Para Ney Matogrosso, o Brasil encaretou durante os últimos 50 anos. “Apesar da ditadura, tínhamos muito mais liberdade do que agora”, fala o cantor, que ficou famoso por seus figurinos extravagantes e voz aguda a partir de 1972, quando estreou porquê vocalista dos Secos e Molhados. “Mas eu não estou preocupado se são caretas ou não. Eu sigo fazendo a minha coisa porquê eu sei fazer.”
Um tradutor de grandes clássicos da música brasileira e performer amolado ao vivo, Matogrosso é tema de uma exposição oportunidade na sexta-feira (21) no Museu da Imagem e Som, em São Paulo.
Na primeira sala da mostra, dividida por décadas, há um grande telão exibindo o clipe de “América do Sul”. O clipe da filete mais famosa do primeiro álbum solo do artista, “Chuva do Firmamento – Pássaro”, de 1975, mostra Ney vestido porquê uma ave, cantando em seu timbre pessoal sobre a “força tropical” de seu continente.
O vídeo é um dos itens da exposição que mostram porquê Ney, hoje com 83 anos, trabalhou durante décadas com temas que continuam em discussão na sociedade brasileira. Em 2025, ele completa 50 anos de curso solo, durante os quais levou ao palco questões porquê o erotismo, a não-conformidade de gênero e o pertencimento do Brasil a uma identidade latina.
Ao palco porque, antes de tudo, a mostra faz questão de ressaltar que as apresentações ao vivo são os mais importantes momentos da curso do cantor. As quase 200 fotos na exposição mostram Ney se apresentando ao longo dos anos, desde as primeiras turnês com o Secos e Molhados.
Em agosto de 2024, ele fez o maior show de sua curso, se apresentando para mais de 40 milénio pessoas no Allianz Parque, em São Paulo. “A experiência foi interessante, mas eu não faria de novo. Sinto muita falta de ter contato próximo com o público”, diz o cantor.
“O Ney é um tradutor. Não era um rosto que ficava num estúdio gravando um tempão, o lance dele sempre foi fazer shows”, fala André Sturm, diretor-geral do MIS e curador da exposição. Segundo Sturm, a teoria de fazer uma exposição sobre Matogrosso surgiu da sua própria espanto pelo artista, e calhou com a invenção de que grande segmento de seu ror tinha sido doado ao Senac São Paulo.
Nascente ror era formado, principalmente, de roupas e acessórios que o cantor usou em suas muitas turnês. A indumentária ganhou uma sala dedicada exclusivamente a ela na exposição, com mais de 20 manequins vestindo figurinos icônicos de Ney.
Segundo o próprio artista, a teoria de investir em fantasias exuberantes para o palco surgiu de uma vontade de permanecer anônimo no início de sua curso no Secos e Molhados. “Eu achava que as roupas e as maquiagens criavam um personagem interessante pra eu transitar, mas também pra me proteger, porque eu ouvia manifestar que artista não podia marchar na rua”, fala.
Os figurinos continuaram quando Ney alçou voo solo, ora mais animalescos, porquê em “Chuva do Firmamento – Pássaro”, ora mais eróticos, porquê em “Bandido”, no ano seguinte. Seu quarto álbum, “Mandinga”, de 1978, teve o encarte proibido por conta de uma foto que mostrava o cantor nu.
Foi uma das muitas censuras que o cantor sofreu durante a estação do regime militar. Ele recebia cartas do Cenimar, o Meio de Informações da Marinha, para que “não se excedesse” publicamente, em shows e programas de TV.
O próprio pai de Ney Matogrosso era sargento do Tropa. O cantor deixou sua morada na cidade de Bela Vista, no Mato Grosso, aos 17 anos, porque o pai não aceitava que seu fruto fosse gay. Mais tarde, ele enfrentaria essa mesma homofobia na esfera pública. Num dos primeiros shows do Secos e Molhados, chegou a ser chamado de “bicha” pela plateia. Ao fazer o show que abriu o primeiro Rock in Rio, em 1985, foi branco de vaias e ovadas da plateia.
“Eu não sabia nem o que era ‘androginóide’ da primeira vez que me falaram”, diz o artista. “Mas eu sou aquilo, faz segmento de mim.” Durante o governo Bolsonaro, Matogrosso chegou a receber críticas por nunca ter levado a bandeira do movimento gay. “A bandeira sou eu”, ele respondeu às cobranças em entrevista na estação.
Apesar do estrelato, a vontade de permanecer relativamente anônimo que surgiu no prelúdios dos Secos e Molhados prevaleceu. O artista sempre foi extremamente privado a reverência de sua vida pessoal, mesmo quando viveu relacionamentos de cimeira interesse público, porquê seu breve namoro com Cazuza.
O público finalmente terá mais chance de saber um pouco de sua privacidade com o lançamento do filme “Varão com H”, que tem estreia prevista para maio de 2025 nos cinemas. Na cinebiografia, produzida pela Paris Filmes, Ney é interpretado por Jesuíta Barbosa.
“É um filme muito impactante. Nas duas vezes que fui ver, todo mundo no cinema chorava”, diz Matogrosso. “Tem muito matéria quebradiço ali, está tudo posto às claras.”
Na exposição do MIS, há uma pequena sala dedicada ao filme, com materiais de pesquisa que foram usados na concepção do roteiro e fotos de bastidores. Nas imagens, Matogrosso, que participou do longa, aparece sentado durante as filmagens e na companhia do diretor e roteirista Esmir Rebento. “A única exigência que eu coloquei [para o filme] é que não poderiam mentir ao meu reverência. Tudo o que está ali no cinema é verdade”, fala o cantor.
Primoroso com a curso, o artista também fez algumas sugestões quando visitou a exposição pela primeira vez, antes de sua franqueza. “Eu queria colocar ele cantando ‘Pro Dia Nascer Feliz’, porque acho incrível a tradução dele. Ele perguntou se poderíamos colocar um vídeo ao vivo específico e conseguimos encontrar”, fala André Sturm. “Ele também escolheu que a cantiga de franqueza da exposição seria ‘Yolanda’, e fez algumas correções no figurino.”
Para Sturm, a força motriz da exposição era discutir porquê Ney Matogrosso, apesar de poder ter sido disposto em tantas caixas, é um artista inclassificável. “Ele tinha tudo pra ser carimbado, mas ele conseguiu fugir de todos os rótulos, se colocar porquê um artista popular. Que aparecia em televisão, em meio desimpedido, cujos shows enchiam de pessoas de todas as origens.”
Em seus 50 anos de curso solo, Ney Matogrosso foi capaz de erigir sua relevância em temas até hoje delicados com completa espontaneidade. Talvez por naturalidade, talvez por simples naturalidade, ele resume: “São coisas que fazem segmento do meu universo.”