Oliviero Toscani, Da Benetton, Criticou A Publicidade 13/01/2025

Oliviero Toscani, da Benetton, criticou a publicidade – 13/01/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O fotógrafo italiano Oliviero Toscani, morto aos 82 anos, fez alguns do cliques mais marcantes e provocadores da história da publicidade. O ex-diretor artístico da marca italiana United Colors of Benetton por décadas foi referência da chamada “propaganda de choque”, que fez suas imagens serem censuradas por diversas instituições e órgãos pelo mundo afora.

Os críticos argumentam que a Benetton faz marketing com imagens chocantes, porquê a de uma pessoa doente, com Aids, e a de um ósculo entre um padre e uma madre. Esse debate esteve no núcleo de um entrevista que Toscani deu aos jornalistas Mauricio Stycer e Nelson Blecher, publicada na Folha de 11 de outubro de 1993. Releia a conversa aquém.


Qual é a teoria da última campanha da Benetton (a marca ‘HIV Positive’ tatuada nos personagens da publicidade)?

Não é uma teoria. É uma verdade. Quem é soropositivo é discriminado pela sociedade, pelos amigos, pela família, pela escola…

De que forma essa campanha contribui para diminuir a discriminação?

Se a pessoa se der conta de que existe uma discriminação de indumentária, já terá sido importante, já terá sido positivo.

Há críticos que veem nesta campanha, porquê em outras da Benetton, exclusivamente uma procura do impacto pelo impacto. O sr. não teme que, de tanto motivar impacto, a publicidade da Benetton acabe não causando mais nenhum impacto?

Não faço campanhas procurando motivar impacto. O teor das minhas campanhas criam impacto porque, finalmente, a publicidade mostra que pode ser um meio útil.

Útil para quê?

Para mim não existe diferença cultural entre imagens. Uma imagem de publicidade vale tanto quanto uma imagem de jornal. As imagens estão criando a cultura moderna, sejam elas imagens de publicidade, de jornal, de televisão, de livros, sejam de panfletos. Para mim é tudo igual.

Por que a comunidade publicitária é tão sátira em relação ao seu trabalho?

Somente por emulação. Grandes agências não têm originalidade.

O sr. quer expressar que a média dos publicitários não tem originalidade?

Não! Não a média. Nenhum publicitário tem originalidade, eu acho. Um dia, os arqueólogos virão à Terreno escavar para ver porquê era feita a nossa sociedade e acharão um mundo de verdade, onde havia Aids, guerras, Iugoslávia, onde havia Brasil, favelas, crianças morriam de míngua, e depois encontrarão o mundo imaginado pela publicidade, que não tem zero a ver com o mundo real. E para fazer esse mundo lerdaço, imbecil, esses publicitário gastam milhões de dólares. Não tenho nenhum reverência pelos publicitários. Considero-os verdadeiramente burros.

O que é, para o sr., a publicidade?

A publicidade não existe. A publicidade é qualquer coisa que é pública.

Porquê será a publicidade do próximo século?

A publicidade será um meio de notícia porquê outro qualquer, que devemos usar de modo útil e inteligente. Você sabe quais são as únicas palavras ditas em todo o mundo da mesma forma e que todos entendem?

Não.

Coca-Cola.

E táxi?

Não. Táxi se pronuncia dissemelhante em cada país. Não é porquê Coca-Cola. Incrível, não? Todos sabem o que é, que sabor tem, qual a sua cor e porquê se escreve. Epílogo: somente a publicidade foi capaz de gerar o esperanto.

O sr. ambiciona o mesmo para a Benetton?

Não! Dei a Coca-Cola exclusivamente porquê exemplo de que se pode exprimir com a publicidade.

A falta de palavras na publicidade Benetton se explica por essa tentativa de obter uma notícia global?

Esta é a primeira razão. Depois, tenho a seguinte teoria: a vocábulo escrita quer sempre encontrar a verdade. E, a verdade, no término, nunca é encontrada. Enquanto que a imagem é mais verdadeira do que a verdade. É tão verdadeira que pode até incubar.

Não é verdade. As novas tecnologias permitem mudar e retocar as imagens sem que ninguém perceba.

Mas é sempre uma verdade. A vocábulo criou a torre de Babel. A imagem resolveria o problema da torre de Babel.

O sr. não retoca nunca uma retrato?

Não… Essa é uma discussão mais filosófica do que técnica. Todos podem falar de Deus. O sr. pode redigir de Deus. Mas eu não posso fazer uma retrato de Deus. Logo, tudo o que se fotografa deve ser real, não pode ser zero além de real?

Qual a campanha Benetton que o sr. mais gosta?

Esta última, com certeza. Porque é a mais simples, é a mais eficiente e a mais “cortante”. Num visível sentido, a crueldade desta campanha revela também sua nobreza.

Porquê nasceu essa campanha?

Eu estava em Minneapolis, no centro-oeste americano, quando vi num telejornal lugar um rapaz que foi nu à escola com uma tatuagem no braço: “HIV Positive”. O diretor da escola não estava preocupado em entupir o sexo do rapaz, mas em entupir essa tatuagem. Isso me impressionou muito. O sentimento de culpa da sociedade diante desta verdade é inacreditável!

Neste momento, o sr. teve o estalo da campanha?

Sim. Aquele rapaz queria sensibilizar a opinião pública para o indumentária que o Estado não faz tanto quanto deveria fazer pelos soropositivos. A discriminação é um problema muito atua. Entre os próprios soropositivos, há muita discriminação. Um soropositivo que contraiu o vírus em uma transfusão de sangue não quer ser misturado com o homossexual. Isso é inacreditável!

Qual foi a reação de Luciano Benetton a esta campanha?

Ele gostou muito. Disse que ganhamos muita credibilidade com essa campanha.

Por que a Benetton prefere a mídia impressa à TV?

Eu prefiro. Porque a TV é muito rostro e pretexto menos impacto.

É verdade que o sr. não permite que seus filhos assistam televisão?

Não é que não permito. Ensino-os a fazerem coisas mais interessantes. Testemunhar televisão é uma perda de tempo. Faz mal ao cérebro. Na minha lar, não há televisão. Se não há, ninguém procura. Sou contra a televisão porque ela é um instrumento passivo. Não se aprende zero quando se é passivo. Uma hora de TV ao mês basta! Compreende-se tudo com uma hora ao mês, em qualquer lugar do mundo, porque a televisão é burra no mundo inteiro.

O sr. conhece alguma coisa da publicidade brasileira?

Não. É boa?

Há coisas boas e coisas ruins, porquê em todo lugar.

Há duas categorias que arruinaram o mundo nos últimos 50 anos: os projetistas de arquitetura e os publicitários. Os publicitários fizeram um sinistro cultural. Um dia, haverá um Tribunal de Nuremberg para a publicidade. Os projetistas de arquitetura italianos arruinaram o país. A Itália era um “bel paese”, agora está enxurro de casinhas de cimento. Eles engessaram a Itália!

Por que a Benetton aboliu as imagens de produtos em sua publicidade?

O resultado existe no catálogo. Não adianta mostrá-lo na publicidade. Pense na publicidade da Olivetti: de qual resultado o sr. se lembra? São muitas imagens. É assim com qualquer marca. Todo mundo sabe que a Benetton produz roupas. Não precisamos mostrar. Vá na loja e veja. Temos lojas em todos os lugares.

Essa última campanha (“HIV Positive”) não pode passar a sensação de que a Benetton deseja que todos os soropositivos se identifiquem ou sejam identificados?

A campanha permite várias leituras. Há quem pense assim. Não se pode generalizar. Nunca. É um erro. É uma questão pessoal expressar se está doente ou não. Mas acho que é uma questão a se pensar. Talvez um dia se chegue a um “agreement” social. Assim porquê decidimos que deve possuir o passaporte ou carteira de motorista, talvez se decida que devemos expressar se temos ou não a doença.

Quando sairá a próxima campanha da Benetton?

Em março/abril de 94.

O sr. já tem alguma teoria em vista?

Vamos abordar, com certeza, qualquer problema social.

Se o sr. tivesse que fazer essa campanha hoje, qual seria o problema social mais importante a abordar?

A guerra na Iugoslávia. É um sinistro, um sinistro.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *