a justificar tudo, e sem que se difunda a sensação de que estamos em uma crise tão grave que não há solução tradicional capaz de resolvê-la.

Se os franceses se entregarão ao quina dessa sereia porquê nós o fizemos, o tempo, e não somente esta eleição, é quem dirá.


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Folha

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