A 38ª edição do Quadro da Arte Brasileira, evento realizado a cada dois anos pelo Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, pretende discutir, apresentar e festejar, neste ano, a pujança dos encontros. Para isso, o título escolhido para a edição deste ano foi 1000º [Mil Graus].
O título é referência a uma gíria brasileira, “milénio intensidade”, que é usada para definir um tanto ótimo ou que esteja “fervilhando”, porquê disseram os curadores. Oriente não é, porém, o único significado provável e a sentença também está associada ao sentido de transformação, transmutação ou de passagem de um estado bruto para outro.
“Esta gíria, que é muito usada na periferia e nas ruas de São Paulo, tem uma anfibologia. Significa tanto uma coisa incrível porquê também uma situação que pode ser meio tensa. E é esta anfibologia que nos interessa”, disse Germano Dushá, um dos curadores do evento, junto com Thiago de Paula Souza e Ariana Nuala.
A teoria, segundo os curadores, é imaginar uma temperatura máxima que possa ser intransponível, capaz de liquidificar e transformar qualquer material existente. “Essa temperatura não existe na ciência, mas seria uma teoria nossa: assim porquê tem o zero integral, teria também o quente integral, o calor totalidade, o calor limite. Queremos evitar um pensamento maniqueísta, muito fácil, mesmo em uma abordagem sobre a crise climática, porque entendemos as coisas porquê uma interconexão mais complexa. Ou por outra, esse 1000º não é só calor atmosférico ou climatológico e também pode ser um calor místico, um calor subjetivo, um calor metafísico e poético”, acrescentou Dushá, em entrevista à Sucursal Brasil.
O noção criado pelos curadores do evento procura mostrar que as condições e situações extremas podem colocar as pessoas diante das mudanças porquê um rumo inevitável, urgente e subitâneo. “Esta é uma vocábulo que também remete ao sentido de temperatura máxima, de temperatura elevada, de um tanto que, pela própria existência, acaba meio que se transmutando, precisa de uma transformação para viver. Estamos falando de um lugar muito específico onde a própria material, os próprios corpos, estariam dentro de um processo de transmigração”, reforçou Ariana.
Para a curadora, essa relação de transformação tem a ver com um lugar que, obviamente, rebate por questões ecológicas e rebate também por uma relação místico. “Não é só simplesmente a material ali em estado bruto e porquê ela se transforma, é um lugar em que essa colisão fervilha, muda tudo de uma maneira também cosmológica.”
Seleção
Para a edição deste ano do do Quadro da Arte Brasileira, foram selecionados artistas de vários estados brasileiros. A lista é composta por Adriano Amaral, Frederico Filippi, Lucas Arruda, Marina Woisky, MEXA, Paulo Nimer Pjota, Rafael RG, de São Paulo; Advânio Lessa, Marcus Deusdedit, Maria Lira Marques e Solange Pessoa, de Minas Gerais; Ana Clara Tito, Davi Pontes, Gabriel Massan, Laís Amaral, Melissa de Oliveira e Tropa do Gurilouko, do Rio de Janeiro; Antonio Tarsis, Jayme Fygura, José Adário dos Santos, Rebeca Carapiá, da Bahia; Dona Romana, do Tocantins; Ivan Campos, do Acre; Jonas Van & Juno B, do Ceará; Labō, do Pará; & Rafaela Kennedy, do Amazonas; Marlene Costa de Almeida, da Paraíba; Rabi Nato, de Pernambuco; Noara Quintana, de Santa Catarina; Paulo Pires, de Mato Grosso; e Sallisa Rosa, de Goiás. Do Maranhão, os curadores selecionaram Rop Cateh – Espírito pintada em Terreno de Encantaria dos Akroá Gamella – em colaboração com Gê Viana e Thiago Martins de Melo –, Zahy Guajajara e Zimar.
A seleção é plural e diversa, formada por artistas individuais ou coletivos, de diversos povos, contextos ou regiões brasileiras, que abordam desde temas históricos, tecnológicos, sociopolíticos e ecológicos até questões espirituais. Essa pluralidade também se manifesta nas práticas e experimentações artísticas que vão desde o uso do barro ou de saberes tradicionais até a manipulação de novas mídias, linguagens e tecnologias para as criações. “São esses diferentes caminhos sobre os quais estamos interessados em trabalhar nesse Quadro”, disse Nuala.
E, porquê resultado desse encontro de artistas, contextos e materiais tão diversos poderão surgir a pujança e as discussões pretendidas pelos curadores. “Fomos buscar na pluralidade um país muito multíplice, com dimensões continentais e todas as questões de formação cultural”, ressaltou Dushá. “[Queremos observar como] tal pujança pode se manifestar em contextos, pesquisas, práticas e modos de pensar e de viver muito distintos. Estamos interessado na pujança do encontro.”
Retrato provisória
O objetivo da curadoria foi buscar a multidimensionalidade da produção artística contemporânea brasileira, partindo da certeza de que seria impossível traçar um quadro exato da arte brasileira. Por isso, um dos curadores definiu o evento porquê uma “retrato ou retrato provisório” do país.
“Um pouco do processo curatorial é tentar colocar esses artistas em relação e ver o que acontece disso. De alguma maneira, isso pode ser um espelho do Brasil. Existem diferentes posições, diferentes perspectivas que estão no território em que nascemos. Esse encontro pode ser generativo, mas também pode produzir choques e desconfortos. A teoria é também mourejar um pouco com esses desconfortos. Não é um projeto que simplesmente celebra uma teoria de Brasil. Há vontade de refletir e de fazer um recorte muito específico, mas não definitivo [sobre a arte brasileira]”, descreveu Souza.
Para Dushá, é impossível traçar um quadro sobre a arte brasileira. “Dito isso, a gente tenta ser o mais plural e interseccional provável. Abrimos para múltiplas práticas artísticas, mas também flexionamos as várias fronteiras disso, abarcando pessoas que nem se consideram artistas. Queremos ver que tipo de atrito ou que tipo de encontro [resultará desse processo]”, acrescentou.
Além da exposição
O Quadro da Arte Brasileira pretende também se expandir além da mostra expográfica, afirmam os curadores. Eles querem que o evento abarque outras manifestações artísticas porquê performances, teatros e danças, e preveem o lançamento de um catálogo sobre a exposição. “Também pensamos uma exposição que fosse dilatável e pluridisciplinar. Logo vai ter esse envolvente expositivo muito intenso, mas pretendemos ter também performances e ações ao longo da mostra”, disse Dushá.
“Queremos fazer uma experiência do dedo, ou seja, quase porquê se estivéssemos em outra sala, para além do espaço físico, onde alguns dos artistas pudessem participar tanto com obras digitais quanto com pensamentos de transliteração de obras materiais. Acreditamos muito na exposição, mas pensamos que, porquê fenômeno e evento cultural, o Quadro poderia sobrevir de modo alargado, além dos confinamentos do museu e do calendário da exposição”, acrescentou o curador.
A mostra terá início no dia 3 de outubro e se estenderá até 26 de janeiro de 2025.
Mais informações sobre o Quadro da Arte Brasileira podem ser encontradas no site do museu.