Oscar: Conclave Vê Politicagem E Hipocrisia No Vaticano 22/01/2025

Oscar: Conclave vê politicagem e hipocrisia no Vaticano – 22/01/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Expelida lentamente pela chaminé da Capela Sistina, a fumaça que atualiza os fiéis sobre o curso da escolha de um novo papa é o único vislumbre que temos da reunião sigilosa que reúne cardeais da Igreja Católica sempre que um pontífice morre ou renuncia.

Foi por interesse nos pormenores deste encontro a portas fechadas que o responsável britânico Robert Harris escreveu “Conclave” há nove anos e que o cineasta teuto Edward Berger dirigiu o filme de mesmo nome, que chega nesta semana aos cinemas brasileiros.

A trama beatifica a politicalha ao levar para o Vaticano um universo sustentado por lobby, manobras, promessas e segredos. Porquê num intrincado jogo de xadrez, os clérigos em cena levam a polarização do mundo exterior à Basílica de São Pedro, enquanto tentam emplacar um candidato ou outro ao papado.

Nem sempre as peças são jogadas com destreza, porém. Há muita sujeira e hipocrisia em campanhas mais interessadas em perverter adversários do que em apresentar planos. Porquê num Donald Trump versus Joe Biden ou Jair Bolsonaro versus Lula, alas diametralmente opostas se enfrentam ferozmente –mas entram no jogo uma da outra quando convém.

“Qualquer religião tem a sua história entrelaçada à política. Neste filme, você pode ver nesses clérigos o revérbero dos nossos partidos políticos. Há diferentes interesses e visões, apesar de todos seguirem os mesmo princípios”, diz o ator Carlos Diehz.

Seu personagem, Benitez, é um misterioso cardeal mexicano, assinalado em sigilo pelo papa morto recentemente para comandar uma missão em Cabul, no Afeganistão. Sua chegada ao conclave gera dúvidas sobre a verdade de seu relato e a sanidade do ex-pontífice, que não contou a ninguém os motivos para nomear um clérigo sem renome ou influência para uma posição tão delicada.

O cardeal Thomas Lawrence, personagem de Ralph Fiennes, hesita a princípio, mas anuncia a ingressão do forasteiro na corrida eleitoral —todos ali podem ser votados, queiram eles ou não. Próximo do papa morto recentemente, o inglês quer uma Igreja oportunidade a mudanças, com um exposição menos pulidor em relação aos homossexuais e investigações robustas de crimes porquê os de pedofilia.

Seu candidato é o cardeal Bellini, vivido por Stanley Tucci, que logo no primórdio faz uma licença importante ao desistir a intenção de dar mais poder às mulheres na Igreja Católica. Elas são onipresentes naquele conclave, mas sempre num papel de submissão e silêncio, exceto quando Isabella Rossellini chega para roubar a cena porquê a mana Agnes.

Lawrence e Bellini querem reforma, mas para isso eles precisam vencer a trinca conservadora formada pelo americano Tremblay, o italiano Tedesco e o nigeriano Adeyemi, em rota para se tornar o primeiro papa preto –embora mais reacionário que a maioria ali reunida.

No conclave, um papa só é eleito depois que dois terços dos murado de século cardeais chegam a um nome em generalidade. Quando os números não batem, eles voltam ao isolamento para repensar seus candidatos, enquanto a chaminé da Capela Sistina expele uma fumaça escura.

Para prometer que a história seguisse os protocolos, Harris, ao redigir o livro, e Berger, ao encaminhar o filme, se cercaram de consultores, em privativo professores de universidades católicas de Roma. Sempre que uma situação inesperada ameaçava o conclave, especialistas entravam em cena para opinar.

Na trama, as campanhas políticas armadas pelos postulantes são chacoalhadas por acusações de quebra do celibato, artimanhas políticas para retirar o tapete dos colegas e pela inesperada ingressão de Benítez e Lawrence no páreo. Mesmo sem pedir votos, eles são vistos porquê uma opção firme num momento de crise na fé católica.

“Há um jogo de interesses que questiona o que valida uma pessoa, mesmo que repleta de falhas, a ocupar uma posição porquê o papado. Se você abraçar os seus pecados, mas ainda assim estiver comprometido com o bem-estar da sua comunidade, isso te desqualifica, de alguma forma? Nós não sabemos, mas esta é a pergunta que o filme faz”, diz Diehz.

Construído porquê um thriller político, o filme de Berger tensiona o testemunha com seus personagens desprezíveis, a influência de um mundo exterior radicalizado e as feridas de uma Igreja Católica desunida e debilitada, envolta numa história de crimes e doesto de poder.

“Nenhum varão são quer o papado”, admite um dos personagens a certa profundeza, mostrando os perigos que vêm com o missão –sejam eles causados por fatores externos ou gestados no íntimo do próprio ocupante do trono papal.

Porquê em seu filme anterior, Berger preza pelo esmero técnico, o que ajudou a catapultar “Conclave” na campanha pelo Oscar. Ele é hoje um dos principais candidatos em diversas categorias, de montagem a melhor filme, e deve repetir o prêmio que levou no Mundo de Ouro no dia 2 de março, arrematando melhor roteiro apropriado.

A câmera muitas vezes deixa os cardeais distantes, porquê pequenos pontos vermelhos oprimidos tanto pela riqueza arquitetônica da basílica, quanto pela presença sufocante do divino. Obras renascentistas e adornos em ouro lembram o testemunha que aquela ainda é, apesar de suas crises e de um mundo em transformação, uma instituição poderosíssima.

Diretor da versão de três anos detrás de “Zero de Novo no Front”, que levou quatro estatuetas do Oscar para moradia, Berger mais uma vez constrói uma história intrinsecamente europeia, mas que em suas críticas sociais a aproxima de temas universais. Cá, os podres poderes da Igreja levantam debates sobre moralidade, lealdade, idealismo e, simples, fé.

Criado católico, Diehz não acha que “Conclave” seja uma espécie de testamento do que um dia foi a Igreja, em toda a sua grandiosidade e exuberância. O filme representa o que a instituição ainda é, e acredita que há soluções no horizonte.

“Já tivemos São Francisco e Santo Inácio de Loyola, que em momentos de crise foram responsáveis por grandes reformas. Meu personagem, Benítez, é porquê eles. São figuras que mostram que os idealistas, aqueles leais a seus valores, ainda estão na Igreja, apesar de tudo.”

Folha

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