Do barro ao computador. É ampla a gama de assuntos do próximo Quadro da Arte Brasileira, tradicional exposição que ocupa a cada dois anos o Museu de Arte Moderna de São Paulo com a proposta de mapear a produção contemporânea pátrio no campo das artes visuais.
Na lista de participantes da edição de número 38 do quadro, divulgada nesta quarta-feira (27), há artistas que usam a terreno para fazer as suas tintas, uma vez que Maria Lira Marques e Marlene Costa de Almeida, e outros que se valem do barro para produzir objetos, uma vez que Rabi Nascido, um artesão pernambucano divulgado por seus instrumentos de sopro de cerâmica.
A fardo de tradição destes artistas vai dividir o espaço expositivo do museu com o futurismo de Gabriel Massan, responsável por fabricar imagens 3D e jogos de videogames onde habitam criaturas meio fofas, meio asquerosas. Com menos de 30 anos, o carioca já está no auge —criou o cenário em que Madonna canta a tira “Bedtime Stories” na turnê que chega ao Rio de Janeiro em maio.
Germano Dushá, um dos organizadores do quadro junto com Thiago de Paula Souza e a adjunta Ariana Nuala, afirma que a exposição pretende pensar “uma vez que artistas de contextos e práticas tão diferentes podem comungar de uma mesma pujança”.
O trio selecionou 34 participantes de 16 estados, contemplando todas as regiões brasileiras, para dar conta da temperatura da arte pátrio. O grupo tem ampla tira etária, com pessoas nascidas nos anos 1940 e outras jovens, nascidas na dezena de 2000.
Intitulada “1000º”, ou milénio graus, a mostra, que começa em 3 de outubro e se estende até janeiro do próximo ano, “dá a teoria da temperatura máxima, de situação extrema, vendo o que está urgente no país”, afirma Dushá. De tão intensa, a fervura nesta temperatura derrete qualquer material, e o trio de organizadores quer ver o que surge a partir daí, uma vez que uma coisa pode se transformar em outra.
É a teoria de um elemento virar um tanto que ele não era antes, seja de forma física ou invisível, argumenta Souza, o outro organizador. O concepção parece um pouco etéreo, mas faz sentido numa mostra que tem no elenco Dona Romana, uma líder místico de Tocantins que não se considera artista. “Ela é uma sacerdotisa, trabalha uma vez que um conduto entre mundos”, afirma Nuala.
Neste caldeirão entram também alguns nomes menos ousados, por assim expor, uma vez que a escultora e pintora Solange Pessoa e o pintor Lucas Arruda, ambos reconhecidos por instituições e muito valorizados pelo mercado. Há ainda um meneio à Bienal de Veneza, com a seleção de Joseca Yanomami, artista que estará na mostra principal da exposição italiana, a partir de abril.
Haverá ainda a apresentação de performances, para as quais foram chamados os artistas Rafael RG, Davi Pontes e o coletivo Mexa, nascido há quase uma dezena a partir da união de um artista e de uma travesti cadeirante que estava em situação de albergue.
O Quadro da Arte Brasileira vai ocupar todo o MAM —as duas salas expositivas, o auditório, a parede no galeria e o jardim de esculturas— com obras em sua maioria inéditas e feitas sob encomenda para a mostra.
Os trabalhos devem ser expostos uma vez que se compusessem a estrutura do espaço, sem muitas divisórias, favorecendo o atrito entre obras de técnicas e temáticas tão díspares.
Artistas participantes do 38º Quadro da Arte Brasileira
- Adriano Amaral (SP)
- Advânio Lessa (MG)
- Ana Clara Tito (RJ)
- Antonio Tarsis (BA)
- Davi Pontes (RJ)
- Dona Romana (TO)
- Frederico Filippi (SP)
- Gabriel Massan (RJ)
- Ivan Campos (AC)
- Jayme Fygura (BA)
- Jonas Van & Juno B. (CE)
- José Adário dos Santos (BA)
- Joseca Mokahesi Yanomami (RO)
- Labō (PA) & Rafaela Kennedy (AM)
- Laís Amaral (RJ)
- Lucas Arruda (SP)
- Marcus Deusdedit (MG)
- Maria Lira Marques (MG)
- Marina Woisky (SP)
- Marlene Costa de Almeida (PB)
- Melissa de Oliveira (RJ)
- Rabi Nascido (PE)
- MEXA (SP)
- Noara Quintana (SC)
- Paulo Nimer Pjota (SP)
- Paulo Pires (MT)
- Rafael RG (SP)
- Rebeca Carapiá (BA)
- Rop Cateh – Psique pintada em Terreno de Encantaria dos Akroá Gamella (MA), em colaboração com Gê Viana (MA) e Thiago Martins de Melo (MA)
- Sallisa Rosa (GO)
- Solange Pessoa (MG)
- Tropa do Gurilouko (RJ)
- Zahy Tentehar (MA)
- Zimar (MA)