Olimpíada De Paris 2024 é Questionada Por 'faxina Social' 27/03/2024

Olimpíada de Paris-2024 é questionada por ‘faxina social’ – 27/03/2024 – Esporte

Esporte

Em um site de reservas, o Hotel d’Olivet é o sexto melhor (nota 3 em uma graduação até 5) dos sete da pequena Olivet, cidade de 22 milénio habitantes na periferia de Orléans, 120 km ao sul de Paris. “Pior não existe”, diz o observação de um internauta. “Meu antebraço e minha cintura foram atacados por percevejos”, escreve outro.

A discussão está ligada aos Jogos Olímpicos deste ano, uma questão recorrente em grandes eventos esportivos: a querela do que é chamado de “faxina social”.

Uma campanha que reúne 86 ONGs e associações de escora a pessoas em situação vulnerável denunciou que autoridades francesas estão retirando de Paris sem-teto e migrantes e pressionando trabalhadores do sexo e usuários de drogas a deixar a capital.

O nome da campanha, “Le Revers de la Médaille” (“O Revirado da Medalha”), é uma referência explícita aos Jogos. Entre as entidades que aderiram estão algumas das mais respeitadas na França, porquê a Emmaüs, e no exterior, porquê a Médicos do Mundo e o Observatório Internacional das Prisões.

“A relação com os Jogos Olímpicos é imediata, porque em algumas expulsões estão ocorrendo ao lado das sedes de competição, porquê em Saint-Denis, e o poder público não dá explicações”, disse à Folha Antoine de Clerck, um dos líderes da campanha e diretor da Refugee Food, ONG que capacita refugiados políticos para trabalhar em restaurantes.

As denúncias de “La Revers de la Médaille” vinham tendo pouca repercussão até o início desta semana, quando o prefeito de Orléans, Serge Grouard, convocou a prelo para fazer uma denúncia: desde maio do ano pretérito mais de 500 pessoas foram despachadas pelo governo para sua cidade, de 115 milénio habitantes, e alojadas no hotel da vizinha Olivet.

Segundo ele, a cada 20 dias um ônibus chega de Paris lotado de sem-teto e migrantes. Em três semanas, são redirecionados por assistentes sociais e substituídos por novos “hóspedes”. Outras nove cidades francesas também estariam recebendo os sem-teto.

“É tudo feito às escondidas, é particularmente chocante”, diz Grouard, do partido Republicanos, de direita. “Orléans não tem vocação para acoitar a colina do crack”, acrescenta, referindo-se à cracolândia de Paris, que fica em Porte de la Chapelle, bairro do setentrião da capital francesa.

O prefeito pediu explicações ao ministro do Interno da França, Gérald Darmanin (partido Renascimento, considerado de meio), cuja pasta cuida de temas porquê a política de transmigração e a segurança dos Jogos Olímpicos.

O ministério nega a existência de qualquer operação sistemática. O supremo que admite é a geração, desde o ano pretérito, de novos centros de guarida temporário de migrantes, espalhados pelo país e sem relação com os Jogos.

O Comitê Organizador de Paris-2024 disse à Folha, em nota, estar “muito vigilante a eventuais impactos” de suas operações “sobre a ajuda às pessoas em situação de exclusão e precariedade”, que faz “todo o provável para que soluções concretas sejam levadas às pessoas cuja situação, já muito difícil, for impactada nos locais onde o evento ocorrerá”.

A organização acrescentou que desde setembro pretérito o governo da região parisiense, a polícia, a prefeitura de Paris, os serviços de saúde e associações “trabalham juntos para prometer o seguimento social dos sem abrigo suscetíveis de ser impactados pelas instalações temporárias dos Jogos”.

Lamia El Araaje, porta-voz da prefeitura de Paris, afirma que a prefeita Anne Hidalgo (Partido Socialista) “denuncia há muito tempo” as expulsões de sem-teto.

“Há seis meses nós lutamos, mas não houve nenhuma mudança. Ao contrário: tem havido uma aceleração das expulsões e das intimidações”, acusa Antoine de Clerck. Um exemplo, segundo ele, é o recrudescimento do que no Brasil é publicado porquê “rapa”, tendo porquê meta camelôs que atuam em torno da Torre Eiffel, em “operações esconde-miséria que não adiantam zero, porque você tira um, e na mesma hora outro toma o lugar”.

Para lançar a campanha, os responsáveis estudaram o histórico de outros megaeventos esportivos, porquê os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. “Aconteceram coisas catastróficas no Rio”, diz De Clerck, referindo-se à remoção de moradores da Vila Autódromo, comunidade vizinha ao parque olímpico carioca. “Guardadas as devidas proporções, há 15 dias uma bidonville [favela] de 200 pessoas, que existia desde 2017, foi evacuada em Antony, ao sul de Paris.”

O caso histórico mais emblemático, segundo ele, foi o dos Jogos de Inverno de Vancouver, no Canadá, em 2010. Os organizadores assinaram um compromisso de luta contra a exclusão que tinha 27 itens; unicamente três teriam sido cumpridos.

Acusações de qualquer tipo de “faxina social” ocorreram em virtualmente todas as Olimpíadas recentes. Em Sydney-2000, mendigos foram retirados do meio turístico. Em Pequim-2008, as “hutong”, ruelas repletas de barracos que são comuns na capital chinesa, ficavam escondidas detrás de tapumes, e os táxis as evitavam nos trajetos com estrangeiros. A construção do parque olímpico de Londres-2012 provocou a gentrificação de uma região desfavorecida da capital britânica.

Um recenseamento feito no mês pretérito por uma ONG parisiense contou 3.492 pessoas dormindo nas ruas de Paris, uma subida de 16% em relação a um ano antes. Em uma passeio pelo meio da capital francesa, é generalidade encontrar pessoas em situação de rua, tentando se proteger do inverno, dormindo sob as pontes do rio Sena, nos túneis do metrô ou em cima de grades de arejamento, por desculpa do ar quente. Também é frequente vê-las sendo abordadas por policiais.

Folha

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