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Agora que já faz mais de um ano que assumi a tarefa de nascer toda semana na sua caixa de ingressão, custoso leitor, quero tentar estrear uma pequena tradição.
Lá na minha primeira edição, em janeiro do ano pretérito, indiquei filmes que “casavam” com indicados ao Oscar daquele ano. Faço cá o mesmo para a temporada atual, um tirocínio de buscar conexões, influências e diálogos com as obras consideradas uma vez que as melhores do ano por uma instituição importante —mas não absoluta, obviamente.
A cerimônia do Oscar acontece no domingo 10 de março, com transmissão ao vivo na TNT e na Max, a partir das 20h. Relembre os indicados cá.
“Oppenheimer” e “Vidas ao Vento”
Duas histórias contadas de lados opostos de uma mesma guerra, sobre homens de talentos extraordinários e obsessões com consequências inimagináveis.
No predilecto ao Oscar de Melhor Filme “Oppenheimer”, Christopher Nolan conta a história de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), o instituidor da arma mais poderosa e destrutiva que a humanidade já criou, e a relação conturbada que o investigador tem com o uso dela nas décadas que se seguem ao bombardeio de Hiroshima e Nagazaki.
Já “Vidas ao Vento”, animação de Hayao Miyazaki de 2013, segue o jovem Jiro Horikoshi, que sonha em voar e gerar os mais belos aviões. Em meio a um romance trágico e a escalada de acontecimentos que levaria à Segunda Guerra Mundial, Jiro precisa mourejar com o vestimenta de que suas criações serão usadas com o objetivo de tirar vidas.
“Oppenheimer”: disponível para aluguel em Amazon, Simples Video, iTunes e YouTube, 181 min.
“Vidas ao Vento” (“The Wind Rises”): Netflix, 126 min.
“Barbie” e “Duas Tias Loucas de Férias”
Não deixe o título truão em português afastá-lo de “Duas Tias Loucas de Férias”. O filme claramente é um cheque em branco oferecido a Kristen Wiig e Annie Mumolo, que além de estrelar e redigir levante filme foram responsáveis pelo sucesso “Missão: Madrinha de Enlace” (“Bridesmaids”, 2011), a rara comédia a receber indicações ao Oscar.
Assim uma vez que “Barbie”, o avassalador sucesso de Greta Gerwig sobre a boneca mais famosa do mundo em uma crise existencial, “Duas Tias…” se passa numa verdade colorida a alguns graus da nossa e tem um bonitão ingênuo (Jamie Dornan) responsável pelo melhor interlúdio músico do filme. Mas “Duas Tias…” tem uma “densidade cômica” ainda maior —taxa de piadas por minuto, por assim expor— e menos mensagens a transmitir.
Barb (Mumolo) e Star (Wiig) são duas melhores amigas de meia-idade que, posteriormente perder o ocupação, decidem tirar férias pela primeira vez. O sorte escolhido é a estância turística de Vista del Mar, na Flórida, onde tudo é belo e feliz. No entanto, lugar também é o intuito de um projecto maligno da vilã Sharon Gordon Fisherman (também Wiig).
“Barbie”: Max, 114 min.
“Duas Tias Loucas de Férias” (“Barb and Star Go To Vista del Mar”): Telecine, 107 min.
“Assassinos da Lua das Flores” e “Watchmen”
Já falei em várias outras edições sobre “Reservation Dogs” (Star+), logo considero essa indicação dada, e sugiro cá uma outra.
Por um momento, no meio de “Assassinos da Lua das Flores” —filme de Martin Scorsese sobre o “reino de terror”, período em que indígenas osage foram assassinados brutalmente por motivo de seus direitos sobre o petróleo encontrado em suas terras— alguns dos personagens assistem a um clipe de noticiário sobre o Massacre de Tulsa, que acontecia no mesmo estado de Oklahoma. É mais um evento vergonhoso da história dos Estados Unidos que seria esquecido e postergado dos livros de história por décadas.
Resumidamente: em maio de 1921, Greenwood, um bairro preto próspero de Tulsa, foi invadido, bombardeado e destruído por uma turba branca. Em menos 24 horas, centenas de pessoas foram mortas e quarteirões, devastados.
A audaciosa minissérie “Watchmen”, de Damon Lindelof, começa justamente recriando esses eventos. A partir daí, a história liga a legado do massacre ao mundo dos super-heróis desmoralizados da graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons por caminhos mais complicados do que cabe nesta newsletter. Basta saber que a série tem excelentes atuações de Regina King (“Se a Rua Beale Falasse”), Yahya Abdul-Mateen II (“A Mito de Candyman”) e Jovan Adepo (“Olhos Que Condenam”), e que vale muito a pena assisti-la.
“Assassinos da Lua das Flores” (“Killers of the Flower Moon”): AppleTV+, 206 min.
“Watchmen”: Max, nove episódios.
“Anatomia de Uma Queda” e “Saint Omer”
Você pode descobrir no blog Baú do Cinema outros filmes de tribunal para ver com “Anatomia de Uma Queda”, genial mistério de Justine Triet sobre uma mulher acusada da morte do marido.
Acrescento à lista “Saint Omer”, do ano pretérito, que também narra a história de uma mulher sendo julgada num tribunal galicismo. Neste caso, Laurence (Guslagie Malanda), uma imigrante senegalesa acusada de matar a própria filha de dois anos. Ramo (Kayije Kagame), uma escritora, acompanha o processo para adequar a história de Laurence em uma versão moderna de “Medeia”, mas sua própria relação com a maternidade entra no caminho.
“Anatomia de Uma Queda” (“Anatomy of a Fall”): em edital nos cinemas, 151 min.
“Saint Omer”: Telecine, 122 min.
O QUE ESTÁ CHEGANDO
As novidades nas principais plataformas de streaming
“Ficção Americana”
O Prime Video colocou no ar nesta semana sem muita cerimônia levante indicado a cinco Oscars que acabou de lucrar o Bafta de Melhor Roteiro Ajustado. Nele, Jeffrey Wright é Thelonius “Monk” Ellison, um romancista que, cansado de ver os outros lucrarem com histórias supostamente mais “negras” —de sofrimento, pobreza, violência—, usa um pseudônimo para redigir um livro do tipo e acaba encontrando o sucesso que nunca teve. Combina com “The Forty-Year-Old Version” (Netflix).
Prime Video, 117 min.
“Um Pequeno Obséquio”
Mistério dirigido por Paul Feig (“Missão: Madrinha de Enlace”) de 2018, que já entrou e saiu do streaming várias vezes, mas agora chega à Netflix. Stephanie (Anna Kendrick) e Emily (Blake Lively) são mães cujos filhos estudam juntos. As duas formam uma amizade que se aprofunda, até que Emily desaparece misteriosamente, e Stephanie passa a investigar o caso.
Netflix, 117 min.
“O Astronauta”
Há seis meses numa missão espacial distante, Jakub (Adam Sandler) descobre que seu tálamo com Lenka (Carey Mulligan), que ficou na Terreno, pode não sobreviver à jornada. Ele logo recorre à ajuda de uma estranha pessoa que encontra em sua nave, Hanuš, dublada em inglês por Paul Dano.
Netflix, 106 min.
“As Aventuras Inventadas de Dick Turpin”
Mais ou menos a história de um famoso bandoleiro inglês do século 18 que virou mito e tema de canções. Noel Fielding (“The Great British Bake-Off”) interpreta o charmoso bandido, que precisa enganar Jonathan Wilde (Hugh Bonneville, de “Downton Abbey”), o temido e corrupto Caçador de Ladrões.
AppleTV+, seis episódios. Dois estreiam nesta sexta (1º), e os demais, semanalmente às sextas.
“Priscilla”
Adaptação de Sofia Coppola da biografia de Priscilla Presley, ex-mulher de Elvis. Acompanha o romance entre os dois desde o início, quando ela, interpretada por Cailee Spaeny, era uma jovem vivendo numa base militar americana na Alemanha e ele (Jacob Elordi), um soldado.
Mubi, 113 min.
“O Regime”
Kate Winslet é a chanceler Elena Vernham, líder de uma ditadura moderna em crise. Isolada dentro do palácio, ela se torna cada vez mais paranóica e passa a incumbir somente num soldado, Herbert Zubak (Matthias Schoenaerts), que se torna uma espécie de Rasputin. Sátira escrita por Will Tracy (“O Menu”, “Succession”), com tons da obra de Armando Ianucci (“Veep”, “A Morte de Stálin”)
Max, seis episódios. Aos domingos, a partir do dia 3.
*Correção: A Netflix havia anunciado que “Drive My Car”, de Ryusuke Hamaguchi, entraria na plataforma em 11 de fevereiro, mas agora corrigiu a previsão para 18 de março.
VEJA ANTES QUE SEJA TARDE
Uma dica de filme ou série que sairá em breve das plataformas de streaming
“Chicago”
Adaptação do músico de Bob Fosse e Fred Ebb, estrelada por Renee Zellweger e Catherine Zeta-Jones —que ganhou o Oscar por sua Velma Kelly.
Na Netflix até o dia 15 de março, 113 min.
