Oh, Canada De Paul Schrader Vê Feridas Da Guerra Do

‘Oh, Canadá’ tem coragem de afrontar senso comum do cinema – 04/06/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Em sua uniforme guerra de atrito contra o facilitário do cinema mercantil, Paul Schrader nos lança com “Oh, Canadá” em questões tão antigas quanto relevantes. A pergunta mediano cá pode ser: o que é a vida de um varão? Não é a primeira vez que ela aparece uma vez que mote de um filme —houve “Cidadão Kane”, por exemplo.

A evidente diferença é que desta vez é o próprio personagem, o documentarista Leonard Fife, que procura revelar sua história e, com ela, mostrar aos seus próximos quem ele é. E, assim, Schroeder viaja entre as luzes e as sombras da existência de um varão.

Fife é um herói, o varão que se negou a lutar no Vietnã e fugiu para o Canadá. No entanto, ele experimenta sua vida uma vez que uma farsa —uma imitação da vida, uma vez que diria Douglas Sirk— e quer fazer um testemunho sobre ela, em que pretende revelar a verdade. Fife acredita que diante da câmera qualquer pessoa diz tudo. Acredita que ele também poderá expressar, pois entende do objecto, oferecido que é um famoso documentarista.

Temos portanto diante de nós um varão que teve a coragem de largar o seu país e que também fez uma curso de sucesso graças, entre outras coisas, a um documentário em que denunciou sinistras experiências com armas biológicas feitas por militares dos EUA. Mas, uma vez que um varão nunca é uma coisa só, cabe a pergunta —não só a nós, espectadores, mas sobretudo a ele, personagem—: será Leonard tão herói assim? Por fim, ele não foi tão valente diante do comitê de lista obrigatório, uma vez que se verá no filme.

Estamos cá num território de Tolstoi, de seu “A Morte de Ivan Illitch”. Também Leonard Fife está perto de uma morte dolorosa, e é portanto que revisa sua vida e decide descrever aquilo que nem Emma, vivida por Uma Thurman, sua mulher, sabia.

Fife se vê, diante da câmera, testando a sua teoria sobre a magia da câmera uma vez que o lugar em que o varão se revela por inteiro e diz o que nunca diria em outra condição —com exceção da psicanálise, de onde tomou emprestada a teoria. Por isso, convoca um colega para filmar o testemunho em que pretende dar conta de seus segredos.

São segredos ou escolhas? É ao narrar sua vida que Leonard revela que se tornou famoso devido a uma filmagem meramente casual. A glória logo se transforma em um posto de prestígio uma vez que professor e, em seguida, lhe permite dissertar sobre o tema da verdade.

Fife acredita, entre outras coisas, que a imagem confronta a verdade —uma vez que se fosse uma luta, uma guerra. Ao mesmo tempo, o filme inteiro mostra que as escolhas de um varão são quase sempre ambíguas, têm sentidos diferentes, por vezes opostos. O que fazer com eles? Assumir um sentido? E o que fazer com os outros?

No caso de Leonard, suas escolhas foram sempre confortáveis. Engravidou uma moça, mas nunca nem foi ver o fruto que ela teve. Quando recebe a visitante desse fruto, continua a desconhecê-lo. Quando é festejado uma vez que grande documentarista por estar no lugar patente, filmando a esmo, e ter captado um evento importante, aceitou o que outros lhe diziam.

Sim, era o rosto que deixou seu país para não lutar na guerra: um herói antibélico. Ou, secretamente, seria um mero covarde? A verdade tem várias faces, não vasqueiro contraditórias, talvez convivendo entre si.

Schrader, que roteirizou o clássico “Táxi Driver”, tem a coragem de reptar o siso generalidade do cinema, onde os heróis são heróis e ponto. Está implícito que despreza a mania de procurar heróis por toda segmento, mas talvez dificulte a vida de seu testemunha. Pede dele muita atenção.

Com isso, em vez de fazer simples flashbacks de volta ao pretérito, mistura não vasqueiro figuras de presente e pretérito. Assim, podemos ver Richard Gere na pele do velho Leonard conversar na leito com uma amante dos tempos de juventude. Pouco depois, Leonard reaparece, mas é o jovem Leonard, papel de Jacob Elordi.

Cada pessoa convive com seu pretérito —o tempo está longe de ser linear. Mas “Oh, Canadá” nos joga no labirinto de um varão, o que não facilita a vida do seu testemunha e pode mesmo, é de temer, afastá-lo do filme.

Leonard Fife não é, enfim, tão dissemelhante dos outros protagonistas que Schrader costuma dar a ver: são seres complexos, contraditórios, em universal machucados e em procura de alguma luz sobre si mesmos. Com isso, ele nos deu seus mais recentes trabalhos —”Fé Corrompida”, “O Contador de Cartas”, “Jardim dos Desejos”.

Além da construção enxurro de bifurcações, “Oh, Canadá” acrescenta um tanto principal a essas obras notáveis: a teoria de que um varão nunca é somente ele mesmo. Ele carrega um lado simples e um escuro, tem a luz, mas também sua sombra.

Fife vive seu pretérito com culpa, mas o filme nos mostra que ninguém é uma coisa só: acerto e erro, coragem e pusilanimidade são próprios do humano. O heroísmo é apanágio dos personagens de cinema.

Folha

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