Nas tradições das religiões de matriz africana, porquê o candomblé e a umbanda, o axé é a força vital que permeia todos os seres vivos, os lugares e as coisas, manifestando-se com maior ou menor intensidade. O axé constitui os elementos da natureza e flui dinamicamente entre seres, objetos e encontros.
É necessário cuidar do axé, mantê-lo equilibrado e possante. Sua resistência depende de diversos fatores, porquê o tempo de vida, as condutas corretas ao longo da jornada e o tempo de entrega do Ori —a potestade pessoal que guia cada pessoa iniciada— ao orixá correspondente. Quando o axé se enfraquece, torna-se suscetível a ser subtraído, afetando diretamente a força vital.
Quando propício sem troca, um axé pode se diluir e a força se esvair rapidamente. A fagulha vital dura pouco fora de sua fluente de transmissão; as faíscas se dissipam e o axé, eventualmente, se apaga. No contexto brasílico, essa dinâmica reflete tristemente a exploração de conhecimentos tradicionais, mormente na história da farmacologia e da medicina.
Há pilares fundamentais para a manutenção de um axé possante. O primeiro é a conexão com a ancestralidade. A fluente de transmissão do axé acompanha gerações que vieram antes de nós e estava presente junto ao povo sequestrado e escravizado por séculos no Brasil. Mesmo sob vexação, o povo resistiu, mantendo viva a fé nas divindades.
Outro ponto necessário para o fortalecimento é a união comunitária necessária para sua geração, preservação e compartilhamento. O axé se constrói na interação de forças em comunidades comprometidas com o sagrado e com a celebração das divindades.
O axé está presente em toda a natureza e de cada folha pode ser tirado um poder de trato. Nesse contexto, Ossaim —também sabido porquê Ossanha— é o orixá das folhas, das ervas e dos segredos da trato, venerado porquê o guardião dos mistérios das vegetais medicinais e dos encantamentos. Sua sabedoria é crucial para as práticas de trato e para a confecção de amuletos e remédios nas religiões de matriz africana.
Segundo um de seus itãs, Ossaim detinha o conhecimento restrito sobre as folhas e suas propriedades curativas e não compartilhava essa sabedoria com os outros orixás. Sem as folhas, os orixás eram incapazes de realizar rituais de trato e proteção, o que gerava grande frustração.
Um dia, Xangô, o rei, decidiu que era necessário partilhar o poder das folhas entre os orixás. Ele consultou Exu, o orixá da notícia, para encontrar uma solução e, logo, contou com a ajuda fundamental de sua companheira Iansã, que provocou uma vento tão possante que espalhou folhas de Ossaim por toda a Terreno. Cada orixá conseguiu pegar algumas de suas folhas, apropriando-se de segmento do sigilo.
Apesar disso, Ossaim permaneceu o guardião do axé das folhas e qualquer ritual que envolva o uso de ervas demanda sua permissão e presença.
Esse itã ilustra porquê Ossanha, sabido por sua astúcia, discrição e independência, assume a premência de cuidar da natureza, protegendo-a contra a exploração desmedida. Ao mesmo tempo, permitir que segmento de seu sigilo fosse compartilhado era necessário para que mais pessoas pudessem acessar o poder curativo das folhas.
A folha que trato e a folha que mata podem ser a mesma, e tanto a ração porquê o modo de preparo fazem segmento da sabedoria dos povos negros e indígenas.
Uma vez que neta de benzedeira, que curava minhas náuseas com chá de boldo, valorizo tudo o que o orixá permitiu que os humanos soubessem. Ainda mais no nosso contexto histórico, que, durante o projeto solene de perseguição às religiões afro-brasileiras, criminalizou a prática do curandeirismo, vocábulo que se tornou pejorativa e foi associada a Ossaim.
Ao mesmo tempo, empresas farmacêuticas do Setentrião Global patentearam e lucraram com os princípios ativos de vegetais das matas brasileiras, valendo-se, em muitos casos, desse mesmo conhecimento que foi criminalizado. As empresas de cosméticos fizeram o mesmo, muito porquê outros segmentos da sociedade numulário.
Diante dessa insaciável inópia do poder colonial, Ossaim precisa ser estrategista e ninguém porquê ele sabe melhor proteger os segredos da natureza e dosar aquilo que a mata pode oferecer.
Para o muito do meio envolvente, há mistérios que devem permanecer mistérios.
Ewé, Ossaim!
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