Obras de Rebolo que retratam o bairro do Morumbi estão em mostra em SP

“No primórdio dos anos 1940, o Morumbi era pouco habitado. Havia chácaras e algumas granjas. Não se considerava um lugar para morar, as ruas eram de terreno, zero era asfaltado, não havia luz elétrica, chuva era de poço. Morar no Morumbi era morar no campo”. Esse foi o retrato que Lisbeth Rebolo, professora emérita do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam-USP) e professora titular de história da arte na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), traçou sobre o bairro paulistano daquela quadra.

A descrição feita por Lisbeth é uma recordação de porquê era o bairro na quadra em que seu pai, o grande artista brasílio Francisco Rebolo (1902-1980), vivia nele. “Luz elétrica só no termo do decênio 1940 e o asfalto na avenida Morumbi só veio a subsistir no início dos anos 1950. No Morumbi, tudo era silêncio e era provável ouvir o quina dos pássaros de manhã. Muito verdejante, cheirinho de mato, burburinho das árvores quando havia vento”, disse em entrevista à Filial Brasil.

Esse Morumbi mais rústico e escarificador – muito dissemelhante do atual bairro superior e residencial – foi diversas vezes inspiração para as pinturas de seu pai. E são esses registros de Rebolo sobre o bairro que serão objeto da novidade exposição Rebolo e o Morumbi: Conectados pela Natureza, que entra em edital neste domingo (22) na Instauração Maria Luisa e Oscar Americano, situada exatamente nessa região de São Paulo.

Porquê um dos primeiros moradores do bairro, o artista foi responsável pela produção de pinturas que se baseavam em diferentes referentes paisagísticos. Rebolo testemunhou um período de profundas transformações na cidade de São Paulo, que deixava de ser província para se tornar metrópole. 

O galerista Marcelo Guarnieri, um dos curadores da mostra, explica que o nome da exposição, Conectados pela Natureza, vem do indumento de que Rebolo foi um dos primeiros moradores do Morumbi, em uma quadra que a região era totalmente tomada pela natureza, o que possibilitava o manobra da paisagem sem a urgência de trespassar para muito longe de mansão. 

“O bairro do Morumbi é retratado porquê um tanto idílico, com matas, lagos e uma vida quase que rústico no meio da metrópole. Rebolo explora todas as nuances de verdes e de outras cores que a natureza proporciona”, acrescentou o curador.

O artista

Rebolo foi considerado um dos mais importantes paisagistas da pintura brasileira. Somando uma produção que ultrapassa 3 milénio pinturas, além de centenas de desenhos, gravuras e retratos, a obra de Rebolo segue hoje uma referência, marcando presença nos principais museus brasileiros, no montão de órgãos culturais e em coleções particulares de todo o país.

“Rebolo trata do tema ambiental, de preservação e reverência ao meio envolvente muitas décadas antes deste tema se tornar um emergência global”, ressaltou Sergio Rebollo, gestor, publicitário, neto do artista e presidente do Instituto Rebolo.

Em suas obras, contou o neto, o artista manifestava profundo reverência à figura humana, retratando-a sob o ponto de vista da justiça. “A mulher, o migrante e o imigrante, o operário, o cultivador, o PCD, todos estão presentes e são protagonistas em sua obra”, descreveu. 

“Sua obra nos traz personagens do trabalho cotidiano, porquê o trabalhador arando a terreno, o rachador, o operário. Com frequência, seus personagens estão imersos na paisagem. Nos anos 1930 e 1940, a perspectiva da arte social era muito potente no Brasil e também internacionalmente. Os artistas estão em diálogo com o seu tempo”, contou.

A mostra

Em parceria com o Instituto Rebolo e a Galeria Marcelo Guarnieri, a mostra apresentará 35 pinturas do artista que traçam um período entre os anos 1940 até 1980, quando o artista faleceu, deixando uma paisagem inacabada, que também faz segmento da exposição. Além das pinturas, a exposição trará fotografias de registro, publicações e objetos que fizeram segmento do ateliê do pintor.

A exposição integra as comemorações dos 50 anos da Instauração Maria Luisa e Oscar Americano e ficará ensejo ao público até o dia 14 de novembro. “É uma mostra muito significativa de um dos mestres da pintura de paisagem do Brasil”, disse Eduardo Monteiro, diretor cultural da Instauração.

Monteiro faz um paralelo entre a história de Oscar Americano, o bairro e o pintor. “Esse ano a instalação comemora 50 anos de existência e o bairro do Morumbi faz segmento da história do Oscar Americano. Porquê engenheiro especializado em engenharia pesada, Oscar Americano começou a comprar áreas no bairro na dez de 40 e foi o responsável pelo planejamento e urbanização de toda a região do Morumbi. Inclusive, na dez de 50, ele se mudou para o bairro com a família, na mansão onde hoje funciona a instalação. Paralelamente, Rebolo começou a frequentar o bairro no final da dez de 30 e, na dez de 40, ele também foi um dos primeiros moradores da região, onde encontrava uma inspiração para sua pintura de paisagens”.

Mais informações sobre a mostra podem ser obtidas no site da Instauração Maria Luisa e Oscar Americano. A ingressão é gratuita às terças-feiras.