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Muito para a minha surpresa, chegamos à terceira edição de uma tradição que inventei: a lista de filmes ou séries “que casam” com indicados ao Oscar da temporada atual, obras que compartilham conexões, diálogos e influências.
Trago hoje quatro filmes e uma minissérie que têm pontos em generalidade —alguns mais óbvios, outros menos— com os concorrentes à maior premiação do cinema mundial.
A cerimônia do Oscar acontece neste domingo (2), às 21h, e terá transmissão da TV Mundo, da TNT e da Max. Veja a lista dos indicados cá.
Conclave (2024) e A Conspiração (2000)
Conclave. Nos cinemas, 120 min. The Contender, À La Carte, 126 min.
Em procura de um bom paralelo a “Conclave”, o drama vaticano de Edward Berger —tão suculento que acabou indicado a oito Oscars apesar de não ser mais que adaptação de um daqueles livros que se compra no aeroporto, uma combinação de John Grisham e Dan Brown—, encontrei “A Conspiração”.
Escrito e dirigido por Rod Lurie, o filme retrata a pendência nos corredores do Congresso americano quando o presidente Jackson Evans (Jeff Bridges) indica à vaga de sua vice —o predecessor morreu há três semanas— a senadora Lanie Hanson (Joan Allen). No comando do processo de confirmação da indicação está Shelly Runyon (Gary Oldman, seboso porquê sempre), das quais predilecto é Jack Hathaway (William Petersen).
Há no meio disso tudo um escândalo sexual, reviravoltas de fazer ofegar e gargalhar, grandiloquentes discursos sobre o significado da democracia, das instituições americanas e do feminismo, além de ótimos atores a todo vapor —Bridges e Allen foram indicados a Oscars.
Anora (2024) e As Golpistas (2019)
Anora. Nos cinemas, 139 min. Hustlers. Disponível para aluguel em Amazon, Simples Video, iTunes e YouTube, 119 min.
O primeiro paralelo que vem à mente ao presenciar a “Anora” é, talvez, “Uma Linda Mulher” (1990, Disney+), outra história de uma profissional do sexo que se vê num relacionamento com um varão rico.
Mas o filme em que eu mais pensei enquanto via a história de Anora (Mikey Madison) é “As Golpistas” (2019), de Lorene Scafaria, fundamentado em uma reportagem da revista New York sobre uma gangue de dançarinas exóticas que drogavam e roubavam numerário dos clientes ricos que frequentavam uma mansão de striptease em Manhattan, posteriormente a crise econômica de 2008.
O longa de Scafaria, estrelado por Constance Wu (“Podres de Ricos”) e uma fantástica Jennifer Lopez, cuida melhor das dançarinas que retrata: a câmera sempre as enxerga porquê corpos inteiros e não exclusivamente suas partes mais provocantes, e a história trata delas porquê pessoas completas, e não circunstâncias.
Em generalidade, os dois filmes veem crimes com uma certa naturalidade permissiva, mas as golpistas de Scafaria estão no controle de sua situação, enquanto Anora é mais vitimizada. A seu obséquio, o filme de Sean Baker tem Madison, um talento explosivo que surpreende até quem, porquê eu, era fã de sua série “Better Things” (2016-2022, Disney+).
A Substância (2024) e Meu Eu do Horizonte (2024)
The Substance. Mubi e nos cinemas, 141 min. My Old Ass, Prime Video, 89 min.
Dois filmes da mesma temporada, escritos e dirigidos por mulheres, sobre encontrar-se com um outro eu.
Mas enquanto “A Substância”, da francesa Coralie Fargeat, se preocupa em escancarar (e levar aos seus limites mais sangrentos) o mau tratamento que a sociedade ocidental moderna dispensa às mulheres “mais velhas”, “Meu Eu do Horizonte”, da canadense Megan Park, segue caminho mais frágil, mostrando às duas versões de sua Elliott (Maisy Stella e Aubrey Plaza) o valor de viver o presente.
Também em generalidade, nem o chocante longa estrelado por Demi Moore —agora indicada (quiçá até vencedora) a um surpreendente Oscar de melhor atriz— e a ascendente Margaret Qualley, nem sua contraparte mais melancólica são tão profundos quanto parecem querer ser.
Ainda Estou Cá (2024) e Jackie (2016)
Ainda Estou Cá. Nos cinemas, 138 min. Jackie. Disponível para aluguel em Amazon, Simples Video, iTunes e YouTube, 100 min.
O repórter Daniel D’Addario, da revista Variety, ao comentar em um incidente de podcast o que esperava de “Ainda Estou Cá” só de ler a sinopse do filme disse: “Já sei, é ‘Erin Brockovich’“. Uma verificação meio torta, já que a heroína de Julia Roberts no filme de Steven Soderbergh (2000, disponível para aluguel) não tem a mesma conexão direta e familiar com o caso investigado que Eunice Paiva (Fernanda Torres), protagonista do filme de Walter Salles.
Considero mais apropriada uma verificação com “Jackie” (2016), de Pablo Larraín. Primeira segmento de sua trilogia sobre mulheres históricas em encruzilhadas pessoais, o filme traz Natalie Portman (indicada ao Oscar) porquê Jacqueline Kennedy nos momentos e dias que se seguem ao homicídio de seu marido, o presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy, num fatídico cortejo crédulo em Dallas, em 22 de novembro de 1963.
Tanto Jackie quanto Eunice são mulheres colocadas em situações dificílimas, tentando manter a compostura diante de olhares alheios (do povo americano, no caso de Jackie, do Estado militar brasílico, no caso de Eunice), proteger seus filhos, viver seus lutos e seguir suas vidas. Ambos os filmes são elevados por atuações impecáveis de suas estrelas.
O Reformatório Nickel (2024) e The Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade (2021)
Nickel Boys. Prime Video, 140 min. The Underground Railroad, Prime Video, dez episódios.
Eu ainda não pude ver “O Reformatório Nickel”, que chegou nesta quinta (27) ao Prime Video sem passar pelos cinemas brasileiros. Por isso, recorro cá a uma conexão um tanto óbvia, mas não menos relevante.
Tanto “O Reformatório Nickel” quanto “The Underground Railroad” são adaptações de obras vencedoras do Pulitzer escritas por Colson Whitehead. A primeira acompanha Elwood (Ethan Herisse), um promissor estudante preto que acaba recluso e sentenciado a um reformatório para menores de idade na Flórida, onde é claro de violência e racismo. O diretor RaMell Ross conta a história em primeira pessoa, com a câmera representando o ponto de vista de Elwood.
Já “Underground…” é uma minissérie escrita e dirigida por Barry Jenkins (“Moonlight”) que retrata a jornada de Cora (Thuso Mbedu), uma jovem escravizada no Sul americano que foge usando uma ferrovia subterrânea mantida por aliados da motivo negra e ex-escravizados.
Jenkins não usa a primeira pessoa, mas sua câmera representa o olhar preto sobre o qual ele diz nunca ser questionado. Em um curta (agora infelizmente indisponível) chamado “The Gaze”, o diretor coloca atores e figurantes de “Underground…” olhando diretamente para dentro da lente da câmera, vestindo o figurino e nas locações da série, de modo a gerar/recriar imagens perdidas de seus maiores em sua completa humanidade.
O QUE ESTÁ CHEGANDO
As novidades nas principais plataformas de streaming
A Vilã das Nove (2024)
Disney+, 104 min.
Roberta (Karine Teles) descobre que decisões do seu pretérito agora inspiram uma romance das nove em que ela é a vilã.
Carvão (2022)
Mubi. Estreia nesta sexta (28), 107 min.
Primeiro longa da diretora brasileira Carolina Markowicz, conta a história de uma família humilde que, precisando de numerário, aceita homiziar em sua mansão um traficante prateado. O filme estreia na Mubi porquê segmento da coleção Estranho Mundo Moderno: Filmes de Carolina Markowicz, mas também está disponível na Globoplay e no Telecine.
O Auto da Compadecida 2 (2024)
Prime Video. Estreia nesta sexta (28), 104 min.
Sequência um tanto desnecessária (e feia) do sucesso de 2000 fundamentado na peça de Ariano Suassuna. Mais de 20 anos posteriormente sua morte e ressurreição, João Grilo (Matheus Nachtergaele) retorna a Taperoá, reencontra Chicó (Selton Mello) e vira pivô de uma disputa política sítio.
A Dona da Esfera
Running Point. Netflix, primeira temporada, dez episódios.
Isla (Kate Hudson), única mulher entre os filhos da família Gordon, recebe o função de presidente do famoso time de basquete da dinastia, o Los Angeles Waves, depois que seu irmão é forçado a renunciar. Agora, ela terá que derrotar os duvidosos e provar que pode tocar o negócio da família.
Na Estrada com o Ex
The Road Trip. Paramount+. Estreia nesta sexta (28), seis episódios.
Numa viagem para um tálamo na Espanha, as irmãs Addie (Emma Appleton) e Deb (Isabella Laughland) se veem obrigadas a dividir o coche com o ex de Addie, Dylan (Laurie Davidson), o melhor camarada dele, Marcus (David Jonsson) e um estranho.
VEJA ANTES QUE SEJA TARDE
Uma dica de filme ou série que sairá em breve das plataformas de streaming
Monk (2002-2009)
Deixa a Netflix em 14.mar. Oito temporadas, 124 episódios.
O detetive privado Adrian Monk (Tony Shalhoub) ajuda a polícia a desvendar todo tipo de violação usando seus poderes de reparo e suas idiossincrasias.
