A extensa e cansativa campanha de “Ainda Estou Cá” na atual temporada de prêmios excedeu expectativas ao não exclusivamente ocupar indicações ao Oscar de melhor filme internacional e atriz, para Fernanda Torres, uma vez que também à mais prestigiada de todas as categorias, a de melhor filme.
Das bocas dos atores Bowen Yang e Rachel Sennott, na manhã desta quinta-feira (23), saíram as frases que os brasileiros mais queriam ouvir nesta semana. Depois de confirmarem o que especialistas já davam uma vez que manifesto, porém, veio a maior surpresa da lista deste ano, com o brasiliano entrando na corrida principal
O longa enfrenta, no dia 2 de março, “O Brutalista”, “Conclave”, “Um Completo Ignoto”, “Anora”, “Wicked”, “Duna: Segmento 2”, “A Substância”, “Nickel Boys” e a maior pedra em seu sapato nesta temporada, “Emilia Pérez”, o predilecto na categoria de melhor filme internacional depois de ocupar 13 indicações.
É um feito com gostinho de ineditismo, apesar de não ser exatamente uma novidade. Olhando para os créditos de produção de todos aqueles já indicados ao Oscar de melhor filme, “O Ósculo da Mulher-Aranha” e “Me Chame pelo Seu Nome” representaram o Brasil em anos anteriores. Mas eles são, em origem, filmes americanos, falados em inglês, povoados por gringos.
“Ainda Estou Cá”, por outro lado, é um filme que o povo brasiliano pode invocar de seu. A França pode até ter entrado uma vez que coprodutora, mas seu diretor, seus protagonistas, seu linguagem e, mais importante, sua história, são intrinsecamente virente e amarelos.
O longa de Walter Salles trata de um dos capítulos mais sombrios dos livros de história, na ressaca da subida de um oração que rejeita os horrores da ditadura militar e, por tábua, tentou grudar a maior segmento do cinema vernáculo e a classe artística, exceto por produções uma vez que as do Brasil Paralelo, à pecha de inimigos da região.
Mas a presença do cinema brasiliano no Oscar prova sua qualidade e capacidade de encantar o mundo, coroando uma vaga de participações em festivais europeus em anos recentes —no último ciclo, com os diretores Karim Aïnouz e Marcelo Caetano, além da dupla Gabriela Carneiro e Eryk Rocha, por “Motel Tramontana”, “Baby” e “A Queda do Firmamento”, respectivamente.
Agora, a mensagem se amplifica, por fim o Oscar não se limita à bolha cinéfila. Mesmo figuras da direita que criticam os temas retratados no audiovisual brasiliano e o fado de recursos públicos a essa indústria se veem num dilema.
Para além da guerra ideológica que se instaurou no Brasil, as indicações desta semana também servem de injeção de otimismo num setor cambaleante desde a pandemia de Covid-19. As bilheterias de produções nacionais sofrem desde o termo da quarentena, o que que começa a ser revertido graças ao sucesso de “Ainda Estou Cá” e “O Auto da Compadecida 2” nesta viradela de ano.
As expectativas, agora, são de que o drama de Salles continue ampliando sua presença nas salas de cinema do país e conquistando mais espectadores até a cerimônia do Oscar. Espera-se ainda que o longa ajude a formar um público mais disposto a se ver nas telas, em detrimento dos enlatados estrangeiros que dominam as bilheterias. É uma tarefa difícil, mas a semente pode estar sendo plantada neste exato momento.
Para Torres, a indicação a melhor atriz ainda tem gostinho de revanche. Depois de 26 anos de “Médio do Brasil” desabrochar na lista de melhor filme em língua estrangeira e de sua mãe, Fernanda Montenegro, figurar na categoria de atriz, ela tem a chance de fazer justiça histórica levando o troféu para mansão.
Será uma guerra também árdua, mas não impossível. Torres já desbancou medalhões uma vez que Nicole Kidman, de “Babygirl”, Angelia Jolie, de “Maria Callas”, e Tilda Swinton, de “O Quarto ao Lado”. Agora sobraram Karla Sofía Gascón, de “Emilia Pérez”, Mikey Madison, de “Anora”, Cynthia Erivo, de “Wicked”, e Demi Moore, de “A Substância”.
Moore é seu maior tropeço. Para além da qualidade de seu trabalho, que exigiu coragem e comprometimento louváveis, ela se encaixa na jornada do herói de que os americanos tanto gostam. “É a primeira vez que ganhou alguma coisa”, disse ela ao receber o Mundo de Ouro, prêmio que coroou uma trajetória profissional desprezada por muitos que a viam uma vez que uma atriz de papéis fáceis e bobos.
No universal, o Oscar deste ano comprova uma tendência de se perfurar ao estrangeiro. “Ainda Estou Cá”, com suas três indicações, e “Emilia Pérez”, com suas 13, deixaram isso simples. Mas é preciso zelo ao falar desta internacionalização. Ela é limitada a poucos títulos que furam a bolha, caso desses dois, mas poderia ser mais ampla.
Havia, por exemplo, a indiana Payal Kapadia e o iraniano Mohammad Rasoulof, de “Tudo o que Imaginamos uma vez que Luz” e “A Semente do Fruto Sagrado”, respectivamente. Ela, uma novidade promessa, e ele, protagonista de uma fuga cinematográfica para tirar o longa do Irã. Seriam indicações digníssimas em melhor direção, que ao menos contempla dois franceses.
Já o espanhol Pedro Almodóvar teve o ótimo “O Quarto ao Lado”, principal vencedor do Festival de Veneza, esquecido em todas as categorias. Mesmo que seja um filme em inglês, com atrizes anglófonas, seu roteiro ajustado poderia ter sido lembrado, muito uma vez que o de Murilo Hauser e Heitor Lorega, premiados no evento italiano por “Ainda Estou Cá”.
Em documentário, o inventivo senegalês “Dahomey”, de Mati Diop, ficou de fora apesar de ter conquistado o Urso de Ouro em Berlim. Entre as canções originais, que não empolgam muito neste ano, Caetano Veloso poderia ampliar a presença brasileira com “Vaster than Empires”, de “Queer”, que ele não compõe, mas entoa.
Novamente, as indicações, em privativo as técnicas, se concentram no punhado de filmes que se sobressaíram nesta temporada, mesmo que outras produções menores tenham apresentado trabalhos mais originais em alas uma vez que direção de arte, efeitos especiais, som e por aí vai.
Mesmo o Brasil parece uma pane no sistema ao olharmos para o lado na categoria de filme internacional, preenchida com os europeus França, Alemanha, Dinamarca e Letônia.
É preciso seguir com atenção levante mês que separa as indicações da premiação. “Emilia Pérez” pode ser engolido por suas polêmicas e dar espaço para “Ainda Estou Cá”, por exemplo.
No cenário atual, porém, o Oscar vive uma lua de mel com o músico galicismo, muito uma vez que com “O Brutalista” e “Wicked”, que também despontam uma vez que favoritos com suas dez indicações cada.