Comentar os looks de Fernanda Torres virou uma preocupação vernáculo. Na campanha de “Ainda Estou Cá” para o Oscar, em cada aparição a atriz desfilou um novo vestido ou combinação de peças minimalistas que eram dissecados pelos fãs do filme e pela prensa, de modo que agora a impaciência é grande para o que ela vai vestir na cerimônia do prêmio, marcada para o domingo.
Assim uma vez que o cinema, tendência é construção de imagem, e os looks da artista nas premiações e jantares, montados pelo stylist Antonio Frajado, transmitem uma mensagem não verbal tão poderosa para os fotógrafos uma vez que a atuação contida e de poucas palavras de Torres foi para os espectadores do filme de Walter Salles.
Tanto a atriz quanto seu stylist disseram em várias ocasiões que o seu visual não poderia ser maior do que Eunice, a personagem interpretada por Torres. Ele seria portanto desprovido de excessos, enfim o filme trata de uma tragédia —Eunice enfrenta a prisão e a morte de seu marido pela ditadura. Isso se traduziu em looks sóbrios, em preto, azul ou cores claras, que a atriz combinou com anéis ou brincos discretos.
Essa escolha faz segmento de uma tendência de tapetes vermelhos de não pensar exclusivamente nas roupas ou nas grifes, mas nos personagens e enredos dos filmes que os artistas estão divulgando ou concorrendo em premiações —o chamado “method dressing”.
Os maiores exemplos do uso dessa tendência nos últimos tempos foram as atrizes Margot Robbie e Zendaya. A primeira fez um desfile com a divulgação de “Barbie”, com seus looks rosa. Já a segunda furou a bolha cinematográfica e ajudou a impulsionar a tendência “tennis core”, que levou a estética das quadras de tênis paras ruas durante a divulgação do filme “Rivais”.
Outros signos usados por Torres indicam que ela adotou a linguagem da tendência falada por Hollywood e que todos esperam ver nos tapetes vermelhos. Modelos da Chanel, Burberry, Bottega Veneta, The Row e Phoebe Philo —essas duas consideradas o auge da elegância e da sofisticação, usadas por pessoas cultas—, além de um vestido da Dior desenhado só para ela, sinalizam sua posição ascendente de estrela internacional.
Com a improvável transformação da atriz em ícone fashion, ela foi convidada pela Chanel para ver da primeira fileira o desfile da marca na Semana de Voga de Subida-Costura de Paris, em janeiro, ocasião em que usou um vestido-casaco da maison, marca de luxo símbolo da França. À profundidade, já tinha sido premiada com o Orbe de Ouro de melhor atriz de drama.
Conseguir esse status parecia alguma coisa distante para uma atriz famosa até portanto por papéis de comédia desempenhados na TV —de Vani, de “Os Normais”, e Fátima, de “Tapas e Beijos”— e que não parecia ter uma relação íntima com a tendência. Em uma das entrevistas depois o Festival de Veneza, a atriz chegou a expor que seu trabalho depois de “Ainda Estou Cá” “virou maquiagem, cabelo e look”.
Para demarcar seu lugar, Torres e seu stylist fizeram mais escolhas estratégicas. Vale observar que ela só desfilou estilistas brasileiros em duas ocasiões e, em ambas, o filme estava no prelúdios de sua subida. Em setembro do ano pretérito, usou um vestido Alexandre Herchcovitch azul em Veneza, do qual o longa saiu com o prêmio de melhor roteiro. No Festival de Toronto, no mesmo mês, apareceu de vestido preto Reinaldo Lourenço.
Conforme o burburinho em torno do filme cresceu, o estilo da atriz se voltou totalmente para marcas internacionais, famosas no mundo todo, seja por quem compra tendência de luxo, seja por quem só deseja. As grifes, evidente, quiseram se associar a uma atriz de curso sólida, premiada, que fala várias línguas, escreve livros e não teme discutir a ditadura militar em entrevistas, indicando que apreciam vestir uma profissional também reconhecida por seu intelecto.
Ela passou ainda a exarar capas de revistas. Além da Vogue brasileira, Torres foi revestimento da The Hollywood Reporter, revista conhecida uma vez que uma dos principais nos Estados Unidos quando os assuntos são cinema e premiações uma vez que o Oscar. “Fernanda Torres já ganhou”, dizia o texto. A atriz ainda foi destaque na revista W Magazine, com recta a um experiência fotográfico elegante.
Sua subida fashion faz sentido levando em conta que as grifes de luxo precisam se vincular à arte e aos artistas para elevarem seus status de fazedores de roupa faceta para ricos a participantes do debate cultural do momento. Também tem lógica do ponto de vista de mercado, porque uma aparição de segundos no Oscar atinge muito mais público do que anos de desfiles em semanas de tendência.
Agora, às vésperas do prêmio sumo de Hollywood, Torres virou pequena propaganda da Arezzo, uma das maiores marcas de calçados e acessórios femininos da América Latina. Em paralelo, há uma grande expectativa a reverência do que a atriz vai vestir no Oscar, no próximo domingo.
Se for qualquer designer brasílico, ela vai ter que explicar de quem se trata, caso seja questionada sobre seu look por qualquer entrevistador no tapete vermelho —uma pergunta geral aos convidados da cerimônia. Caso opte, uma vez que tem feito, pelo visual assinado por alguma das casas que moldaram a história da tendência, todos saberão do que se trata.